As três mulheres de uma mesma família que morreram soterradas no desabamento de uma casa no bairro Paraíso, na região Leste de Belo Horizonte, no último sábado (28 de dezembro), foram enterradas sob forte comoção na tarde desta segunda-feira (30 de dezembro). Maria de Fátima Santiago, de 70 anos, sua cunhada, Tânia Lúcia Ferreira Santiago, de 59, e a mãe de Tânia, Meury Helena Ferreira, de 82, viviam na mesma casa. Lá, também morava o atendente Paulo Tarso Santiago, filho de Maria, que sobreviveu por estar no trabalho na hora da tragédia.
Em entrevista a O TEMPO, o homem conta que a quarta vítima que chegou a ser cogitada e procurada pelos bombeiros, possivelmente era ele. "Eu vivia com a minha mãe, no andar de baixo. Então, provavelmente, os vizinhos pensaram que eu também estivesse lá", diz, com o olhar perdido, o filho de uma das vítimas.
Com o desabamento da casa, Paulo conta que, além das familiares, com quem dividia uma vida, também perdeu seu lar e todos os pertences. Agora, tudo que restou para ele é a saudade, especialmente da "mãezinha", que, em suas carinhosas palavras, era "um amor de pessoa".
“Ela sempre foi a pessoa que me apoiou muito em tudo, de verdade. Ela me ajudava em tudo que eu precisava, sempre foi a pessoa que pregou Deus para mim acima de todas as coisas, pregou o amor para mim acima de todas as coisas, que sempre se preocupou com a questão de que eu me tornasse uma pessoa que fosse de orgulho pro seu Deus, em primeiro lugar, e a ela. E eu agradeço muito ela por ter me passado essa questão de preocupar com a educação, com coisas boas”, relembrou o filho durante o velório.
Paulo conta que a convivência na casa sempre foi muito boa, e, das parentes, ele só guarda lembranças carinhosas. “Elas sempre foram pessoas muito, muito pacatas. Um ponto que todo mundo que eu conheço sempre colocava era que as duas eram pessoas que pareciam que viviam num estado de espírito de serenidade. E elas conseguiam, de fato, que isso passasse pra gente, sabe? Eram pessoas muito receptivas, sempre muito delicadas, muito gentis com a gente, em tudo. São pessoas que, de fato, eu jamais vi se alterarem por qualquer coisa. Eram uns amores de pessoas, de verdade”, lembra.
O filho de Maria de Fátima afirma que o caminho agora é seguir em frente, mas que elas estarão sempre com ele. “Eu pretendo seguir em frente, levando e colocando em prática tudo que eu aprendi com elas. Que foram as melhores coisas que eu já aprendi na minha vida: ter conhecido a Deus pelo interesse delas, ter conhecido boas coisas, por terem me ensinado a me preocupar em sempre ter caráter, em ser uma pessoa boa, no máximo que eu puder. E eu sinto muita alegria por isso, por elas nunca terem me abandonado, nunca terem me deixado de lado, sempre terem me ajudado em tudo. Eu só tenho coisas boas a lembrar delas”, completa, emocionado, o parente das vítimas.
Os corpos das três mulheres foram velados juntos, e o sepultamento aconteceu às 17h.
Tia Fátima
O sorriso e a alegria de Maria de Fátima Santiago, uma das vítimas do desabamento, são lembranças que a vizinha Marlene Maria de Figueiredo, 67, pretende guardar na memória. Elas cresceram juntas e brincaram na mesma rua, no bairro Paraíso. Com o passar dos anos, a amizade permaneceu, e as brincadeiras deram lugar a batidas na porta de casa para saber da saúde da vizinha.
“Ela estava sempre brincando. Se passasse aqui, ela vinha e conversava, brincava, e falava as coisas boas para a gente. Ela vai deixar a alegria dela, o sorriso, ela tinha um sorriso bonito. Agora, só Deus para consolar”, relembra Marlene.
A vizinha conta que Maria de Fátima era carinhosamente conhecida como “Tia”, na rua onde morava. “O pessoal chamava ela de Tia Fátima, e ela era muito paciente. Até os mais velhos a chamavam de Tia Fátima. Ela alegrava a meninada. Não podia ir ao supermercado que voltava com uma caixa de bombons e dava toda para os meninos. Já ficava uma turma sentadinha na frente da igreja esperando ela passar”, relembra.
Com Tânia e Meury, Marlene tinha um pouco menos de contato, mas também guarda boas lembranças delas. “A Tânia também era muito gente boa. Ela chegava para pôr o lixo e dava tchauzinho para a gente. Não era muito de conversar, não, era mais calada, mais séria. A mãe também era muito simpática”, recorda.