Pela falta de recursos

Reitor da UFRJ e diretor do Museu Nacional responsabilizam governo federal

Os dois disseram que dinheiro de projeto de recuperação, desenvolvido em 2015, só saiu este ano

Por Estadão Conteúdo
Publicado em 03 de setembro de 2018 | 12:42
 
 
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O reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Roberto Leher, e o diretor do Museu Nacional, Alex Kellner, ao acompanhar o trabalho de rescaldo dos bombeiros no prédio nesta segunda-feira, 3, responsabilizaram o governo federal pela falta de recursos para a instituição. Eles disseram que a partir de 2015 foi desenvolvido um projeto de recuperação estrutural do edifício histórico, mas a liberação do dinheiro - cerca de R$ 21 milhões, do BNDES -  só saiu este ano. O museu foi destruído por um incêndio domingo, 2.

"Todos sabíamos que o prédio estava em condições vulneráveis. Eram necessárias intervenções sistêmicas", disse Leher. "O Brasil precisa avaliar para onde estamos caminhando. Não existe nenhuma linha de financiamento dos ministérios da Educação e Cultura para prédios históricos tombados pelo patrimônio histórico. Sofremos queda brutal de orçamento, de R$ 140 milhões no custeio nos últimos quatro anos. É necessário que o governo federal olhe para o Brasil. Precisaremos de recursos importantes para recuperar o museu. No orçamento de 2019 a sociedade brasileira vai aferir se vamos ter ações objetivas ou se vamos sofrer até a próxima tragédia. Queremos compartilhar nossas lágrimas e nossa indignação."

O reitor disse que em 2015 foi colocada a necessidade de um novo sistema de prevenção de incêndios. Ao comentar se o acidente foi uma tragédia anunciada, afirmou: "Era um cenário muito provável. Prédios tombados precisam de recursos significativos, que nossos museus não têm. Sem dinheiro, todo o patrimônio público museal corre riscos".

Do projeto de 2015 constava a necessidade de recomposição do telhado e de "patologias estruturais". O sistema elétrico, no entanto, não estava em más condições, disseram o reitor e o diretor. Alex Kellner afirmou que seria leviano apontar o que se perdeu e o que se salvou, uma vez que sua entrada no prédio não foi liberada. 

À entrada do museu, é possível ver apenas o meteorito de Bendegó. Outros meteoritos já foram retirados. O diretor também não quis estimar qual a percentagem do museu que foi queimada. Um levantamento ainda será feito. Ele preferiu não conjecturar sobre a causa do incêndio. Kellner afirmou que não há registro de ocorrência de balões na história do museu.

"A responsabilidade é do governo federal, não adianta dizer que não. Tem que se falar diretamente. Se tivéssemos conseguido o terreno que pedimos aqui do lado, para o acervo, algo a mais teria sido salvo. Bastava bom senso. Só chorar não adianta. Nem manchete de jornais. O museu precisa de ajuda, já foi falado em diversas ocasiões. Isso é resultado de como tratamos nossa história", definiu.

Kellner, há mais de 20 anos no museu, falou com emoção e indignação à imprensa. "Perdemos parte do acervo, que não façam com que o Brasil perca sua história. O Bendegó resistiu, e, da mesma forma, vamos resistir. O País está de luto. Seria uma irresponsabilidade querer que a UFRJ abarcasse tudo. Eu não estou mais pedindo o terreno da União. Mudou, estou exigindo. É barato, com R $ 200 mil se consegue. Já há uma década não existe investimento na manutenção. A ironia do destino é que o dinheiro (do BNDES) chegou. Só não deu tempo".

O incêndio de grandes proporções destruiu o acervo do Museu Nacional, na zona norte do Rio, na noite deste domingo, 2. O fogo começou por volta das 19h30 de domingo e durou até por volta de 2 da manhã desta segunda-feira, 3. Após o exaustivo combate às chamas, prejudicado pela falta de água nos hidrantes da instituição, iniciou-se ainda de madrugada o trabalho de rescaldo.

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