Conhecida pela grande variedade de bares e restaurantes no bairro Santa Amélia, região da Pampulha, em Belo Horizonte, a avenida Guarapari tem sido palco de episódios de desordem, medo e insegurança, especialmente durante a realização de bailes funk. Para evitar que cenas como as da madrugada de 6 de julho de 2025 — quando uma briga generalizada ocorreu durante um desses eventos — se repitam, a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) iniciou, nesta sexta-feira (8/8), mais uma fase da operação “Ocupação Guarapari”.

Segundo a corporação, a ação também visa impedir a venda de bebidas alcoólicas e produtos similares a menores de idade, combater o tráfico de drogas, coibir a perturbação do sossego e prevenir crimes contra o patrimônio na avenida.

De acordo com o tenente Luís Souza, do 49º Batalhão da PMMG, as operações na região serão ininterruptas, 24 horas por dia, ao longo de toda a semana. Nos finais de semana — sextas, sábados e domingos — haverá reforço no policiamento, com blitzes especialmente no cruzamento da avenida Guarapari com a avenida Portugal.

“A avenida Guarapari, em razão da concentração de estabelecimentos comerciais, atrai um grande número de pessoas, entre elas famílias e cidadãos de bem, mas também indivíduos que promovem desordem. Nosso objetivo é combater essa desordem, proteger a comunidade e prender aqueles que a causam. As operações contam com efetivo expressivo, diversas abordagens policiais e fiscalização de trânsito, tudo para garantir a tranquilidade dos frequentadores”, afirmou o tenente Souza.

Rodney Costa / O TEMPO

O oficial destacou que a PM não tolerará qualquer ação que comprometa a segurança dos moradores e visitantes da região.

“A presença ostensiva da Polícia Militar inibe a criminalidade e previne ações delituosas. Temos recebido relatos de maior tranquilidade por parte da comunidade”, disse.

‘Presença da polícia ajuda, mas desordem pode continuar’, diz comerciante

Arthur Duval, 25 anos, gerente de um bar na região, afirma que a presença policial contribui para a segurança, mas observa que as confusões costumam começar após o fechamento dos estabelecimentos.

“Meu bar funciona até meia-noite ou meia-noite e meia; nos finais de semana, no máximo até 1h ou 1h30. A desordem acontece depois disso. Não acho que a culpa seja dos bares. Os funcionários encerram o expediente e vão para casa, mas as pessoas que causam tumulto permanecem na praça. A polícia é importante para garantir a segurança de quem trabalha e de quem frequenta os bares, mas acredito que, com ou sem a presença dela, quem quer arrumar confusão vai continuar fazendo isso. O problema persiste até 5h ou 6h da manhã”, afirmou.

‘Blitz às 20h prejudica moradores’

Um morador da avenida Guarapari, que pediu para não ser identificado, elogiou a presença da PM, mas criticou o horário de início de uma das blitzes, que ocorreu às 19h. Para ele, a fiscalização deveria ocorrer quando o movimento aumenta.

“Fiscalizar às sete da noite não tem efeito. O ideal é começar a partir das onze ou meia-noite, quando as pessoas realmente começam a se reunir. Entre sete e oito horas, a presença policial nos bares não inibe nada. Mas reconheço que a atuação da PM durante a madrugada é positiva”, disse.
Sobre a crítica, o tenente Souza explicou que o horário é estratégico.

“O objetivo é prevenir, abordando as pessoas antes que as aglomerações se formem. É uma estratégia para mostrar a presença policial e inibir delitos desde cedo”, justificou.

Rodney Costa / O TEMPO

‘Grau, sexo e drogas’: moradores e comerciantes denunciam caos

Na madrugada de 6 de julho de 2025, uma aglomeração na avenida Guarapari terminou em briga generalizada. Imagens de câmeras de segurança mostraram a correria após a intervenção da PM.

Cinco dias depois, a reportagem de O TEMPO esteve no local e ouviu moradores e comerciantes sob anonimato. Todos relataram insegurança, sujeira e prejuízos financeiros. Um atendente de bar contou já ter presenciado pessoas armadas no local:

“Aqui é um bar familiar. Um dia, um homem armado apareceu na esquina. Os clientes viram e foram embora com medo. Tiro para o alto é comum”, disse.

Outro comerciante afirmou que o movimento dos bailes funk afasta clientes: “Estamos perdendo clientela. Criou-se essa fama ruim da avenida por causa da bebedeira e do uso indiscriminado de drogas. Quem vinha para curtir os bares agora evita o local”, lamentou.

Segundo moradores, as denúncias à PM são frequentes. A corporação informou que, somente este ano, já realizou 116 operações na avenida — uma média de quatro por semana —, concentradas entre 18h e 6h nas sextas, sábados e domingos.

O tenente-coronel Luiz Vitor Tagliate, comandante do 49º BPM, afirmou que o policiamento é constante e que, no momento da confusão de 6 de julho, viaturas estavam no local dispersando a multidão. “Não houve feridos”, disse.

Entre as medidas adotadas estão a identificação de organizadores de eventos não autorizados, fiscalização de comércios, autuação de veículos irregulares e apreensão de carros com som acima do permitido.

Sujeira

Quando o som alto acaba e os carros deixam o local, a sujeira fica. Cacos de vidro, copos descartáveis, urina, fezes e vômito se acumulam nas portas de comércios e residências.

“Só funcionamos até as 19h, mas já encontrei minha porta com vômito, vidro quebrado e pinos de droga. O cheiro é insuportável”, contou uma vendedora.

Outro comerciante relatou que a prefeitura intensificou a limpeza na área: “Aumentaram a varredura nas segundas-feiras para melhorar o aspecto da praça. Antes, era um espaço de lazer e convivência; hoje é isso que vemos”, criticou.