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Heróis de patas: como é a rotina dos cães da Polícia Civil de Minas Gerais

Desde 1992, instituição utiliza animais para encontrar drogas operações por todo o estado

Por Bruno Daniel
Publicado em 13 de maio de 2024 | 14:15 - Atualizado em 14 de maio de 2024 | 11:42
 
 
 
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Amigo do homem, fiel, companheiro... são várias as coisas que um cão pode ser. Inclusive investigador de polícia. Desde 1992, a Polícia Civil de Minas Gerais conta com o olfato apurado e a inteligência dos caninos para localizar drogas escondidas onde o ser humano nem sonharia encontrar. Os animais, que no ano passado participaram de 82 operações, recebem treinamento e cuidados diários e específicos. 

Atualmente, a instituição é tutora de 16 cães, das raças pastor alemão, pastor mallinois, cocker e border colly. Eles são membros da Coordenação de Operações com Cães da PCMG e moram na Academia de Polícia Civil, no bairro Gameleira, região Oeste de Belo Horizonte. As raças foram escolhidas pelo olfato mais apurado.

Dia-a-dia

O local onde os ‘pets’ ficam possui boxes, onde eles dormem quando a unidade não está em expediente. A estrutura conta com um solarium, para os cães poderem tomar sol, e é protegida da chuva. As atividades começam às 8h, junto com o expediente normal da Polícia Civil. 

“Os tutores pegam os cães nos boxes e fazem uma atividade com eles na área de manejo. Vai do planejamento de cada condutor para o treinamento que ele tem para a semana. Atividades físicas em diversas formas e locais, como parques, imóveis, residências”, explica o coordenador da unidade, investigador Mateus Picinin. 

Os animais também participam de brincadeiras lúdicas, tanto para se distrair quanto para exercitar a ‘caça’, característica fundamental nas operações de busca de entorpecentes. Também são realizadas atividades de obediência, para evitar que durante a ação os animais tomem decisões que coloquem em risco a operação ou a própria integridade física. 

O treinamento 

Os cães chegam à Acadepol por meio de ninhadas geradas entre os próprios cachorros da PCMG, convênio com canis produtores ou mesmo compra. Muito conhecidos pelo olfato apurado, os animais são treinados desde filhotes para desenvolver a habilidade de ‘busca’. Com o passar do tempo, chega a hora de aprender o odor de entorpecentes, que são os alvos nas operações. 

“Desde filhotes eles vão passando por atividades de ambientção, para que não tenham medo de pessoas. Essa natureza de caça deles é trabalhada, e quando ela está bem desenvolvida, a gente insere o odor-alvo, que é o que nós queremos que ele localize”, explica Mateus. 

O treinamento pode acontecer no terreno da própria Acadepol ou em um ambiente externo. Os treinadores escondem algum objeto que contém a droga para o cão localizar. Quando o animal encontra o alvo, ele fixa o olhar no ponto onde está o entorpecente e ‘congela’ - ele se deita e fica estático naquela posição, o que é o sinal para os policiais de que a droga foi encontrada. 

O treinamento pode durar uma ou duas horas, dependendo de vários fatores, como estado de saúde do cão e clima, sempre respeitando a integridade física e psicológica do animal.  
“O treinamento diário com eles é feito de forma lúdica, é a parte em que o cão se sente à vontade, feliz. Se ele não estiver feliz, ele não vai trabalhar bem. A gente leva muito a sério para não trazer um esforço desnecessário, um mal-estar físico. Se ele não estiver bem, ele nem trabalha”, esclarece Mateus Picinin. 

Cuidados e ‘aposentadoria’

Para trabalhar bem, os cães precisam estar com a saúde em dia, protegidos contra doenças diversas, e bem cuidados fisicamente. Para isso, eles são alimentados com rações premium, para animais de alta performance. Diariamente, eles são monitorados por um veterinário da própria Polícia Civil, responsável pela unidade.  

Em casos mais complexos, como uma doença ou necessidade de intervenção cirúrgica, eles são levados a uma clínica veterinária. Os próprios policiais que atuam com os cães nas operações também participam dos cuidados, verificando o bem-estar do animal. Cada animal tem o seu policial referência, que é o que sempre atua com ele durante as demandas.

“O dia-a-dia é avaliado e acompanhado pelo tutor. Os operadores tratam os cães como se fossem deles mesmos. Os cuidados são como se ele fosse um cão particular. Dão todo o carinho e zelo para o bem-estar do animal", diz o investigador Mateus Picinin. Além das atividades de treino, os cães também têm horários de descanso e de passeios, seja no terreno da Acadepol, seja em locais externos. 

Cada cão pode trabalhar até os dez anos de idade. A partir dos oito anos, o animal passa a ser monitorado com mais frequência em termos de saúde, para evitar atividades que tragam sobrecarga ou danos à saúde. Aos dez anos, ele ‘dependura a coleira’ e encerra as atividades. Mas o vínculo e a amizade que se criaram durante toda a vida do cão permanecem.

“Quando nosso cão é indicado para aposentadoria, ele vai preferencialmente para o tutor que trabalhou com ele, que passou a vida inteira com ele. Na impossibilidade de o tutor ficar com ele, são direcionados para outros servidores da instituição, ou pode haver um chamamento para fora da instituição”, diz Mateus Picinin.

Novos projetos 

Atualmente, os cães da Polícia Civil atuam apenas na localização de drogas, mas alguns deles já estão sendo preparados para localizar armas e munições, por meio do cheiro da pólvora. Também há um projeto, ainda em estudo, para que os animais também passem a farejar explosivos, cadáveres e até mesmo pessoas vivas. Este último projeto ainda não tem previsão para começar. 

O canil em Belo Horizonte é o único da PCMG em Minas Gerais e é o responsável por atender todas as demandas do estado. Em situações normais, os cães são transportados para as operações em viaturas terrestres, mas se o local da operação for distante e for preciso chegar mais rápido, os animais são levados em aeronaves. A Polícia Civil também estuda implantar outros canis em outras regiões de Minas, para otimizar os atendimentos. 

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