Thiago Schafer Sampaio, de 21 anos, e Lucas Rodrigues Pimentel, de 29 anos, suspeitos de matar a jovem Clara Maria Venâncio Rodrigues, de 21, e concretar o corpo dela no bairro Ouro Preto, na região da Pampulha, em Belo Horizonte, vão sentar no banco dos réus e irão à júri popular, conforme decisão da Justiça divulgada nesta segunda-feira (7 de abril).
Em sua decisão, a juíza Ana Carolina Rauen Lopes de Souza afirmou que "há indícios da materialidade e autoria, bem como fundamentos que justificam a medida extrema, em especial a gravidade concreta das condutas imputadas e o risco à ordem pública, considerando o modus operandi e a gravidade do delito".
Kennedy Marcelo da Conceição Filho, amigo dos dois réus, foi excluído do processo já que, conforme a juíza, "não houve o oferecimento de denúncia em desfavor dele".
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O que se sabe sobre o crime até agora?
Informações divulgadas pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) e as apurações da equipe de O TEMPO narram o contexto macabro do crime. Confira o que se sabe até agora:
Quando Clara desapareceu?
Ela estava desaparecida desde o dia 9 de março. Neste dia, a jovem foi até a casa dos indiciados na intenção de receber R$ 400 de uma dívida que um deles mantinha com ela. A intenção da jovem era encontrar o homem em um local público, mas, com a desculpa de que o dinheiro estava na residência, ela foi até o local. Familiares e amigos deram queixa do desaparecimento na polícia, e a Divisão de Referência à Pessoa Desaparecida iniciou os trabalhos de buscas.
Onde o corpo foi localizado?
Três dias depois de sumir, o corpo da jovem Clara Maria foi encontrado na casa de um dos supeitos, localizada no bairro Ouro Preto, na região da Pampulha, em Belo Horizonte, no final da manhã do dia 12 de março. A Polícia Militar foi acionada e acompanhou a ocorrência.
Segundo as informações, depois de matarem a jovem e manterem o corpo dela sobre uma cama por um dia, onde pode ter ocorrido a prática de necrofilia (sexo com cadáver), os suspeitos enterraram o corpo e jogaram concreto para cobrir.
Ao chegar ao local, a Polícia Civil de Minas Gerais percebeu um forte cheiro e notou que uma área do jardim estava recém-cimentada. Questionado, o homem, inicialmente, negou envolvimento no desaparecimento da jovem, mas acabou confessando que o corpo dela estava enterrado no local. Ele resistiu à prisão, mas foi contido pelos policiais.
O Corpo de Bombeiros auxiliou na remoção do corpo, e o caso foi atribuído ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, da PCMG.
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Quem foi preso?
O homem, de 21 anos, apontado como principal suspeito da morte de Clara Maria Venâncio Rodrigues, confessou o crime e, durante o interrogatório, entregou os nomes de dois comparsas, que também foram presos. Um deles foi localizado em sua residência, na cidade de Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte. Durante a abordagem, ele confessou participação no crime. O celular dele foi apreendido.
O outro foi encontrado em seu local de trabalho, na avenida Fleming, no bairro Ouro Preto, em Belo Horizonte. Inicialmente, ele negou participação no homicídio, mas admitiu ter estado na casa do principal suspeito.
No curso dos trabalhos de investigação e nas entrevistas um dos suspeitos citou a participação de um terceiro autor, o qual também foi conduzido até o DHPP e ouvido formalmente. Porém, não há evidência, por ora, de sua participação nesse crime.
Quais as motivações para o crime?
A primeira linha de investigação apontou que o crime teria sido motivado por uma dívida de R$ 400. Clara Maria teria emprestado o valor ao principal suspeito, o primeiro a ser preso, durante o período em que trabalharam juntos em uma padaria da região. Segundo testemunhas, a jovem vinha cobrando o pagamento e, no dia do desaparecimento, teria aceitado se encontrar com o homem para receber o valor.
Depois, a polícia encontrou indícios que apontam que o crime foi premeditado. Conforme o delegado Alexandre Oliveira da Fonseca, a instituição trabalha com a hipótese de que uma das motivações do assassinato tenha sido o desejo de um dos suspeitos de praticar necrofilia, ou seja, ter relações sexuais com um cadáver.
Fonseca afirmou que um dos suspeitos já havia demonstrado ter propensão para a prática de necrofilia. Além dessa motivação, um dos suspeitos, que seria simpatizante do nazismo e teria sido criticado em público por Clara, estaria com ‘ódio’ dela pela repressão. Ele também teria tentado ter um relacionamento com a jovem, sem sucesso. O homem, ao vê-la com o namorado, teria ficado enciumado e decidido matar a vítima.
O namorado de Clara Maria revelou que, no dia 7 de março, o casal teria avistado o principal suspeito em uma choperia. Na ocasião, Clara comentou que ele lhe devia dinheiro e sempre evitava pagá-la.
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Como foi o crime?
Segundo a Polícia Civil, Clara já tinha dado a dívida de R$ 400 como perdida, apesar de o dinheiro que ela ganhava ajudar a pagar o aluguel. “Ela disse que não queria mais contato com ele (suspeito)”, explicou o delegado Alexandre Oliveira da Fonseca, em coletiva para imprensa nessa quinta-feira (13), um dia depois de o caso vir à tona.
No entanto, no dia do crime, sem que a vítima solicitasse, o suspeito teria falado que a pagaria. Eles combinaram de se encontrar em um local público, porém o homem a convenceu a ir até a casa dele com a desculpa de que o dinheiro estava na residência. Clara, então, aceitou ir até o imóvel, onde o outro suspeito também estava.
No local, logo nos primeiros minutos, o suspeito deu um golpe de mata-leão na vítima, que morreu estrangulada. O corpo teria ficado nu durante toda a madrugada de domingo até a noite de segunda, quando os suspeitos o enterraram no imóvel e concretaram.
Aos policiais, os suspeitos deram outra versão do crime. De acordo com eles, a intenção era roubar Clara e acessar as contas do banco dela pelo celular. Porém, as investigações apontam que a versão é contraditória, uma vez que a vítima foi morta assim que entrou na residência e, para que cometessem os roubos pelo celular, precisariam dela viva para informar senhas.
Houve necrofilia?
Exames estão sendo realizados para comprovar ou não se, durante o tempo em que o corpo da jovem ficou nu na residência, os atos de necrofilia foram cometidos. Um dos suspeitos teria dito algo que chamou a atenção dos policiais nesse sentido: “Não tirei fotos e nem toquei o corpo dela”. Ele não havia sido perguntado sobre o assunto, o que levantou suspeitas de que, de fato, ele teria feito o que negou.