O videomaker Ravi Stewart, de 26 anos, foi assaltado dez vezes em seis anos. Já Matheus Gabriel, de 24 anos, teve o carro furtado no último mês de março. Apesar de nem se conhecerem, ambos moradores de Belo Horizonte, têm algo em comum: o medo. “Depois de tanto ter o celular roubado, evito ao máximo andar de ônibus e metrô. Também não fico mais até tarde fora de casa nem ando em lugares sabidamente mais perigosos”, conta Stewart.

Os dois jovens expressam o sentimento de insegurança vivido por muitos belo-horizontinos e que foi constatado por uma pesquisa do site Numbeo. O levantamento, feito neste ano com internautas de 333 cidades do mundo, deixa a capital mineira com 63,07 pontos (veja mais abaixo) e na 47ª posição com maior sensação de insegurança entre seus moradores. A cidade é a oitava colocada entre as 11 brasileiras citadas. No ranking, a classificação de BH piorou em relação ao ano passado, quando ela ocupava a 52ª posição. “A violência em BH está ficando pior. Todos os dias, a gente vê notícias de crimes”, completa o videomaker.

No levantamento do Numbeo, as maiores preocupações apontadas por moradores de BH são ter o carro roubado e ser vítima de vandalismo, de roubo a residência e de crimes violentos, como assalto à mão armada.

A avaliação é importante porque abre possibilidade para as pessoas indicarem as próprias percepções sobre as cidades, analisa Ludmila Ribeiro, pesquisadora do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública e professora do Departamento de Sociologia da UFMG. “Na maioria das cidades, a gente fala sobre crime e violência usando como fonte os registros policiais. Esses dados mostram apenas aquilo que foi denunciado”, diz, acrescentando que muitas pessoas não confiam plenamente no trabalho da polícia e preferem não denunciar o crime.

Como referência, Ludmila citou a pesquisa “Vitimização: Sensação de Segurança”, realizada pelo IBGE em 2021 – sua última edição – na qual 66,3% dos brasileiros disseram confiar na Polícia Militar. O mesmo levantamento apontou que o Corpo de Bombeiros, mais bem colocado, tem a confiança de 87,1% da população.

Furtos na capital sobem cada vez mais

Furtos como o sofrido por Matheus Gabriel são cada vez mais frequentes em Belo Horizonte. No ano passado, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) registrou 9.188 furtos de veículos na capital. Em comparação com 2022, quando aconteceram 7.994, houve um aumento de 14,94%.

“BH paga por ser uma das cidades com a maior frota de veículos no Brasil, então está vulnerável a esse tipo de crime. Um carro tem várias funcionalidades para o criminoso. Pode ser usado para venda de peças ou até mesmo transporte de drogas”, afirma Luis Flávio Sapori, especialista em segurança pública.

Outras modalidades de furto também apresentaram crescimento no ano passado em relação a 2022 – o de residências passou de 5.861 para 6.052 (alta de 3,26%), e o pessoas foi de 9.417 para 11.477 (21,87% a mais).

Para a pesquisadora do Crisp Ludmila Ribeiro, é preciso um trabalho maior de inteligência das forças policiais para combater este tipo de crime. “É necessário entender o destino dado para o que é furtado, para onde está sendo vendido. Porque, se a ação for concentrada apenas na prisão (do bandido), no outro dia aparece outro cometendo o mesmo delito”.

Procurada pela reportagem do Super, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp) respondeu que segue concentrada em coordenar operações integradas de combate ao crime. Em 2023, informou a pasta, foram realizadas 45 operações integradas de grande porte. Apenas essas ações resultaram na prisão de mais de 2.700 pessoas, nas diversas regiões de todo o Estado.

Ainda de acordo com a Sejusp, a pasta não faz ranqueamento de crimes, e aqueles considerados violentos são monitorados diariamente e disponibilizados mensalmente no site.

Confiança

Segundo a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), a última pesquisa nacional sobre confiabilidade das polícias, feita pelo Ministério da Justiça, em 2017, aponta que MG ocupava a 1ª posição nacional em confiabilidade na PM e a 2ª posição na Polícia Civil.

O que diz a PM

A PM de Minas Gerais esclareceu que pauta seu atendimento sob os pilares dos direitos humanos e da polícia comunitária, além de possuir um dos graus mais altos de confiabilidade do país e sempre pauta suas ações no acolhimento das vítimas que procuram a instituição. A orientação da corporação é que vítimas de crimes denunciem os casos.

Evolução de BH em ranking de insegurança da plataforma Numbeo
Editoria de Arte / O Tempo