Dívidas com jogos e empréstimos consignados foram as principais causas de discussões entre Matteos França, de 32 anos, filho da professora Soraya Tatiana, de 56, que terminaram com o homem matando a própria mãe enforcada, no dia 18 de julho. O corpo da mulher foi encontrado no domingo (20/7) em Vespasiano, na região metropolitana de Belo Horizonte.

Preso nesta sexta-feira (25/7), na casa do pai, no bairro Jardim Alvorada, na região Noroeste de Belo Horizonte, Matteos confessou o crime. De acordo com o depoimento dado à Polícia Civil, ele disse que agiu sozinho e teve um surto após uma discussão acalorada.

Mas quem é Matteos França?

Aos 32 anos, Matteos trabalhava como assessor na Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social do Governo de Minas Gerais. Formado em Relações Públicas pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) em 2019, começou a trajetória profissional como vendedor em uma loja de roupas no fim de 2012, conforme consta no perfil dele no Linkedin.

Com fluência em inglês e nível avançado em espanhol, além do básico em francês, trabalhou como recepcionista bilíngue durante a Copa das Confederações em 2013 e também na Copa do Mundo de 2014, ambas disputadas no Brasil.

Após fazer estágios na área da comunicação em grandes empresas, como Banco do Brasil e Fiat Chrysler Automobiles, Matteos trabalhou durante três anos e meio na MRV, sendo 11 meses como estagiário de marketing e dois anos e sete meses como assistente de marketing.

Antes de assumir o cargo de assessor na Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social, em setembro de 2021, ele teve uma experiência de sete meses como analista de marketing na Vila Construtora.

Ainda no próprio perfil do LinkedIn, Matteos se autodenomina uma pessoa com competências como análise de prestação de contas, gestão de processos, assessoramento, relações públicas, marketing, planejamento estratégico, gestão de conteúdo e social media.

Relacionamentos

Em conversa com a reportagem de O TEMPO, uma pessoa que já teve contato com Matteos, por causa da faculdade, disse que uma amiga que trabalhou com ele sempre falava que o homem de 32 anos era uma pessoa muito cuidadosa e carinhosa, e que nunca suspeitaria que ele fosse o autor do crime. Essa ex-companheira de trabalho também informou que ele pediu dinheiro emprestado cerca de três vezes no ano passado.

Alunos da Soraya no ensino fundamental relataram para a reportagem de O TEMPO que tiveram contato com Matteos, quando estudaram no mesmo colégio. Eles contaram que faziam algumas atividades com o jovem e que nunca viram qualquer tipo de comportamento agressivo. Em um grupo no WhatsApp, composto por estudantes daquela época, as mensagens após o surgimento da possibilidade de ele ter cometido o crime eram de "perplexidade e susto".

Rede social

Com pouco mais de 3 mil seguidores no Instagram, Matteos mantém o perfil privado na rede social. Ou seja, apenas pessoas que o seguem podem ver as publicações. Segundo uma jovem que o segue, e que foi ouvida pela reportagem de O TEMPO, o homem de 32 anos apagou diversas fotos e deixou apenas duas em que aparece com a mãe. Uma delas, em 9 de fevereiro de 2024, no aniversário de Soraya, e a outra, despedindo-se após a confirmação da morte da mulher.

Post se despedindo da mãe

Post se despedindo da mãe
Post se despedindo da mãe (Créditos: Reprodução / Redes Sociais)

"Você foi mais do que apenas mãe. Foi minha amiga, minha parceira, minha maior encorajadora, incentivadora, minha inspiração, meu amor. Você foi e sempre será a melhor professora que eu já tive, não só de História, mas de toda uma vida. Você fez, é e sempre será uma linda história. Te amo para sempre!", publicou Matteos.

Defesa

Responsável pela defesa do suspeito, o advogado Gabriel Arruda disse apenas que conversou brevemente com Matteos e ainda não teve acesso ao inquérito. “Quando tivermos todas as informações, vamos nos manifestar oficialmente”, afirmou.

Relembre o caso

Desaparecimento

De acordo com o boletim de ocorrência, registrado pelo filho de Soraya na noite de sábado (19/7), ele saiu de casa por volta das 20h de sexta-feira (18/7) para uma viagem à Serra do Cipó. A mãe estava na sala de casa, vestida com uma camisola cinza, quando ele saiu. Na manhã do dia seguinte, ainda conforme o relato do filho, ele enviou uma mensagem para a mãe, mas ela não teria sequer recebido. 

Apartamento vazio

Ainda segundo o documento policial, o filho da professora pediu que uma tia, que mora no mesmo prédio, fosse até o apartamento. Ele solicitou que um chaveiro abrisse o imóvel para que sua tia tivesse acesso, mas não foi encontrado nenhum vestígio da mulher. Diante da situação, o rapaz teria voltado para casa, onde encontrou o lugar sem sinais de alteração ou arrombamento. O carro de Soraya também estava na garagem do prédio.

Buscas em hospitais

O filho, junto do pai, iniciou uma série de visitas a hospitais da capital e ao Instituto Médico Legal (IML), além de contatos com amigas para tentar descobrir o paradeiro da professora. Sem informações, ele também tentou acessar câmeras de segurança da rua onde mora com a mãe e o notebook da mulher, mas não conseguiu obter nenhuma evidência sobre sua localização.

Corpo encontrado em Vespasiano

O corpo da educadora foi encontrado neste domingo (20/7) sob um viaduto, na avenida Adélia Issa, no bairro Conjunto Caieiras, em Vespasiano, na Região Metropolitana. Ele estava parcialmente coberto por um lençol, e a vítima vestia somente a parte de cima da roupa — uma blusa cinza. A perícia constatou marcas de queimaduras nas partes internas das coxas e manchas de sangue, possivelmente relacionadas a violência sexual.

Investigação

A Polícia Civil encaminhou o corpo da mulher para o IML, onde passou por exames e foi liberado aos familiares. A PCMG agora aguarda a conclusão de laudos periciais que irão atestar as circunstâncias e a causa da morte. "A investigação está em andamento, e outras informações podem ser divulgadas à medida que os procedimentos policiais avançam.", informou em nota.

Escola onde trabalhava

O Colégio Santa Marcelina, situado na região da Pampulha, local onde trabalhava, lamentou a morte da professora nas redes sociais. "Toda a comunidade educativa da Rede Santa Marcelina se une em oração e solidariedade à sua família, colegas e estudantes neste momento de dor. Rogamos a Deus que a acolha com amor e misericórdia, e que conforte todos os que choram sua partida. Sua memória permanecerá viva entre nós", escreveu a instituição de ensino em suas redes sociais.

Homenagens

Nas redes sociais, inúmeros relatos de pais e alunos a descrevem a professora como amiga, profissional excelente e alguém que atuava além do ensino, trazendo mensagens de carinho e incentivo aos estudantes. Uma mãe afirmou que o legado deixado por Soraya era visível na forma como os filhos mencionavam ela em casa. "Através dos olhares, atitudes e palavras de nossos filhos, reconhecemos aquele professor que é muito mais do que um educador, um ser iluminado, que se preocupa com os alunos além do conteúdo didático", lamentou.

Sepultamento

“Lutaremos por sua memória. Seu sorriso não se apagará!” — a frase estampava adesivos com a foto de Soraya Tatiana França durante o sepultamento da professora, realizado na manhã da última terça-feira (22/7), no Cemitério da Paz, no bairro Caiçara, região Noroeste de Belo Horizonte. Familiares, amigos, ex-alunos e colegas da escola Santa Marcelina se despediram da profissional com orações e homenagens. “Ontem eu descobri o alcance do amor da minha filha. Fiquei impactado com tanto carinho, tantas flores, tanta gente", disse o pai da professora, Nilton França.