No caminho da lama

Barão de Cocais: barragem põe em risco córregos, rios e espécies ameaçadas

Município está em alerta máximo desde que a Vale constatou risco iminente de ruptura do reservatório

Por Clarisse Souza
Publicado em 17 de maio de 2019 | 20:54
 
 
 
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A onda de rejeitos que ameaça vazar da barragem Sul Superior da mina Gongo Soco, da Vale, em Barão de Cocais, na região Central de Minas, tem pelo caminho 383 hectares de remanescentes florestais da mata atlântica, áreas de preservação permanente, córregos e importantes mananciais. Entre os cursos d’água que podem ser afetados, está o Rio Doce, que já foi atingido, em 2015, pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, também na região Central do Estado.

Segundo o Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema), uma simulação de rompimento aponta que os cursos d’água diretamente afetados seriam o Córrego Barão de Cocais/São João, que deságua no Córrego Morro do Queimado, Córrego Ben Ventura, Córrego Barrocas e, por fim, no Rio Santa Bárbara. A passagem da lama também pode comprometer os rios Piracicaba e Doce, que ficam a 79,8 km e 195,2 km da barragem, respectivamente. De acordo com o Sisema, se o reservatório se romper, os rejeitos podem assorear a calha dos cursos d’agua e provocar redução da vazão.

A lama também impactaria diretamente a Área de Preservação Permanente Estadual Sul RMBH, e as reservas particulares do patrimônio natural Itajurú (ou Sobrado) e Comodato Reserva Peti.

A simulação também mostra que os rejeitos atingiriam a  Usina Hidrelétrica de Peti, que fica a 14 km da barragem, entre as cidades de Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo.

Equipes de proteção à fauna do Instituto Estadual de Florestas (IEF) já avaliam o potencial impacto que os 4,8 milhões de m³ de rejeitos podem provocar na biodiversidade. Espécies raras e ameaçadas de extinção podem ser atingidas, além de habitats importantes para comunidades aquáticas ou terrestres, como rotas de migração e sítios de reprodução, alimentação e desenvolvimento.

Entenda

Barão de Cocais está em alerta desde 8 de fevereiro, quando a classificação de risco da barragem foi elevada para nível 2 – em 22 de março, a classificação subiu para nível 3. Desde então, 443 pessoas que vivem na zona de autossalvamento, primeira a ser atingida pela lama em caso de rompimento, foram retiradas de casa.

No entanto, a situação se agravou ainda mais na última quinta-feira, quando o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) divulgou informações de um documento produzido pela mineradora Vale, responsável pela barragem, que revela uma deformação no talude norte da Cava de Gongo Soco.

Se a movimentação na estrutura mantiver o ritmo de 3 cm a 4 cm por dia observado nesta semana, há risco de ruptura entre 19 e 25 de maio, aponta o relatório.

 

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