Expectativa

Médicos avaliam o impacto das medidas restritivas na proliferação do coronavírus

Para especialistas, a estabilização da curva de transmissão depende da aderência da população às orientações das autoridades em saúde

Por Rômulo Almeida
Publicado em 26 de março de 2020 | 06:00
 
 
 
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A curva de proliferação do coronavírus em Minas Gerais indica um avanço intermediário da pandemia no Estado quando comparada com a de outras regiões do mundo. "A curva está aumentando, a meu ver, num ritmo que não está nem tão intenso como o da Itália mas não tão tranquilo como o da Coreia do Sul. Estamos em uma posição intermediária", analisa o Dr. Estevão Urbano, presidente da Sociedade Mineira e Brasileira de Infectologia. 

Contudo, o desenvolvimento do número de transmissões em Minas não dá margem para descuidos. "Não deixa de ser preocupante, pois está se aproximando de países que estão sofrendo muito", ressalta o infectologista.

Como há menos de uma semana que os decretos da prefeitura de Belo Horizonte e do governo de Minas Gerais passaram a valer, o especialista avalia que ainda é cedo para fazer um diagnóstico preciso. "As próximas duas semanas vão dar uma ideia muito melhor do que adiantaram as medidas de prevenção. [A transmissão] está bem heterogênea no país todo. São paulo tem vários casos, e Estados do nordeste têm poucos. 

Para Diogo Umann, clínico geral, cardiologista e geriatra, as medidas governamentais tendem a se refletir no avanço da doença. "A COVID-19 se prolifera através das mucosas pelo contato com gotículas de saliva de pessoas infectadas. Sendo assim, medidas de restrição de circulação tendem a trazer uma maior estabilidade da curva, que até então vinha subindo sem previsão de estabilização", pontua o médico.

Diogo Umann ressalta a necessidade de a população seguir à risca as orientações das autoridades de saúde. "Não digo que vai diminuir, nem parar de crescer nesse primeiro momento. Mas a expectativa é de que, pelo menos, cresça numa velocidade menor. Uma estabilização maior depende de uma conscientização mais massiva por parte das pessoas, cada um levar a sério a recomendação de ficar em casa o máximo possível, as recomendações de higiene, ainda tem muita gente que não está levando a sério, e, se possível, mais medidas para proibição de circulação", lembra.. 

Para o infectologista e professor do departamento de clínica médica da UFMG Mateus Westin, a curva de transmissão no Estado deve começar a desenhar um plateau. "A tendência é que nessa semana a gente comece com o achatamento. Já deveriam ter adotado essas medidas antes, mas claro que há sempre que fazer ponderações relacionadas ao comércio", diz o professor.

Subnotificação

O número de casos de infecção por coronavírus em Minas Gerais pode ser maior que o oficialmente divulgado pelo governo do Estado, em função da subnotificação. "A subnotificação existe em todos os Estados do brasil, em todos os países do mundo. A gente não consegue testar todo mundo, porque  tem muitos casos que são assintomáticos. Foi feito um estudo publicado na revista "Science" mostrando que até 80% das transmissões ocorreram por pessoas assintomáticos", analisa Mateus.

Vacinação contra a gripe

Mateus lembra a importância da campanha de vacinação contra a gripe que teve início na última segunda-feira no Brasil. "A gente ainda não está conseguindo testar pessoas com sintomas gripais. A orientação é que o paciente com esses sinais fiquem em casa. Então a gente acaba não conseguindo testar essas pessoas", afirma. Daí a importância de vacinar todo mundo durante essa campanha, segundo o infectologista.

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