Levantamento feito pela Confederação Nacional de Municípios (CNM) aponta que oito em cada dez cidade de Minas Gerais sofrem com a falta de vacinas. Os dados reafirmam o que a Associação Mineira de Municípios (AMM) já havia detectado no fim do mês de agosto. 

A escassez dos imunizantes coloca em xeque a saúde da população. O receio é de que doenças já erradicadas como a coqueluche e o sarampo, por exemplo, voltem a circular. “Levaremos décadas para alcançar níveis de erradicação dessas doenças novamente. Décadas! E não foi por falta de aviso ou de cobrança. A AMM está cobrando, a CNM está cobrando, mas, infelizmente, não temos resposta positiva do Governo Federal”, afirma o médico, presidente da AMM, 1º vice-presidente da CNM e prefeito de Coronel Fabriciano, Dr. Marcos Vinicius.

De acordo com Dr. Marcos Vinícius, a AMM notificou o Ministério da Saúde, em setembro e admitiu o problema. Na época, o governo alegou fala de matéria-prima e problemas de logística. De lá pra cá, a entidade alerta que a escassez não foi resolvida, colocando em risco a saúde das pessoas. Procurado pela reportagem, o Ministério da Saúde negou que haja desabastecimento.

Principais demandas

A pesquisa da CNM foi realizada em setembro e refeita no fim de dezembro. Da amostragem, 52,4% dos municípios (1.516) relataram que não havia estoque da vacina contra a varicela (catapora). Em segundo lugar, o imunizante que mais faltava nas cidades, no período pesquisado, foi o da covid-19 para adultos – ausente em 25,4% (736), com uma média de 45 dias sem disponibilidade. A responsabilidade por comprar as vacinas que são ofertadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o Brasil é do Ministério da Saúde. A terceira vacina que mais municípios (520 ou 18%) apontaram falta de doses foi a DTP, que combate a difteria, o tétano e a coqueluche. O imunizante já não constava nos estoques dessas cidades, em média, há 60 dias.

O estado de Santa Catarina segue liderando a escassez de vacinas, uma vez que 87% – 199 dos 230 municípios catarinenses relataram o problema. Em seguida, estão os municípios cearenses, com 86% (51 dos 59 respondentes), os do Espírito Santo, com 84% (38 dos 45 respondentes); e os de Minas Gerais, com 83% (412 dos 496 respondentes).

Levantamento CNM

A Confederação Nacional de Municípios (CNM) decidiu investigar a ocorrência de desabastecimento de vacinas nos municípios brasileiros através de pesquisa realizada entre os dias 2 e 11 de setembro de 2024, a qual demonstrou que 64,7% (1.563) dos municípios participantes estavam com falta de vacinas naquele momento. A atualização do estudo, realizada entre os dias 26 de novembro a 12 de dezembro de 2024, revelou que o problema persiste, com 65,8% (1.904) dos municípios participantes enfrentando a mesma dificuldade nesse período.

MS nega desabastecimento

Procurado pela reportagem, o Ministério da Saúde afirmou que os estoques de vacinas no país estão abastecidos. “Garantimos 100% do abastecimento de todas as vacinas do calendário básico, inclusive da varicela, que enfrentava pendências, superando um problema de abastecimento por conta de fornecedores”, afirma o diretor do Departamento do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Eder Gatti.

Ao atualizar o contexto da imunização, Eder Gatti também lembra que o Ministério da Saúde reforçou os estoques para Covid-19 para 2025. De outubro a dezembro de 2024, foram distribuídas 3,7 milhões de doses aos estados, das quais há registro de 503 mil efetivamente aplicadas.

No caso da vacina de varicela, o Ministério explicou que problemas pontuais serão resolvidos com os novos fornecedores. O órgão afirmou ainda que atendeu a todas as solicitações dos estados nos últimos meses do ano, garantindo a oferta de imunizantes e a proteção da população em todo o país.

De acordo com o Ministério da Saúde, qualquer cidadão pode acessar o Painel Interativo do Ministério da Saúde e consultar as remessas enviadas do centro de distribuição em Guarulhos, em São Paulo, para os estados.

Anualmente, são distribuídas cerca de 300 milhões de doses de vacinas para todos os 5.570 municípios brasileiros por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI).