A médica neurologista Cláudia Soares Alves, suspeita de sequestrar uma recém-nascida no Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), no Triângulo Mineiro, em julho do ano passado, foi demitida do cargo de professora da instituição. Ela é acusada na Justiça de Goías, Estado onde mora e foi presa, pelos crimes de falsidade ideológica e tráfico de pessoas.
A decisão foi publicada no Diário Oficial da União desta quarta-feira (3/9). Segundo a UFU, a demissão da professora do quadro do Magistério Superior foi determinada com base na Lei nº 8.112/1990, que regulamenta os direitos e deveres dos servidores públicos federais.
De acordo com a portaria, Cláudia teve sua conduta enquadrada em artigos que tratam da necessidade de manter “conduta compatível com a moralidade administrativa e desempenhar com zelo e dedicação as atribuições do cargo”, além de não “valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem”.
Em nota, a UFU afirmou que a medida é resultado do Processo Administrativo (PAD), instaurado em 1º de agosto de 2024, após o recebimento de denúncia contra a servidora. Durante o procedimento, a comissão de investigação ouviu várias testemunhas, recolheu e analisou documentos inerentes aos fatos e possibilitou ampla defesa à servidora por meio de seu advogado.
"A exoneração da docente se deu pela inobservância de normas legais e regulamentares e por manter conduta incompatível com a moralidade administrativa. O vínculo da servidora com a UFU foi rompido em 01 de setembro, com a assinatura da portaria de exoneração. Em razão da servidora ainda estar em período de estágio probatório, não há possibilidade de recurso no âmbito da universidade", afirmou.
A reportagem questionou os advogados de defesa da médica sobre a demissão e aguarda retorno.
O sequestro de uma recém-nascida no Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), no Triângulo Mineiro, mobiliza as forças de segurança da região desde a madrugada desta quarta-feira (24). pic.twitter.com/cDxtJUxu0t
— O TEMPO (@otempo) July 24, 2024
Relembre o caso
Sequestro
O crime começou às 23h23, quando a sequestradora chegou ao local. Ela se apresentou na portaria como sendo uma funcionária do hospital de nome Amanda, foi à ala da maternidade e, após dizer que é médica, pegou a criança dos pais alegando que a levaria para se alimentar e fugiu com a pequena dentro de uma mochila. De acordo com o boletim de ocorrência, a ação da mulher dentro do hospital durou cerca de 30 minutos.
Atitude suspeita
A suspeita foi identificada após uma funcionária desconfiar da atitude da mulher e entrar em contato com os seguranças e com o setor de clínica médica para saber se, de fato, uma profissional chamada Amanda cobriria a falta de alguém. Ela foi informada, entretanto, de que a equipe do setor estava completa.
Segundo a PM, um dos vigilantes do hospital contou que, após ser informado pela portaria sobre a atitude suspeita, abordou a mulher logo após ela sair de um banheiro. Ele teria perguntado se ela "precisava de alguma coisa" e recebeu como resposta da autora que ela já estava de saída, pois faria um plantão no local, mas havia sido informada de que o quadro de funcionários já estava completo.
O trabalhador disse aos militares que acompanhou a mulher até a saída, pois não tem permissão para revistar pessoas que entram na unidade de saúde. Conforme a ocorrência, o vigilante disse que o sumiço da recém-nascida só foi informado após a criminosa deixar o hospital. A partir daí, a PM foi acionada.
Pai desconfiou de sequestro
PM, o pai da menina contou que descansava com a esposa quando a sequestradora se identificou como médica e disse que levaria a recém-nascida para tomar leite no "copinho". O homem disse que a autora entrou em uma sala em frente ao quarto onde eles estavam e fechou a porta, enquanto ele esperava no corredor.
De acordo o relato do pai, após alguns minutos, a mulher deixou a sala com um cobertor nas mãos e uma mochila amarela nas costas e afirmou que uma enfermeira dava leite à criança. Com a demora e após a sequestradora sair do local, ele perguntou sobre a filha a uma funcionária, mas foi informado de que nenhum profissional teria pegado a bebê. No mesmo instante, o pai da criança também procurou a equipe de segurança para relatar o desaparecimento da filha.
Prisão
A partir do relato dos funcionários e do pai da criança, a Polícia Militar (PMMG) iniciou buscas à procura da sequestradora, que seguiram por toda a madrugada. Imagens rastrearam a passagem da médica, em um veículo Toyota Corolla, pela rodovia BR-365, ao passar por um pedágio para chegar a Itumbiara.
A suspeita só foi localizada na manhã desta quarta-feira (24 de julho), na cidade de Itumbiara, em Goiás, que fica a cerca de 134 km da cidade onde o crime ocorreu. Conforme o delegado Marcos Tadeu, quando a equipe da polícia chegou na casa da médica, encontrou uma funcionária com a criança. Questionada, a mulher disse que Cláudia tinha ido viajar. Uma equipe da Polícia Civil permaneceu no imóvel, enquanto outra levou a recém-nascida para o hospital. Passado um período, a médica voltou para casa, onde recebeu voz de prisão.
No carro da mulher, os policiais civis encontraram roupinhas da criança, sapatos e duas bolsas.
Quem é a sequestradora?
Segundo a Polícia Civil de Goiás, a sequestradora é uma médica, de 42, e foi autuada em flagrante delito pelo crime de sequestro. Nas redes sociais, onde acumula mais de 9 mil seguidores, a mulher se identifica como uma neurologista apaixonada por medicina.
No currículo divulgado pela médica, ela descreveu que fez residência na Clínica Médica da Universidade Federal de Uberlândia e é especialista em Medicina Interna e Neurologia. Também é professora da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Goiás (UEG) desde 2019.