A Emicon Mineração e Terraplanagem firmou um acordo com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) para adotar medidas emergenciais voltadas à segurança da barragem B1-A, localizada na comunidade de Quéias, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A estrutura teve o nível de emergência elevado para grau 2, o penúltimo da escala da Agência Nacional de Mineração (ANM), após a constatação de falhas na gestão de risco.
O Termo de Compromisso foi divulgado nesta quarta-feira (30/7) pelo MPMG, mas foi assinado em 25 de julho e homologado pela 2ª Vara Cível, Criminal e de Execuções Penais da Comarca de Brumadinho. A mesma corte já havia estabelecido multa diária de R$ 5 mil e retenção dos passaportes dos sócios e administradores da mineradora em caso de descumprimento das obrigações.
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Segundo o MPMG, o acordo prevê medidas voltadas à redução dos riscos nas estruturas da empresa, especialmente nas barragens B1-A, Quéias, Dique B3 e Dique B4, e envolve também a atuação da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), ANM, Ministério Público Federal, Defesa Civil de Brumadinho e demais órgãos de controle.
Realocação das famílias e resposta emergencial
A empresa se comprometeu a realocar as famílias impactadas no prazo de até 15 dias, além de garantir infraestrutura mínima de segurança, incluindo guarda patrimonial 24 horas, mesmo em fins de semana e feriados. Até o momento, sete famílias estão em processo de evacuação; duas delas já foram removidas.
A Prefeitura de Brumadinho assumiu a transferência das moradias de forma emergencial, mas o novo acordo pode modificar essa dinâmica.
A realocação está sendo feita com prioridade para mulheres, crianças e idosos, e os moradores estão sendo encaminhados para casas alugadas no próprio município.
Obrigações assumidas pela mineradora
O compromisso firmado com o MPMG prevê três eixos principais de ação imediata:
Monitoramento e validação da segurança:
- Realizar leituras periódicas da instrumentação das barragens;
- Finalizar a coleta de dados geotécnicos, conforme exigência da ANM;
- Apresentar nova análise de estabilidade e auditoria técnica à Feam;
Atualizar informações no Sistema de Informações de Gerenciamento de Barragens (Sigibar).
Estrutura mínima de resposta à emergência:
- Implementar equipe e infraestrutura material conforme Nota Técnica da Feam/ANM;
- Instalar sistema de videomonitoramento e comunicação com a central de emergência;
- Implantar sirenes de alerta e revisar o Plano de Ação de Emergência (PAE);
Fornecer todos os estudos complementares exigidos pelos órgãos de fiscalização.
Descaracterização das estruturas:
- Contratar empresas especializadas para elaboração dos projetos e execução das obras de descaracterização das barragens.
Situação da barragem B1-A
Com 37 metros de altura e 273 metros de extensão de crista, a barragem B1-A tem capacidade para armazenar 914 mil metros cúbicos de rejeitos — volume aproximadamente doze vezes menor que o da estrutura da Vale que rompeu em 2019, causando 270 mortes.
A elevação para nível 2 ocorreu após a mineradora não apresentar documentos técnicos obrigatórios, como a Declaração de Conformidade e Operacionalidade (DCO) do Plano de Ação de Emergência para Barragens de Mineração (PAEBM). Também foram constatadas falhas na instalação de sistemas de alerta sonoro e videomonitoramento.
Apesar do nível 2 não indicar risco iminente de colapso, exige ações imediatas de segurança, como a evacuação da Zona de Autossalvamento (ZAS) — área onde não há tempo hábil para resposta em caso de rompimento.
Acompanhamento e fiscalização
O Ministério Público informou que todas as medidas previstas no termo devem ser comprovadas dentro de prazos definidos e comunicadas formalmente aos órgãos competentes. O acordo também reforça que as novas obrigações não anulam outras já assumidas em decisões judiciais ou pactuações anteriores, nem limitam a atuação de fiscalização e controle.
A reportagem solicitou posicionamento da Prefeitura de Brumadinho sobre os desdobramentos do acordo e aguarda retorno.