Pandemia

Coronavírus: Fortaleza começa dia de regras mais rígidas com congestionamento

Bloqueio de praças e interdição de ruas estão entre as estratégias da capital do Ceará contra a Covid-19

Por Folhapress
Publicado em 08 de maio de 2020 | 18:07
 
 
 
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A capital cearense iniciou nesta sexta-feira (8) o isolamento social mais rígido, com bloqueio de praças e parques, e interdição de faixas nas ruas. Entre as principais medidas estão o controle na entrada da cidade e nas principais avenidas, onde motoristas são parados para apresentar justificativas para estarem na rua.

Pela manhã houve congestionamento em algumas avenidas com os bloqueios montados. Num primeiro momento, policiais, guardas municipais e homens da AMC (Autarquia Municipal do Trânsito) tem orientado as pessoas, principalmente ao uso da máscara, que desde quarta (6) é obrigatório em todo o estado.

Apesar do centro mais vazio na manhã desta sexta, além de calçadões e praias impedidas de uso, a preocupação da prefeitura é com as áreas mais periféricas, que insistiam em manter comércio não essencial aberto. A fiscalização nessas regiões será maior, segundo a prefeitura.

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O decreto também prevê que pedestres sejam abordados –há liberação apenas para sair caso precisa trabalhar em algumas da áreas essenciais liberadas, para ir ao mercado ou farmácia e, claro, unidades de saúde. Há proibição de acesso às praias, calçadões, parques e praças.

A preocupação no Estado é com a lotação na rede hospitalar para pacientes que têm o quadro agravado da Covid-19. O Ceará, assim como Pernambuco, Rio de Janeiro, Amazonas e Roraima, estão com mais de 90% de ocupação de leitos de UTI.

O Ceará registra 966 mortos pela Covid-19, com 14.956 casos confirmados da doença. A maioria dos óbitos (741) ocorreu na capital, que registra 10.348.

Com o aumento de mortes, câmaras frigoríficas foram instaladas perto de unidades de saúde para armazenar corpos. Diante da escalada de óbitos, a Prefeitura de Fortaleza diz que trabalha para duplicar vagas nos cemitérios públicos da cidade.

Há preocupação com os casos e mortes na periferia da capital já que os três bairros com mais óbitos, Vicente Pinzón, Barra do Ceará e Cristo Redentor, ficam em regiões mais pobres.

Em meio à pandemia, também é presente erros e falta de comunicação com familiares dos mortos. Francisco Anastácio de Lima ficou internado por 18 dias em um hospital particular de Fortaleza até morrer na madrugada de 19 de abril, segundo o atestado de óbito por problemas cardíacos decorrentes da Covid-19.

Aos 70 anos, e diabético, Lima era do grupo de risco. O drama de sua família, porém, continuou após sua morte. O corpo de Lima foi trocado ao deixar o hospital e levado para o cemitério errado –ele acabou enterrado duas vezes no mesmo dia.

O procedimento para o transporte e enterro de pessoas que morrem da Covid-19, ou com suspeita caso o exame ainda não tenha ficado pronto, é complexo. Não há reconhecimento direto de familiares, que na maioria dos casos por segurança estão há dias sem ver o parente internado infectado pelo novo coronavírus.

"A identificação do falecido é responsabilidade das unidades de saúde e hospitalar, devendo também fazer constar a informação relativa a risco biológico. Orientamos as empresas [funerárias] que o corpo deve ser acondicionado em saco impermeável à prova de vazamento e selado, e se possível em dupla embalagem impermeável, devendo a superfície externa do saco desinfetada com álcool a 70%", disse Vicente Miguel Jales, vice-presidente do sindicato de funerárias do Ceará.

O saco selado, que não permite ver o rosto do morto, faz com que a chance de uma troca de corpo aumente. Lima, que era engenheiro aposentado do Banco do Brasil, morreu na madrugada de 19 de abril quase ao mesmo tempo que o também aposentado Carlos Alberto Viana, 76. Viana também estava com a Covid-19.

"A família do Francisco não pôde ver o corpo e ficou esperando ele ser liberado. Um outro carro funerário acabou saindo, e nada do corpo de Francisco sair. Um amigo já estava no cemitério Parque da Paz, onde seria o enterro, e com a demora o cemitério disse que o horário ficaria apertado. Foi quando questionaram o hospital e souberam da troca. O corpo de Francisco foi levado a outro cemitério e enterrado por outra família, de Carlos Alberto Viana", disse a advogada Laciana Lacerda, que representa a família de Lima.

O primeiro enterro de Lima foi acompanhado pela família de Viana, no cemitério Jardim Metropolitano, a 12 km do Parque da Paz onde Lima deveria ser enterrado. Após o hospital confirmar o erro, o amigo da família de Lima foi até o Jardim Metropolitano, mas a família de Viana já tinha ido embora e o corpo de Lima já estava sendo removido de volta ao hospital.

"Ele foi retirado da cova. Quando o corpo voltou para o hospital, uma familiar, que é da área da saúde, foi fazer o reconhecimento já que houve o erro. Ela se paramentou toda para evitar a contaminação. A esposa de Lima tem 63 anos, é grupo de risco, e o filho também por ter uma doença renal crônica, eles não poderiam fazer esse reconhecimento. A situação toda foi um erro grave", disse Lacerda.

A família de Viana já estava em casa quando foi avisada, por telefone, do erro. Tiveram que voltar ao hospital e depois ao cemitério para enterrar Viana, desta vez da maneira correta. Quase ao mesmo tempo os familiares de Lima o enterravam no Parque da Paz.

Procurada, a direção do hospital Monte Klinikum informou que lamenta o ocorrido e informa que prestou assistência às famílias. O cemitério Jardim Metropolitano foi procurado mas não atendeu a reportagem. A família de Lima estuda se vai processar o hospital.

Segundo Vicente Jales, dobraram os sepultamentos nos meses de março e abril no Ceará, segundo levantamento do sindicato. Jales disse que há uma boa rede funerária e de cemitérios em Fortaleza, o que evitou até o momento um colapso.

São cinco cemitérios públicos na capital e 12 privados contando a região metropolitana.

"Os enterros aumentaram. Há cemitérios que enterravam quatro, cinco pessoas, hoje enterram dez ou 12, outro que enterrava 15 está enterrando 25, 30, Mas está sob controle porque a rede em Fortaleza é boa", disse Jales.
O cemitério do Parque Bom Jardim, por exemplo, tem média de 15 sepultamentos por dia, e a prefeitura quer dobrar esse número.

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