Como seria sua preparação para correr uma meia-maratona? Semanas de sono em dia e alimentação equilibrada? Treinos programados, tênis com boa tecnologia e hidratação? No caso de Marcos Fernandes, de 55 anos, foi uma madrugada regada a pinga, um chapéu na cabeça para enfrentar o sol e, nos pés, uma bota — símbolo da vida na roça — no lugar de qualquer tênis de performance. Assim nasceu a história do “cowboy corredor”.

Em 29 de junho deste ano, Marcos foi à tradicional Festa da Fogueira, em Cachoeira de Minas, no Sul do Estado, bebeu a madrugada inteira e acabou dormindo num banco da praça. Estava sem dinheiro para voltar para casa, em Santa Rita do Sapucaí, que fica a 20 km de distância. Quando acordou, por volta das 6h, percebeu que ali começaria uma meia-maratona de 21 km. Sem treino,  equipamento adequado e  de ressaca, decidiu largar junto dos corredores.

“Tava sem dinheiro e com vontade de ir embora. Só pensei: eu aguento. Eu vou.” O ato marcou o início de uma transformação pessoal. Completou os 21 km sob o sol forte, com calça jeans, fivela, chapéu e botas. “Na hora eu só queria chegar. A bota pesava, o sol queimava, mas o povo gritava e isso me empurrava. Quando cheguei, eu senti que Deus estava comigo. Eu não corri por prêmio, corri pra mostrar que eu ainda estou vivo", contou.

Da pinga à pista

A corrida surgiu em meio a um momento difícil de vida. Nos meses anteriores, Marcos consumia cerca de um litro de cachaça por dia. Vivia o luto da perda de um filho e enfrentava dificuldades financeiras e emocionais. 

A partir da primeira meia-maratona, Marcos não parou mais de correr. “Sou só um homem que correu de bota e chapéu, que é o que amo. Deus é que tá fazendo o nome andar. Eu só corro.”

Hoje, treina com acompanhamento profissional, faz exames médicos, recebe apoio de seguidores nas redes sociais e corre todos os dias como forma de lutar contra o vício. Criou o perfil @marcosocowboycorredor e virou inspiração. Após viralizar, uma vaquinha foi criada para ajudá-lo — ele não tinha móveis em casa.

Mesmo sem histórico de atleta, já se classificou em 4º lugar na categoria de 40 a 49 anos em duas corridas. “Antes eu só acelerava na roça. Agora eu acelero na pista também. Quando corro, parece que deixo pra trás um pouco da dor. Parece que Deus corre do meu lado.”

Hoje, aos 43 anos, ele vive um dia de cada vez. Reduziu o álcool, mantém a fé, e tem novos objetivos: participar da Corrida de São Silvestre em 2026 e seguir inspirando quem enfrenta lutas invisíveis. “Agora eu tenho um motivo pra acordar cedo que não é só o trampo. É a corrida. É o povo que acredita em mim.”