Denver, EUA. A descoberta em pesquisas recentes de que as células cerebrais, além de novas conexões neurológicas, são formadas e renovadas ao longo da vida reascendem esperanças em pessoas que tentam, desesperadamente, retardar o desenvolvimento de doenças cognitivas, como a demência ou o Alzheimer.

Agora, uma nova forma de ginástica - chamada neuróbica - parte do princípio relativamente simples de que o estímulo mental pode ajudar na produção de novas células cerebrais.

Inventado pelo neurobiologista Lawrence Katz, o termo descreve a ação de atividades comuns com partes diferentes do corpo como escovar os dentes com a mão que geralmente não se utiliza nessa tarefa, ou mudar hábitos já bastante comuns no dia a dia - como deixar as chaves de casa ou do automóvel em outro local, não no chaveiro, para se forçar a encontrá-la na manhã seguinte.

Segundo Kerry Hildretch, professora de medicina geriátrica na escola de medicina da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, há evidências de que o exercício das habilidades cognitivas pode estar ligado a uma atraso maior no processo de declínio mental, apesar de a qualidade dos estudos feitos até hoje ter sido relativamente baixa.

Será possível que a ginástica neurológica - charadas, quebra-cabeças, aprender novas línguas, desafios físicos como usar a mão não dominante para manusear o mouse no computador ou escrever o próprio nome - possa ajudar a mente da mesma forma que os exercícios físicos ajudam a saúde do corpo?

Para Melissa Fisk, isso é uma realidade. Ela é professora de aulas de neuróbica em uma casa de repouso e cuidados médicos nas proximidades de Denver, nos Estados Unidos.

Os residentes, a par da real possibilidade de um declínio mental, frequentam as palestras da professora assiduamente.

Segundo a terapeuta, a preocupação com a chegada da demência é mais comum do que imaginamos, principalmente após estudos terem apontado a condição como hereditária.

Mas ela explica que, em um estudo recente realizado com freiras idosas no Estado norte-americano de Minnesota, foi descoberto que as religiosas que vivem mais e têm uma mente mais perspicaz são aquelas que estão sempre buscando desafios intelectuais, como leitura, debates, escrever cartas para líderes políticos, resolver quebra-cabeças e aprender novas línguas.

A teoria é a seguinte: ações rotineiras, como escovar os dentes ou falar sua língua nativa, com o passar de anos, se tornam tão automáticas que exigem menos atividade cerebral. Por outro lado, ações que normalmente não fazem parte da rotina precisam de um esforço consciente que produz mais reações químicas neurobiológicas e estimulam o desenvolvimento do cérebro.

Estresse. Para a médica, uma forma simples de retardar a demência é tentar controlar os sentimentos. "Acreditamos que não podemos controlá-los, mas há mudanças simples que podemos fazer para evitar o estresse, por exemplo", afirma.

"Se uma mulher que tem pressão alta vai ao médico depois de meses e descobre que a pressão não mudou, ela fica ansiosa, triste, chateada. Mas, se ela considerar que a pressão não piorou, vai ficar um pouco menos estressada", completa.

A médica explica que o estresse é um fator que estimula a morte das células cerebrais, portanto, evitá-lo significa evitar a demência.

O pastor Jim Kok, que também participa das sessões de neuróbica às segundas-feiras, explica que mudanças causam estresse. Portanto, mesmo sendo mudanças boas, uma dica é ser realista a respeito do que pode ser feito. Assim, não exageramos e ficamos menos estressados - o que significa, no fim, menos problemas para o cérebro.