A moto foi o meio de transporte escolhido pelo assessor parlamentar Luiz Henrique Soares, de 22 anos, para se deslocar mais rapidamente. Porém, no dia 11 de março, ele saiu do trabalho, no bairro Santo Agostinho, na região Centro-Sul de BH, em direção ao São Gabriel, na região Nordeste, mas não chegou ao destino. Durante o percurso, de aproximadamente 10 km, o jovem sofreu um acidente.

“Quando me aproximei do acesso ao túnel da Lagoinha, o trânsito estava completamente parado. Fui freando. Porém, outro motociclista, em alta velocidade, bateu na minha traseira e me arremessou longe”, conta. Com a batida, Soares fraturou a clavícula e o ombro, além de sofrer escoriações pelo corpo. “Fiquei refletindo por dias que, se tivesse sido algo mais grave, eu poderia ter morrido”, lembra o rapaz, que voltou a trabalhar no dia 24 de março, após dias afastado.

O assessor escapou da morte, mas entrou para uma estatística que preocupa: na capital mineira, um de cada cinco acidentes de trânsito envolve motociclistas. De acordo com dados do Painel de Acidente de Trânsito fornecido pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp-MG), em 2024, BH registrou 84.696 acidentes de trânsito, e, destes, 20.242 envolviam motos – 23,9% do total. Em 2025, em janeiro e fevereiro, foram 3.077 acidentes com moto, superando o mesmo período do ano passado (2.893). Para piorar as estatísticas do total de batidas envolvendo motocicletas em 2024, 10.048 delas deixaram pelo menos uma vítima, sendo 96 mortas.

Especialista em trânsito e diretor da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), Alysson Coimbra avalia que o grande número de acidentes ocorre por uma combinação de fatores. “O número de motos tem crescido significativamente, especialmente com o aumento da demanda por entregas rápidas via aplicativos, o que aumenta a exposição ao risco. Além disso, a moto é o veículo com maior índice de vulnerabilidade física, e muitos motociclistas ainda adotam práticas perigosas, como ultrapassagens arriscadas, costuras entre veículos, excesso de velocidade e desrespeito aos semáforos”, analisa.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a frota de motos cresceu 22,4% em cinco anos em BH, passando de 242.840, em 2020, para 297.242, em 2024. Atualmente, ela é 10,7% do total de 2,7 milhões de veículos da cidade.

Entregador, Gleisson Gonzaga, de 23 anos, atua como motoboy desde 2022. No ano passado ele ficou sem poder trabalhar após a moto que pilotava ser atingida por um carro no bairro São Gabriel. “O motorista entrou na contramão. Eu quebrei a clavícula e fiquei mais de cinco meses parado. Tive que contar com ajuda para cobrir as despesas da casa”, lembra o jovem, que sustenta a mulher e a filha, de 3 anos.

Gonzaga diz que busca seguir as regras de trânsito, mas admite que muitos colegas de profissão infringem as leis. “Nos horários de pico parece coisa de maluco, sabe? Todo mundo quer chegar primeiro, e é aí que rolam os acidentes. A pressa fica acima das leis de trânsito”, afirma.

Para mudar essa situação, o motoboy sugere medidas. “Podemos melhorar a educação e a conscientização, com campanhas de direção defensiva e treinamentos para motociclistas; fiscalização rigorosa, reforçando o uso de equipamentos de segurança e punindo infrações comuns”, destaca Gleisson Gonzaga.

Falta de atenção é causa registrada na metade das ocorrência

Os dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp-MG) mostram que a falta de atenção dos motociclistas foi registrada como um dos fatores que provocaram 10.284 (50,8%) acidentes envolvendo motos em 2024 em Belo Horizonte. A estatística é seguida por outras causas relacionadas a trânsito, em 4.427 ocorrências (21,8%), e não manter distância de segurança, em 866 casos (4,27%).

“A imprudência é, sem dúvida, um dos principais fatores que levam aos acidentes envolvendo motociclistas, mas não pode ser vista como a única causa. O cenário é mais complexo e envolve diversos fatores igualmente relevantes, como infraestrutura deficiente – como buracos na pista –, falta de fiscalização adequada e condições psicológicas dos condutores”, diz o especialista em trânsito e diretor da Associação Mineira de Medicina do Tráfego, Alysson Coimbra.

“As pessoas acham que nunca vai acontecer com elas, pilotam como se fossem ‘os mestres das motos’”, critica Luiz Henrique Soares, vítima de acidente. 

Hospital João XXIII

De acordo com a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), o Hospital João XXIII realizou 7.227 atendimentos a ocupantes de motocicletas acidentados em 2024. O levantamento de 2025 mostra que em janeiro e fevereiro foram 1.110 atendimentos, superando os 1.009 registrados no mesmo período do ano passado.