O desperdício com o dinheiro público, principalmente em grandes eventos como a Copa das Confederações e o Mundial de 2014, é uma das principais reivindicações da multidão que ocupa as ruas do Brasil há duas semanas. O custo inicial da construção ou reforma de 12 estádios, cerca de R$ 5,9 bilhões, já foi ultrapassado em 25%. Cerca de R$ 1,494 bilhão já foi gasto além do programado, somando R$ 7,4 bilhões.
Só no estádio Mineirão, o custo inicial de R$ 456 milhões subiu para R$ 695 milhões. O levantamento feito por O TEMPO mostra que, se somente o gasto extra com os 12 estádios até o momento fosse destinado aos mineiros, seria possível acabar, ou pelo menos amenizar, diversos problemas de transporte, educação, saúde e segurança.
O valor de quase R$ 1,5 bilhão seria suficiente, por exemplo, para construir seis hospitais com uma estrutura semelhante à do Hospital Metropolitano do Barreiro, cuja obra está abandonada. Cada um deles teria capacidade para atender 450 pessoas por dia, 10 mil consultas especializadas e 1.300 cirurgias, por mês. Ao todo, seriam mais 2.700 atendimentos diários no Estado, 60 mil novas consultas e até 7.800 procedimentos cirúrgicos.
O mesmo valor, não previsto no orçamento original para a construção dos palcos dos jogos, poderia pagar a revitalização do Anel Rodoviário de Belo Horizonte, aguardada há mais de duas décadas pelos moradores da capital como solução para as mortes e acidentes que acontecem no local.
Metrô. Ainda na área do transporte público, outra bandeira dos manifestantes, a quantia seria suficiente para realizar o maior sonho do belo-horizontino e retirar, finalmente, a ampliação do metrô do papel, com a ampliação da linha 1 (Eldorado/Vilarinho), construção de 10 km da linha 2 (Barreiro e Calafate) e de 4,5 km da linha 3 (Savassi/Lagoinha). Segundo a Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop), cada quilômetro do metrô superficial custa R$ 44 milhões e o subterrâneo, como a linha 3, pode sair entre R$ 176 milhões e R$ 242 milhões.
O professor de finanças do Ibmec Eduardo Coutinho avalia que esses dados dão mais combustível para as reclamações dos manifestantes. No entanto, ele acredita que, ainda que os campeonatos não fossem realizados, o dinheiro não seria aplicado em benefícios para a população. “O Brasil gasta mal e a precariedade com os serviços públicos é geral. Os ganhos da Copa com mobilidade, por exemplo, são marginais. Como tudo é muito malfeito na gestão pública, não acredito que os recursos que não seriam aplicados nos estádios viriam para obras em educação, saúde e transporte”, disse.
Público. Apesar de a presidente Dilma Rousseff (PT) dizer que não há dinheiro público direto nas obras, somados os incentivos fiscais, subsídios em empréstimos e até participação em arenas, a União já comprometeu cerca de R$ 1,1 bilhão com os estádios. Parte dos recursos alocados nas obras é de empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com juros subsidiados, ou seja, mais baixos que o de mercado.