Massacre em Suzano

Bullying é fator em mais da metade dos ataques no Brasil

Especialistas dizem que intimidação não pode ser tratada como única causa

Por Litza Mattos
Publicado em 14 de março de 2019 | 03:00
 
 
 
normal

Nos últimos 17 anos, cerca de dez casos de ataques a escolas foram registrados no Brasil. Em mais da metade deles, as investigações mostraram que os agressores sofriam com o bullying no ambiente escolar. No caso do massacre desta quarta-feira (13) em Suzano, que se tornou o terceiro maior do país, a mãe de Guilherme Taucci de Monteiro, 17, um dos atiradores, afirmou que o filho parou de estudar por causa das provocações sofridas.

A antropóloga especialista em bullying Cleo Fante diz que essa forma de perseguição não pode ser apontada como única responsável pelas tragédias, pois esse comportamento costuma estar associado a inúmeros fatores. Segundo ela, existem diversos sinais que a pessoa pode apresentar antes de chegar a esse extremo, mas família e escola nem sempre estão preparadas para identificar. Distanciamento social, isolamento, queda no rendimento escolar, alterações de humor, distúrbios alimentares e depressão são alguns sintomas. “Quando se é exposto de forma humilhante em um grupo, há a possibilidade de que o indivíduo venha a conceber ideias de vingança”, diz.

Também chama a atenção o fato de que os últimos massacres tenham sido planejados e executados por homens. Para a psicóloga Maria Tereza Maldonado – autora do livro “Bullying e Ciberbullying: O que Fazemos com o que Fazem Conosco?” –, “vivemos em uma sociedade em que a construção da masculinidade está muitas vezes associada à demonstração de força por meio da agressividade e da violência”.

Maria Tereza cita as redes de ódio na internet. “É um fenômeno assustador. Tem muita gente entrando nessa, de forma que o ódio vai sendo alimentado e nutrido dentro da pessoa como um caminho de vida e uma maneira de resolver as frustrações e os problemas”, diz.

A psiquiatra e psicanalista do Departamento de Psiquiatria da Unifesp Sara Mota Borges Bottino pesquisou a prevalência do ciberbullying em uma escola pública de São Paulo e identificou que, em um universo de 80 alunos entre 12 e 17 anos, 80% acessavam a internet todos os dias. “Cerca de 39,7% tinham feito ciberbullying, 43,4% tinham sofrido e 24% eram agressor e vítima ao mesmo tempo. Quem sofre tem quatro vezes mais chance de realizar o ciberbullying”, diz.

No segundo estudo, Sara avaliou o impacto desses ataques na saúde mental dos adolescentes. “Os agressores têm mais dores de cabeça, não se sentem seguros na escola, têm mais problemas de conduta, hiperatividade, tabagismo e embriaguez frequente e comportamento social reduzido”, diz.

 

Crime remete a casos dos EUA

São Paulo. Embora não haja uma definição precisa de massacres em massa com armas de fogo, há um consenso de que os Estados Unidos são o país com a maioria dos crimes desse tipo no mundo, de acordo com a emissora CNN. Muitas das vítimas são crianças e adolescentes, mortas ou feridas em horário de aula.

A rede BBC noticiou que o ano passado foi o mais mortal em relação a ataques a tiro em escolas, com 113 vítimas. Segundo levantamento do canal Fox News, entre maio de 2017 e maio de 2018, foram 15 ocorrências em instituições de ensino primário e médio no país, como o que aconteceu nesta quarta-feira em Suzano.

O crime no Brasil traz à memória o massacre da escola de ensino médio Columbine, no Colorado, em 1999, que entrou para a história como marco desse tipo de violência. Foram 13 vítimas no crime que inspirou até um filme, “Elefante”, do cineasta Gus Van Sant. Em 20 de abril de 1999, os adolescentes Eric Harris, 18, e Dylan Klebold, 17, mataram 12 colegas e um professor antes de se suicidarem.

 

Bolsonaro presta condolências

No Twitter, o presidente Jair Bolsonaro classificou o episódio como uma “monstruosidade e covardia sem tamanho”. “Presto minhas condolências aos familiares das vítimas do desumano atendado (sic) ocorrido hoje na Escola Professor Raul Brasil, em Suzano, São Paulo. Uma monstruosidade e covardia sem tamanho. Que Deus conforte o coração de todos!”, afirmou. Na mesma rede social, o vice-presidente, Hamilton Mourão, se declarou “profundamente entristecido com a ocorrência da tragédia com vítimas inocentes”.

 

Imprensa internacional noticia

O ataque à escola em Suzano ganhou rapidamente os sites dos principais jornais e emissoras de TV do mundo. A rede britânica BBC, além de noticiar o fato, lembrou do massacre de Realengo, em 2011, e destacou que o presidente Bolsonaro “assinou um decreto que torna mais fácil para os cidadãos cumpridores da lei terem uma arma”. O francês “Le Figaro” afirmou que ataques em escolas são raros no Brasil, mas destacou que o país está entre os que mais sofrem com violência envolvendo arma de fogo.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!