Na próxima quarta-feira, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PHS), irá apresentar os resultados da auditoria das contas do transporte coletivo da capital. Ele informou nessa quinta-feira (13) que vai detalhar a tão esperada “abertura da caixa-preta da BHTrans (Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte)”, sua principal promessa de campanha.

O anúncio foi feito um dia depois que o vereador Gabriel Azevedo (PHS) reuniu as assinaturas necessárias para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a autarquia e auditar os contratos da empresa.

O líder do Executivo, porém, não descarta a possibilidade de a passagem ultrapassar os atuais R$ 4,05. O valor foi congelado pela prefeitura em dezembro de 2017.

“A caixa-preta está aberta. Não tenho medo de número, não tenho medo de documento e não tenho medo de demagogo”, disse o prefeito. “Nós não podemos levar o transporte público de BH nem como inimigos nem como amigos. São empresários e querem lucro. Nós queremos a passagem mais barata e temos que ter a responsabilidade de não parar o transporte público na terceira capital do país”, ressaltou o prefeito.

Auditoria. Segundo Kalil, a investigação considerou cerca de 40 mil documentos que regem os contratos do transporte na capital. O último aumento da tarifa foi definido em dezembro de 2016. Um ano depois, as prestadoras do serviço solicitaram à PBH novo reajuste, mas, por ordem do Executivo, o acréscimo ficou condicionado à análise das contas. “A auditoria foi muito bem feita. Para falar de aumento da tarifa, vamos ter que chamar o outro prefeito (Marcio Lacerda), porque não dei nenhum. Na semana que vem, vamos arrematar isso”, declarou o prefeito, dizendo que participaria de uma reunião nessa quinta-feira (13) para “tomar conhecimento dos números”.

Jogo. Para o vereador Gabriel Azevedo, “o prefeito está fazendo uma piada de mau gosto com a população”. “O prefeito prometeu uma auditoria para outubro e, agora, resolve que já foi aberta? Se não houvesse a intenção de aumentar a tarifa, ele já diria”, disse.

A assessoria de imprensa da Câmara de BH afirmou que o pedido da CPI já foi protocolado e que a equipe técnica da Casa deve emitir um parecer até segunda-feira, quando o pedido será encaminhado para o presidente Henrique Braga (PSDB). Após o deferimento, é aberto um prazo de cinco dias para que os líderes indiquem sete nomes para compor a CPI, que tem 120 dias para concluir o trabalho.

Ex-prefeito. A assessoria do ex-prefeito Marcio Lacerda informou que vai se pronunciar sobre a auditoria após ter acesso ao documento e destacou que o primeiro reajuste da tarifa aconteceu após dois anos de seu governo

Especialista aposta em aumento

Para o especialista em transporte e trânsito Marcio Aguiar, o belo-horizontino não deverá ter uma boa notícia no próximo ano. Segundo Aguiar, como o número de passageiros no transporte público da capital caiu nos últimos anos, o valor da passagem pode aumentar em 2018.

“Os valores estão congelados há um ano. Os empresários podem cobrar isso. Vemos as pessoas deixando de usar o transporte coletivo devido ao mau serviço prestado e preferindo comprar um carro próprio, o que tem aumentado o congestionamento”, avaliou Aguiar.

Passagem deveria custar menos de R$ 4

Estudo realizado pelo Tarifa Zero, que será divulgado na próxima terça-feira, na Escola de Arquitetura da UFMG, revela que, desde 2017, as empresas de ônibus da capital estariam se apropriando indevidamente de cerca de R$ 150 milhões por ano. De acordo com André Veloso, membro do movimento, cálculos realizados pelo grupo apontam que o preço da tarifa em BH deveria ser abaixo de R$ 4.

“Levamos em consideração dados da Lei de Acesso à Informação que obtivemos, além de horários, número de cobradores e até a taxa de lucro obtida pela empresa”, disse Veloso. Segundo ele, são constantes as denúncias de redução de horários e falta de cobrador.

O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (Setra) não se manifestou até o fechamento desta edição. Já a BHTrans informou que intensificou a fiscalização do transporte e tem autuado as empresas irregulares.