Cinco meses se passaram desde que moradores da comunidade Córrego do Feijão e funcionários, terceirizados ou não, da Vale foram surpreendidos pelo rompimento da barragem em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte. Vinte e duas pessoas continuam soterradas sob a lama e familiares nutrem a esperança de poder enterrar os corpos de seus entes perdidos. 

Em buscas ininterruptas desde o dia da tragédia, o Corpo de Bombeiros conta, desde 12 de junho, com um novo equipamento que deve auxiliar no resgate de dois corpos soterrados pela lama: o magnetômetro. Essas vítimas específicas estariam em uma caminhonete, descansando durante o horário de almoço, no exato momento em que a barragem rompeu. 

O aparelho é um instrumento científico capaz de medir campos magnéticos, ele determina a força desses campos, suas orientações e a direção deles. Assim, através dele, é possível saber se, abaixo de metros de rejeitos, está a lataria de um veículo, por exemplo.  Acoplado a um drone, o equipamento sobrevoou uma área no rio Paraopeba, atingido pela lama, e o Terminal de Carga Ferroviário (TCF) da mina Córrego do Feijão, ambos mapeados na semana passada.

"O magnetômetro indica um local onde há grande concentração de metal. Temos direcionado nossas buscas para esses pontos mapeados, onde já encontramos maquinários pesados e metais retorcidos. A informação inicial é que duas pessoas estavam em uma caminhonete próxima à barragem. Se encontramos o veículo, a chance de encontrar as vítimas é grande", explica o tenente Carlos Alberto Ramos Stanislau, do Corpo de Bombeiros. 

Segundo ele, após sobrevoar as regiões, o equipamento produz dados a serem interpretados por uma empresa, detentora do aparelho, que foi contratada pela Vale para trabalhar nas buscas. A companhia responsável pelo magnetômetro interpreta os dados e produz um relatório para o Corpo de Bombeiros. Por sua vez, os militares mineram os dados e os transformam em informações capazes de apontar onde o trabalho de buscas pode ser mais eficiente.

É a primeira vez que o aparelho é usado em operações dos bombeiros de Minas Gerais e esse é mais um dos recursos empregados na tentativa de encontrar as últimas vítimas sob a lama. Na última semana, dois corpos foram resgatados e identificados, isso após um mês sem que novas pessoas fossem encontradas. Apesar do nível de dificuldade nos trabalhos ser mais alto agora, não há previsão para o encerramento da operação. 

"A cada fase das buscas, se torna mais difícil encontrar vítimas e, para isso, precisamos criar novas técnicas. Não temos previsão para encerrar as buscas e o uso do magnetômetro é uma nova esperança para todos nós. Nosso objetivo é confortar as famílias", comenta o tenente. 

Ainda não estão previstos novos sobrevoos com o magnetômetro, mas o equipamento deve ser utilizado para mapear algumas das outras 23 frentes de trabalho onde os bombeiros atuam. 

Cento e sessenta e seis dias se passaram desde que a barragem se rompeu e, a última atualização no número de vítimas foi divulgada pela Defesa Civil de Minas Gerais em 6 de julho. Nela, consta que 248 morreram devido o rompimento e 22 permanecem desaparecidas. Mais de 150 bombeiros militares atuam diariamente na região e costumam contar com o apoio de cães farejadores, importantes peças para o resgate de vítimas sob a lama. 

Vale não comenta uso do equipamento

A mineradora Vale não respondeu aos questionamentos sobre o valor do aluguel do magnetômetro e nem se é responsável por custear o uso do aparelho. Em nota, a companhia informou apenas que: "em reconhecimento ao trabalho do Corpo de Bombeiros, a Vale fomralizou um aporte de R$ 20 milhões para compra de equipamentos, melhoria estrutural e capacitação profissional da corporação". 

Para complementar, a empresa respondeu apenas que recebeu a solicitação para realizar serviços de magnetometria na semana passada e que "o processo de contratação está em curso".