Sugerido como obrigatório na proposta do Ministério da Educação para o novo ensino médio, enviada à Casa Civil nesta sexta-feira (22), o ensino da Língua Espanhola é visto como desnecessário por especialistas. Na visão do especialista em Educação da UFMG Cláudio de Moura Castro, aprender Espanhol é um diferencial apenas para quem tem interesse na língua. 

“Eu digo isso de uma posição muito confortável, porque eu falo Espanhol fluentemente, dou aula, faço conferência. Mas eu acho que não precisa ser obrigatório. É uma língua que muitos entendem. Quem quer aprender um pouco mais faz, quem não quer não faz”, diz.

Segundo Castro, o Inglês, com um ensino mais dedicado e de qualidade, seria muito mais importante para se aproximar dos sistemas de ensino de outros países de língua não inglesa. “Na Dinamarca, se você está na rua e quer saber onde que é qualquer coisa, se você chegar e perguntar ‘do you speak english?’, é considerado uma ofensa, você está perguntando se a pessoa é ignorante, porque todo mundo fala Inglês”, exemplifica. 

O acréscimo de Espanhol é uma das mudanças propostas pela pasta para o novo ensino médio. Entre as mudanças que aparecem na minuta do projeto estão ainda alterações na carga horária de ensino, no ensino a distância e na estrutura dos percursos de aprofundamento. As alterações na lei precisam ainda ser analisadas pelo Congresso. A expectativa é aprová-las ainda este ano e aplicá-las no ano letivo de 2025.

Modelo também é alvo de crítica

Para Castro, a reforma do ensino médio é importante, porém, o foco dessa mudança deve estar no peso que se dá aos conteúdos das trilhas de ensino. “A grande crítica a esse modelo é que teria que ter mais peso nos itinerários. A parte geral ficou grande demais. Tinha que ter mais conteúdo opcional, mais peso nessas vertentes e menos naquilo que todo mundo tem que fazer. Porque, senão, você termina só com uma perfumaria no fim”, diz, criticando o fato de que tanto o modelo atual quanto a nova proposta oferecem uma carga horária alta para os ensinos obrigatórios a todos os alunos, o que não difere tanto do ensino anterior. 

O especialista explica que, até a década de 90, o modelo de ensino era parecido com o aplicado por diversos países e previa uma abertura do leque de escolhas quando o aluno chegava ao ensino médio. Depois, o sistema mudou e virou uma grade fixa para todos os alunos, até o fim dos estudos. “O Brasil criou o pior sistema do mundo com um currículo único e uma escola única”, critica.

Para ele, o sistema, aprovado ainda no governo Temer e que voltou a ser bifurcado, com caminhos diversos, corrigiu o defeito da grade única. “Não ficou perfeito porque a parte comum a todos ainda ficou muito grande. Além de uma série de outros defeitos”, diz. Segundo Castro, outro defeito corrigido pelo modelo atual foi a questão do ensino técnico: antes, para o ensino técnico, o aluno deveria estudar 1.000 horas a mais. Ponto que também é corrigido na nova proposta do MEC.

Confira as mudanças

De acordo com o texto enviado, a carga horária mínima das disciplinas tradicionais, chamada de Formação Geral Básica, deve ser ampliada para 2.400 horas (ao longo dos três anos do ensino médio). Isso significa uma ampliação do tempo dedicado a essas disciplinas - de 60% para 80%, quando considerada uma carga horária de 3.000 horas ao longo dos três anos. Essas 3.000 horas também mudarão progressivamente. A carga horária total saltará de 1.000 para 1.400 horas anuais, totalizando 4.200 ao longo dos três anos.

As disciplinas que compõem a formação geral são: língua portuguesa e suas literaturas, línguas estrangeiras, com obrigatoriedade da língua inglesa e da língua espanhola, arte, em suas múltiplas linguagens e expressões, educação física, matemática, história, geografia, sociologia e filosofia, física, química e biologia.

O texto prevê ainda que os agora chamados “Percursos de aprofundamento e integração de estudos” deverão ser organizados conforme a relevância para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino, considerando as seguintes ênfases:

  • Linguagens, Matemática e Ciências da Natureza;
  • Linguagens, Matemática e Ciências Humanas e Sociais;
  • Linguagens, Ciências Humanas e Sociais e Ciências da Natureza;
  • Matemática, Ciências Humanas e Sociais e Ciências da Natureza.

De acordo com o texto, as escolas devem oferecer, no mínimo, dois percursos de aprofundamento e integração. A esses percursos, acrescenta-se a possibilidade de oferta de ensino técnico profissional. Anteriormente, o MEC queria dois percursos, e não quatro. Essa nova organização foi uma demanda dos secretários. O atendimento a esse pedido causou desgaste interno no MEC, mas a pasta acabou cedendo.

O projeto abre uma excepcionalidade da carga horária da parte comum para o caso de oferta de ensino técnico. Neste caso, essa parte pode ficar em 2.100 horas. Esse ponto também atende à demanda dos secretários, para viabilizar a carga horária de cursos técnicos.

O projeto também veta a educação a distância no ensino médio, o que era permitida no formato aprovado em 2017. Nesse caso, o MEC não atendeu ao desejo dos secretários, que queriam manter essa abertura.

*Com Folhapress