Primeiro de abril! Essa frase dita solta nesta terça-feira (1º de abril) já pode ser entendida como: você foi enganado. O Dia da Mentira é esse momento em que brincadeiras são socialmente aceitas. Mas, para quem replica notícias falsas pelas redes sociais, todo dia é 1º de abril. O problema é que algumas fake news extrapolam o mundo digital e têm implicações na vida real.
Não há um consenso sobre a origem do dia da mentira. Mas a versão mais conhecida remonta ao século 16, na França. Em 1564, o rei Carlos 9º mudou a data de celebração do Ano Novo – que era de 25 de março a 1º de abril – para 1º de janeiro. Um grupo de pessoas resistiu à mudança e passou a ser chamado de “bobos de abril”. Eram distribuídos convites para festas não marcadas e presentes sem sentido.
No Brasil, o jornal A Mentira noticiou a morte do então imperador do Brasil Dom Pedro II. Dois dias depois eles desmentiram a notícia alegando ser brincadeira de 1º de abril. Isso foi em 1848 e Dom Pedro II morreu apenas em 1981.
Relembre algumas mentiras contadas nas redes sociais e desmentidas nos últimos tempos:
Mosca do lixo transmite tuberculose em BH
Em novembro de 2024, um áudio de um suposto biólogo e agente de endemias assustou a população de Belo Horizonte. O conteúdo, que viralizou, principalmente no WhatsApp, alertava sobre a transmissão de tuberculose pela "mosca de lixo" por meio de contato com a pele. "Um tipo de tuberculose trazido pelo mosquito infectado pela Mycobacterium tuberculosis é extremamente difícil de ser tratada", dizia a mensagem, que indicava o registro de casos em Upas da capital e em Poços de Caldas, no Sul de Minas.
A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), no entanto, afirmou que a mensagem é falsa e garantiu que não há transmissão da doença por meio de moscas ou outros animais. "Na capital, não há casos de tuberculose transmitidos por moscas, já que não há a possibilidade de a mosca ser infectada com a bactéria Mycobacterium tuberculosis", disse. A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível, passada de pessoa para pessoa pela tosse, espirro ou fala. Ou seja, não há transmissão por meio de moscas, insetos ou outros animais.
Falso ataque de onça assusta moradores da Grande BH
Em outubro de 2024, a morte de uma jaguatirica, atropelada na rodovia LMG-808, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, gerou uma "onda" de fake news sobre um falso ataque de onça em grupos de aplicativos de mensagens e assustaram os moradores da região.
Após o encontro do felino, mensagens começaram a viralizar entre grupos de moradores da região, afirmando que havia ocorrido um ataque de onça na área. Em uma das mensagens, um morador chega a afirmar que três onças estariam atacando animais da região, sendo que um dos felinos havia sido morto.
No entanto, a prefeitura de Contagem negou o registro de casos do tipo. Em nota, a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) informou que não há registros de ataques de onças na cidade.
Falso radar de 30 km/h na barragem da Pampulha, em BH
Em janeiro deste ano, um vídeo viralizou nas redes sociais mostrando um suposto radar de 30 km/h na saída da barragem da Pampulha, no acesso à avenida Pedro I, em Belo Horizonte. Nas imagens, um motorista grava o equipamento, parcialmente encoberto por uma árvore no trecho. O vídeo se espalhou rapidamente, gerando a falsa impressão de um sensor de velocidade "escondido" para surpreender condutores desavisados. "Veja bem o que o nosso governo lindo colocou, logo aqui na Estação Pampulha. Um radar no meio do mato, olha isso aqui. E você não sabe outra, está vendo esse pessoal todo passando aqui? É um radar de 30 km. Eu já tomei umas duas multas aqui", dizia o autor da filmagem.
A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), no entanto, informou que o radar "não está operando" por ainda estar em fase de implantação. Além disso, a velocidade fiscalizada será, na verdade, de 60 km/h. "O equipamento vai monitorar a pista mista de veículos, cuja velocidade regulamentada é de 60 km/h. Antes do início da operação, serão instaladas faixas de tecido para informar os motoristas", informou o município. Até esta terça-feira (1º de abril), o radar não entrou em operação.
Fim da merenda gratuita em escola de MG
Em 2023, um trabalho escolar que alertava sobre a propagação de fake news repercutiu entre pais e/ou responsáveis de alunos da Escola Estadual Professor Gastão Valle, em Bocaiúva, no Norte de Minas. Um cartaz foi fixado nas dependências da escola informando que a instituição não teria mais merenda gratuita. “Aviso importante! A partir do dia 06/03 a merenda escolar não será fornecida gratuitamente, devido à baixa renda do estado, portanto venderemos os lanches na cantina da escola”, dizia.
O comunicado viralizou entre os estudantes de outras turmas, que compartilharam fotos do cartaz. Professores e a direção da escola foram procurados, sendo questionados sobre o fim da alimentação gratuita. Na ocasião, a direção teve que providenciar um comunicado interno, informando aos pais e/ou responsáveis que o conteúdo do cartaz era referente a um trabalho escolar. No texto enviado, a escola garantiu que a merenda continuaria gratuita e de qualidade.
Homem ameaçado após fake news sobre hambúrguer de carne de cães na Grande BH
Em dezembro de 2022, o dono de uma lanchonete de Pedro Leopoldo, na região metropolitana de BH, viu seu negócio de três anos ser ameaçado por uma notícia falsa que apontava que o seu estabelecimento estaria comercializando hambúrgueres de carne de cachorro.
Em um vídeo de mais de três minutos, o autor da fake news se aproveitou de uma postagem feita dias antes pelo proprietário da Locomotiva Lanches, Igor Luciano Alves, de 36 anos, para promover a desinformação. Nas imagens, ele aparecia desossando cordeiros para as festas de fim de ano, em um trabalho “freelancer” como açougueiro.
Três dias depois, o vídeo passou a circular com a legenda afirmando que se tratava de um cachorro, levando-o a perder clientes e, até mesmo, receber ameaças nas redes sociais. O empresário conta que recebeu mensagens de pessoas de São Paulo e até em Portugal que tinham recebido a notícia falsa.
Mulher afirma que PBH estava enterrando caixões vazios no lugar de vítimas da Covid-19
Em janeiro de 2020, a Polícia Civil de Minas Gerais indiciou uma mulher que afirmou que caixões estariam sendo enterrados com pedras no lugar de vítimas da Covid-19. Segundo as investigações, as informações eram falsas.
A autora do vídeo, Valdete Zanco, foi indiciada pelo crime de denunciação caluniosa, que prevê pena de dois a oito anos, e pela contravenção penal de provocação de pânico ou tumulto, com pena que varia de 15 dias a seis meses de reclusão. O inquérito foi encaminhado para a Justiça.
As imagens foram divulgadas em maio deste ano, e a suspeita sugeriu o envolvimento da Prefeitura de Belo Horizonte na suposta farsa. “Mandaram arrancar todos os caixões para poder fazer o exame e ver se é coronavírus mesmo. Sabe o que tinha dentro? Pedra e madeira. Um monte de caixão cheio de pedra e madeira. Palhaçada, não?”, disse a mulher no vídeo.
A mulher que fez o vídeo foi identificada e encontrada pela polícia em Jacutinga, no Sul de Minas, e prestou depoimento na cidade. Na época, a mulher chegou a fazer um vídeo pedindo desculpas por ter divulgado a notícia falsa.
“Quero primeiramente dar bom-dia para todos, agradecer à Polícia Civil, que está aqui. Quero pedir desculpa, perdão para o prefeito de BH, para o governador, o Estado de Minas Gerais e para as famílias que se sentiram entristecidas com aquilo. Quero, diante de todos, pedir desculpas e perdão, não era a minha intenção, eu não propaguei. Estou muito triste, sofri bastante com tudo isso que aconteceu e estou aqui para pedir desculpas e perdão”, disse.
O advogado dela chegou a conversar com a reportagem de O TEMPO em maio e explicar o que a motivou a fazer o primeiro vídeo. “No dia 27 de abril, ela viu no Facebook uma publicação que tratava essa questão. No outro dia, no trabalho, um cliente chegou e começou a falar do mesmo assunto. Então, ela fez um juízo de que aquilo era verdade e gravou para o irmão, em um grupo de família com cerca de 15 pessoas, sem interesse político. São pessoas simples. Pessoas fora de Minas Gerais. Nós não sabemos como vazou para um grupo de canal no YouTube. Acredito que daí surgiu a denúncia e repercutiu isso tudo. Pessoas do convívio dela contaram que tinha viralizado”, explicou Alexsander Ribeiro.
Na época, a Prefeitura de Belo Horizonte também esclareceu sobre os sepultamentos, dizendo que, “nos cemitérios municipais de BH, os sepultamentos são feitos mediante a apresentação de atestado de óbito ou da guia de sepultamento emitida pelo cartório, em conformidade com as informações contida no atestado de óbito. Esta deve ser apresentada no cemitério, acompanhada de documentos pessoais do solicitante”, disse a PBH.
Ameaças de massacres provocam pânico entre alunos, pais e professores em Minas Gerais
Em 2023, começaram a circular nas redes sociais diversas ameaças de massacres em escolas de Minas Gerais. Alunos, pais e professores entraram em pânico. As forças de segurança precisaram intervir para acalmar a população, afirmando que as pessoas estavam se aproveitando da noção de anonimato na internet para promover o caos.
Na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (Puc Minas), da unidade Coração Eucarístico, em Belo Horizonte, o compartilhamento de mensagens de medo sobre uma suposta ameaça de massacre por um suposto aluno levou a instituição de ensino a se pronunciar, negando os fatos. “Informações falsas distribuídas por má fé”, definiu na época. Mesmo assim, o clima de insegurança ainda não teve fim.
Além disso, no mesmo ano, circulou um áudio de WhatsApp dizendo que um homem preso por apologia ao nazismo iria se vingar atacando escolas e levou pânico aos moradores de Piraúba, na região da Zona da Mata de Minas Gerais. Instituições de ensino amanheceram vazias.