O número de acidentes envolvendo motociclistas em Belo Horizonte aumentou 56,18% nos últimos seis anos, segundo dados do Painel de Acidentes de Trânsito da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp). Em 2018, foram registradas 13.158 ocorrências, número que saltou para 20.553 em 2024 — o que equivale a dois casos a cada hora. A única queda no período foi em 2020, primeiro ano da pandemia, mas os números voltaram a crescer de forma expressiva a partir de 2021. Foi também nesse ano que teve início, na capital, o serviço de transporte de passageiros por motocicletas via um aplicativo. Em 2025, até agosto, já foram contabilizados 12.057 acidentes.
Durante o lançamento de uma pesquisa conduzida pelo Instituto Cordial em parceria com a 99, empresa de mobilidade urbana, nesta terça-feira (2/9), em Belo Horizonte, foram apresentados dados específicos sobre segurança viária no transporte por aplicativo. Segundo o levantamento, a taxa de sinistralidade a cada 100 mil motociclistas da categoria 99Moto é seis vezes menor em comparação à taxa geral de acidentes com motos.
De acordo com o levantamento, em 2023, os sinistros registrados em corridas pela 99Moto representaram apenas uma pequena fração do total contabilizado na capital, mesmo com o crescimento do número de viagens. Quando considerados apenas os casos graves e fatais, as taxas foram de 0,43% e 0%, respectivamente — não houve mortes em viagens realizadas pela categoria no ano passado. Em 2024, os índices permaneceram baixos.
Tecnologia e prevenção
Para o o diretor de Qualidade e Segurança na 99, Igor Soares esse resultado se deve a um conjunto de fatores que vão desde o investimento em tecnologia até medidas de prevenção aplicadas diretamente no aplicativo. "A gente já adota uma série de medidas para segurança, principalmente usando tecnologia para prevenção. Temos também uma equipe especializada em acolhimento, que atua depois de incidentes, acionando seguro e oferecendo apoio à vítima. Chamamos isso de resposta, mas nosso foco principal é a prevenção”, explicou o diretor.
De acordo com a 99, a empresa monitora padrões de direção e adota ferramentas para alertar condutores em situações de risco, como excesso de velocidade ou comportamento inadequado ao volante. Além disso, a companhia afirma investir em campanhas educativas e em parcerias com órgãos públicos para reforçar a cultura de segurança viária. “Especificamente para motociclistas, desenvolvemos soluções como o Dicas no Mapa. Essa ferramenta funciona como uma extensão da sinalização de trânsito e mostra alertas de faixa de pedestre, área escolar, curva perigosa, entre outros pontos. Ela utiliza dados internos da plataforma — como áreas com maior índice de acidentes — e também dados públicos de sinalização”, disse Igor Soares.
Segundo o diretor, atualmente a plataforma possui mecanismos ajudam a identificar tendências e a prevenir acidentes antes que aconteçam. “Agora estamos lançando um grande diferencial: a telemetria. Com os sensores do celular, conseguimos identificar acelerações e desacelerações bruscas, mudanças de faixa e como as curvas são feitas. Cruzamos esses dados para compor uma nota do motociclista, mostrando pontos de melhoria na pilotagem e oferecendo conteúdos educativos”, disse o diretor, que acrescentou: “Aqueles que não se adequarem passam a ser monitorados de forma mais rigorosa e podem até ser suspensos da plataforma, caso se tornem um risco para sua própria segurança ou para os passageiros”.
Políticas públicas e regulamentação
O diretor ressalta que a expectativa é que os dados ajudem a embasar políticas públicas. “Com mais motos nas ruas e cidades projetadas para carros, o aumento de incidentes é natural. Por isso, acreditamos que parcerias com o poder público são fundamentais. Já desenvolvemos, por exemplo, um painel de monitoramento em Fortaleza que mostra pontos críticos de acidentes mapeados pela plataforma. Isso ajuda gestores públicos a planejarem intervenções viárias”, explica.
Segundo a 99, com dados de incidentes da plataforma será criado um mapa de quais as rotas reais percorridas e os pontos exatos dos incidentes que ocorreram. Assim, a Prefeitura pode identificar pontos de melhorias a fim de reduzir o risco de incidentes.
Tramita na Câmara Municipal de Belo Horizonte um projeto que prevê medidas como monitoramento em tempo real e treinamentos obrigatórios para motociclistas de aplicativos.
Segundo a 99, a empresa participa das discussões e vê a regulamentação como positiva. "Temos um time de relações governamentais que acompanha de perto a Câmara Municipal e a Secretaria de Transportes. Participamos das discussões, tanto com posição quanto com oposição, oferecendo apoio técnico com base no conhecimento que temos do setor e da rotina dos motociclistas”, disse Igor Soares.
“Para nós, a regulamentação é positiva porque nivela o mercado. Hoje, já implementamos diversas medidas por iniciativa própria, mas seria importante que houvesse regras claras para que todos os players seguissem o mesmo caminho em relação à segurança”, afirmou o diretor.
Garantias oferecidas pela plataforma
A empresa afirma que todas as viagens têm cobertura de seguro, em média de até R$ 120 mil para passageiros e motociclistas, além de apoio psicológico em caso de acidentes. O monitoramento em tempo real das corridas também é utilizado para auxiliar investigações.
De acordo com o diretor, "99,997% das viagens terminam sem incidentes". Ainda assim, a meta da empresa é adotar a chamada Visão Zero, conceito de eliminar totalmente acidentes de trânsito.
O que diz a Prefeitura de BH
A Prefeitura de Belo Horizonte informou que realiza ações contínuas voltadas à segurança dos motociclistas. Entre elas estão campanhas educativas, treinamentos específicos e implantação de motoboxes — áreas exclusivas para motos junto à faixa de pedestres. Atualmente, mais de 500 estruturas desse tipo estão distribuídas em 20 vias da capital.
Equipes da Unidade Integrada de Trânsito (BHTrans, Polícia Militar e Guarda Municipal) também intensificaram a fiscalização para coibir irregularidades como veículos em mau estado de conservação, ausência de equipamentos obrigatórios e condução sem Carteira Nacional de Habilitação (CNH).