Arroz, feijão, salpicão, farofa, filé de frango e de sobremesa o tradicional doce de leite mineiro. Esse foi o cardápio especial de natal servido a cerca de cem moradores de rua nesta quarta-feira (23), na Catedral Cristo Rei, que está em construção no bairro Juliana, na região Norte de Belo Horizonte. O convite foi feito pela Pastoral de Rua e pela arquidiocese de Belo Horizonte, que organizaram o almoço.
“As catedrais sempre foram locais dos pobres, onde eles sabem que podem ser acolhidos. Por isso, aqui estamos, não por um ato qualquer, mas pela missão da catedral e, sobretudo, nesse tempo de pandemia quando as nossas fragilidades estão expostas, especialmente a fragilidade da desigualdade social. Somos chamados a uma nova amizade social que é o compromisso com políticas públicas que mudem esse cenário, que muito nos envergonha”, declarou o arcebispo metropolitano e presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo.
Em um natal tão diferente, devido a pandemia de coronavírus, em que as aglomerações, de acordo com infectologistas, devem ser evitadas, o arcebispo metropolitano pede que as pessoas não percam a esperança.
“A minha palavra de coração para coração é um convite: vamos esperançar. Porque precisamos da luz da esperança. Essa pandemia, especialmente, com as dificuldades já existentes na nossa sociedade mundial e brasileira nos pesam muito, e nós não podemos perder a esperança. É esperançando que nós poderemos construir um novo tempo”, afirmou dom Walmor.
O evento
A maioria dos moradores de rua convidados vivem no bairro Lagoinha, na região Noroeste de Belo Horizonte, onde a pastoral tem um ponto de apoio. Na chegada à catedral, todos passaram por aferição de temperatura e foi fornecido álcool em gel. Os convidados também utilizavam máscaras. Dom Walmor recebeu cada um, com uma benção e um cumprimento com o cotovelo.
Antes do esperado almoço antecipado de natal, foi feita uma oração e dom Walmor agradeceu a presença de todos. “Uma catedral só é um catedral quando ela tem tudo o que deve ter, mas sobretudo quando ela cuida de quem precisa mais”, pontuou o arcebispo metropolitano.
O almoço
A voluntária e engenheira civil, Jane Aparecida dos Santos, acordou bem cedo para ajudar na preparação da comida para os convidados. Ela conta que o trabalho começou às 7h e que se sente muito bem em poder ajudar as pessoas que passam por dificuldades.
“Para mim é um prazer, uma espiritualidade muito boa ver que você está ajudando o próximo. Já fiz esse trabalho de almoço em outras igrejas e o sentimento que fica é de gratidão”, disse.
Gratidão
A comida foi aprovada pelo pintor Gilson José dos Santos que há 40 anos vive na rua. “Nota 1000. Agradeço muito a dom Walmor. Geralmente, para almoçar a gente vai no restaurante popular ou depende de pessoas que fazem doações na rua. Assim a gente vai sobrevivendo”, conta.
Em 2021 ele espera ter um natal diferente de todos os outros. Isso porque o filho mais velho, que mora no bairro Fortaleza, na região de Justinópolis, em Ribeirão das Neves, está contruindo uma casa para ele. “Ele mora lá e tá construindo um barraco nos fundos da casa dele pra mim. As vezes vou lá e vejo o barraco que ele está fazendo pra mim e é bom demais”, afirma.