A obra de alargamento do viaduto sobre a BR-356, no bairro Belvedere, região Centro-Sul de Belo Horizonte, vai continuar, conforme informou o prefeito Álvaro Damião. No último dia 4, o empreendimento que promete desafogar o trânsito na região, com a construção da terceira faixa de rolamento no sentido Santa Lúcia, foi temporariamente suspenso após solicitação dos moradores no local. Mas, na manhã deste domingo (13), o chefe do executivo municipal visitou o local e descartou a possibilidade de interromper a intervenção.
“Acredito que a maioria (da população) quer a obra no Belvedere, porque vai melhorar a qualidade de vida das pessoas”, afirmou. A obra gerou debate e controversa pois prevê o corte de 200 árvores. Contudo, Damião garantiu aos moradores que vai reflorestar a região ainda antes das máquinas iniciarem a operação. "Se tivermos de retirar 200 árvores, vamos replantar 800 aqui no bairro mesmo. Esse é o compromisso da prefeitura, e faremos isso antes das obras”, sentenciou.
Durante o encontrou, que aconteceu na Associação dos Moradores do Bairro Belvedere (AMBB), Damião ainda informou que a prefeitura pretende assumir o gerenciamento da Lagoa Seca. “É um patrimônio do bairro, e a prefeitura está com um projeto para cuidar (da lagoa). Pretendemos torná-la pública e melhorar a qualidade dela”, disse.
No total, 7.743 moradores do Belvedere assinaram um documento se mostrando favoráveis às obras de revitalização. No encontro com a comunidade, Damião ressaltou que a prefeitura sempre vai ouvir a opinião da população: “Todas as obras estruturantes de Belo Horizonte, independente do bairro, serão pela maioria”.
Controversa
Corretor de imóveis e morador da região, José Soares, de 58 anos, se mostrou favorável à revitalização. Para ele, a mudança facilitará o acesso a outros bairros e também a outros municípios: “Todos os dias gasto 12 minutos na ida ao trabalho e, para retornar, gasto mais de uma hora. As obras irão facilitar e muito o acesso”, ponderou.
Já a advogada e moradora Ana Cristina Arantes é contrária ao atual projeto e sugeriu alternativas: “Acredito que existam outras opções melhores, como viabilizar uma via por cima e outra por baixo. Seria uma obra maior, mas ampliaria realmente a via, com faixas largas tanto na ida quanto na volta”, afirmou.
Questionada sobre o principal motivo da insatisfação, respondeu: “Sou desfavorável principalmente devido à mobilidade. As árvores, você consegue remanejar, foram plantadas e podem ser replantadas. Mas é possível pensar diferente, encontrar uma alternativa melhor de engenharia, que projete a cidade para daqui a 15 anos, e não só para agora, com os novos prédios que vão ser inaugurados. Esse projeto atual não resolve o futuro”.
O deputado estadual João Vítor Xavier (Cidadania) destacou a importância das obras no Belvedere, classificando-as como “a realização de um desejo aguardado há 30 anos pela população da região”. Para ele, trata-se apenas do começo: “Espero que sejam as primeiras de muitas que venham”. Segundo o deputado, os impactos do trânsito ultrapassam a mobilidade urbana e afetam diretamente a vida das pessoas. “As pessoas ficam até uma hora paradas no trânsito, longe da família. Isso é um problema de saúde pública”, afirmou o parlamentar. João Vítor criticou a estagnação da cidade em relação à infraestrutura e defendeu avanços urgentes: “Belo Horizonte precisa de túnel, ponte e todo tipo de obra de infraestrutura. Nossa cidade parou no tempo, e não podemos permitir que isso continue”. Ele também ponderou que os problemas atuais são reflexos de gestões passadas: “Os problemas de mobilidade não foram criados pela atual gestão, mas ela está mitigando erros do passado”. Por fim, reforçou que os investimentos não podem parar: “Essas quatro obras são um alívio inicial, mas precisamos de muitas outras para resolver o problema de toda a região”, concluiu.
A vereadora Fernanda Altoé (Novo) reforçou que a preservação ambiental está sim no radar das autoridades e que há soluções viáveis para minimizar os impactos: “A preocupação com a área verde precisa ser considerada, mas temos alternativas para isso. Estou justamente tentando mostrar que, com a execução da obra, é possível aplicar um aditivo contratual de até 25%, o que permitiria ampliar o cinturão verde e criar áreas de lazer, algo que hoje não existe aqui. As pessoas ainda não estão conseguindo visualizar que há uma solução viável”
Já o presidente da associação de moradores, José Eugênio, avaliou as intervenções como urgentes e bem-vindas: “Extremamente necessário, demorou, mas chegou”. Segundo ele, a comunidade compreende a importância das obras e confia no compromisso da gestão municipal com o meio ambiente. “O prefeito disse que serão plantadas muito mais árvores”, concluiu.
O projeto
O prefeito afirmou que o projeto de intervenções viárias nas proximidades do BH Shopping será mantido conforme o formato original. Segundo ele, uma alternativa chegou a ser analisada, mas acabou sendo descartada devido a questões o inviabilidade técnica e financeira.
“Buscamos essa segunda opção, mas ela se tornou inviável porque o corte que seria feito no orçamento faria com que a empresa responsável desistisse da obra. Para elaborar um novo projeto e reiniciar todo o processo, levaríamos muito tempo. A população não aguenta mais esperar. Eles querem a obra, então vamos manter o projeto inicial, realizar a intervenção e atender a todos”, explicou o prefeito.
O projeto da Prefeitura prevê duas intervenções nas proximidades do BH Shopping, com investimento estimado em cerca de R$ 16 milhões. A primeira consiste no alargamento do viaduto sobre a BR-356, com a criação de uma terceira faixa de rolamento no sentido Belvedere–Santa Lúcia, além de adequações nos encaixes das alças existentes.
O contrato com a empresa vencedora da licitação já está em vigor. No momento, está sendo realizada a fase de verificação estrutural. A expectativa é de que as obras comecem ainda no primeiro semestre de 2025, com conclusão estimada para o final de 2026.
A segunda intervenção prevista é a implantação de um novo viaduto, que permitirá o acesso direto dos veículos que vêm da BR-356 (sentido Belo Horizonte–Rio de Janeiro) para a MG-030 (sentido Belo Horizonte–Nova Lima), eliminando a necessidade de passar pelo trevo BR-356 com avenida Raja Gabaglia. Esta etapa do projeto ainda está em fase de estudos e elaboração técnica.