Dois gatos foram encontrados mortos com suspeita de envenenamento na região central de Esmeraldas, na região metropolitana de Belo Horizonte, em dois dias. Um dos animais chegou a ter o corpo incinerado em um pasto.  

Marina de Souza era a tutora da gatinha Mia. Ela adotou a felina há dois anos após a encontrar abandonada no bairro Santa Quitéria. Ela notou o desaparecimento da gata ainda na segunda-feira (1º de julho). “Minha gatinha não apareceu em casa, ficava lá todos os dias. Às vezes ela saía, ficava duas horas fora e nunca ficou sumida esse tempo todo. Era bem doméstica, ficava nas redondezas. Aí na terça-feira, quando ela não apareceu, ainda comentei com minha mãe que estava com medo de alguém ter pegado a Mia e dado veneno”, lembrou. 

Segundo a tutora, há um homem na região que deixa claro não gostar de gatos. Ela diz que ele já teria matado um animal envenenado antes. Nesse caso, a dona do gato conseguiu juntar provas para incriminar o suspeito, que responde ao processo na Justiça. “Inclusive a esposa dele deu ‘manota’ comigo. Ela contou que o marido pegou um gato morto e jogou lá em cima naquele pasto, justamente onde minha gatinha foi encontrada”, disse.  

Foi a mãe de Marina quem achou Mia na manhã de quarta-feira (3 de julho). “Ela estava queimada no pasto. Uma vizinha que conhecia a Mia disse que viu ela morta em uma sacola e não tinha machucado nenhum. Então seria envenenamento mesmo. Não sei se o mesmo rapaz que jogou a sacola no pasto foi quem colocou fogo”, declarou, ainda abalada pela perda do pet.  

Nessa quinta-feira (4 de julho) foi a vez do gatinho Tony, da tutora Gabrielle Campolina ser encontrado morto com suspeita de envenenamento na cidade, a uma distância de aproximadamente 400 metros de onde Mia foi localizada. Gabrielle encontrou o animal em um lote vago enquanto ia para o trabalho. Ela também resgatou o gatinho das ruas há menos de um ano.  

“Vou sentir falta de tudo, das sonecas no meu colo, até as mordidas no meu pé à noite. Dory (outro pet dela) já está sentindo sua falta. E nós também. Espero que ele descanse em paz e a quem fez isso espero que saiba que Exu toma conta e preste conta”, publicou. 

A suspeita delas é que os dois casos tenham ligação em função da proximidade das datas e por ser no mesmo bairro. “O Tony foi encontrado na rua onde esse suspeito que disse não gostar de gatos mora. A minha, segundo uma testemunha, foi encontrada na casa vizinha a desse suspeito também”, contou Marina.  

Pelas redes sociais, as tutoras se uniram contra o que chamaram de “um indivíduo cruel e covarde”. “Envenenar animais é crime. Matar ou maltratar animais é crime”, disseram. Gabrielle contou que após orientação jurídica, foi informada que só poderia fazer um boletim de ocorrência se tivesse provas de autoria ou do envenenamento. Ela procurou um veterinário e espera o resultado de necropsia para validar a tese da morte após contato com o veneno para levar o caso adiante. 

“Eu espero que toda a mobilização que estamos fazendo alcance o máximo de pessoas possível, sabemos que tem muita gente cruel no mundo e todo cuidado é pouco. Meu gato nunca incomodou ninguém, pelo contrário, gostava de ficar na porta da minha casa tomando sol. Minha família e eu ficamos muito assustados com o fato, já que no dia anterior ele estava bem e saudável. Sempre tivemos cachorros, dessa vez adotamos o Tony porque o encontramos ainda bem filhote abandonado na rua, tomamos todos os cuidados necessários com vacinas e medicação, estávamos aguardando a idade ideal para que fosse castrado”, finalizou.

A reportagem procurou a Prefeitura de Esmeraldas e aguarda resposta.

Lei Sansão

Maltratar animais é crime no Brasil. Desde setembro de 2020, a Lei 14.064, que serviu de marco na luta contra essa crueldade, endureceu as penas para quem praticasse condutas contra cães e gatos. A legislação ficou conhecida como Lei Sansão, em homenagem a um cachorro da raça pitbull que teve as pernas traseiras decepadas em Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte.

A partir da lei, a pena para maus-tratos contra cães e gatos aumentou de 3 meses a 1 ano de detenção (que podia ser cumprida em regime aberto ou semiaberto) para de 2 a 5 anos de reclusão (em regime fechado), além de multa e perda da guarda do animal. Caso o crime resulte em morte, a pena pode ser aumentada em até 1/3. Antes, os crimes eram considerados de menor potencial ofensivo.

Criador da Lei Sansão, o deputado federal Fred Costa (PRD) pontua que a legislação foi o “maior avanço na luta pelo bem-estar animal”. “A lei é uma quebra de paradigma entre impunidade e lei exemplar para bandido covarde que comete crime contra animais. Antes, não havia a possibilidade de ser preso em flagrante, e agora só tem opção de responder em liberdade por audiência de custódia”, afirma.

Outros animais

A Lei Sansão alterou a Lei 9.605/98, que dispõe sobre os crimes contra o meio ambiente, fauna e flora. Para outros animais, que não cães e gatos, seguem válidas as penas previstas na legislação de 1998: detenção de 3 meses a 1 ano e multa. Em caso de morte do animal, a pena é aumentada de um sexto a um terço.

Como denunciar

Para denunciar um crime de maus-tratos contra animais, ligue para a Polícia Militar (PM) no telefone 190. As acusações também podem ser feitas pelo telefone 181 ou em qualquer delegacia de polícia.