Moradores de Ribeirão das Neves, na região Metropolitana de Belo Horizonte, amanheceram nesta terça-feira (28) contabilizando as perdas causadas pela intensa chuva de granizo que atingiu em cheio a cidade na noite de segunda-feira (27). De acordo com a Defesa Civil,  foram contabilizadas em toda cidade 40 ocorrências.

Por estar próximo a um rio, o bairro Jardim Colonial foi o mais atingido, em que 14 famílias ficaram desabrigadas. Ninguém se feriu. Na região, a chuva que durou cerca de 40 minutos, alcançou a marca dos 70 milímetros,  a quantidade misturada a lama e ao granizo chegou a  três metros de altura. Durante toda a manhã desta terça,  retroescavadeiras ainda retiravam grandes quantidades de gelo das ruas do bairro. 

 Alguns moradores da região ainda estavam ilhados pelo gelo e lama, como é o caso do marido e do filho de 8 anos, da vendedora Jaqueline dos Santos Miranda, de 36 anos. Eles ainda estão na residência da família esperando resgate. A mulher só não ficou ilhada junto com os parentes porque no momento da chuva ela voltava do trabalho. 

 " Quando a chuva começou eu estava voltando do trabalho. Quando desci do ônibus já vi meu bairro todo tomado pela água e pelo granizo. Tive que passar a noite na casa de vizinhos. Estou desde ontem esperando os bombeiros resgatarem meu filho e meu marido. Meu marido e meu filho estão esperando resgate na parte de cima da casa.  Por telefone, meu marido contou que a parte de baixo da casa foi tomada pela água e pelo granizo. Perdemos tudo," contou.   

 Na casa da vendedora Marilei Rodrigues, de 48 anos, o granizo bloqueou a porta de casa. Ela, os filhos adolescentes, e o marido, tiveram que realizar uma força-tarefa para  conseguir fugir do alagamento. No dia seguinte, a família voltou à residência  para tentar retirar a lama, o granizo e contabilizar as perdas.  

"Foi uma cena desesperadora. Tentava abrir a porta e não conseguia, ela estava travada com o gelo. Eu, meu marido e meus filhos nos juntamos, forçamos a porta  e conseguimos sair. Passamos a noite na casa de parentes, mas não dormi. Assim que amanheceu o dia fui tentar limpar e salvar alguns itens da minha casa, mas infelizmente, nada se salvou, a lama e o granizo arrasou com tudo," contou

 Para salvar a família da enchente a dona de casa Ana Paula de Jesus, 36 anos, precisou quebrar o telhado. " A chuva começou a subir muito rápido, quando percebi a água já estava chegando na minha cintura. Não pensei duas vezes, quebrei as telhas do teto e passei meus filhos de 4, 14 e 16 anos. Meus vizinhos viram  meu desespero e me ajudaram a salvar minha família. Hoje o que tem na minha casa é lama, mas estou feliz porque consegui salvar meus filhos", avaliou.  

A vendedora Adriana Rodrigues, de 49 anos, também perdeu tudo com a chuva. Ela contou que enquanto o Corpo de Bombeiros não chegava os próprios vizinhos ajudavam no resgate uns dos outros. "Um vizinho tinha um barco e conseguiu retirar de casa muitas mulheres com crianças pequenas e idosos. Eu e meu marido também ajudamos a nossa vizinha que morava com a netinha sair de casa. Se não fosse a união da comunidade muitos teriam morrido", avaliou. 

Corpo de Bombeiros

 De acordo com o comandante do pelotão do Corpo de Bombeiros de Ribeirão das Neves, Sandro Aluísio, o resgate no local ocorreu de forma imediata e contou com o auxílio de moradores da região, Defesa Civil e Polícia Militar. " Chegamos no local em tempo hábil, retiramos três vítimas que estavam no telhado de uma residência com a ajuda de um barco de um morador da região. Hoje o trabalho será de limpeza, para evitar que outras chuvas ocosionem danos alarmantes. No momento 14 casas estão interditadas, " disse.

Defesa Civil

Conforme a coordenadora da Defesa Civil Orlândia Barbosa, o bairro foi o mais atingido por se encontrar em área de preservação ambiental e por estar próximo a um rio.  No momento 14 casas estão interditadas e não tem previsão de liberação. " Infelizmente o local se trata de uma região com construções irregulares, esse espaço é uma área de preservação ambiental. Aqui perto passa um rio que sobe quando chove. Estamos aqui para prestar apoio aos moradores e darmos segurança nesse momento. As casas mais atingidas foram interditadas. Temos que esperar as paredes dessas residências secarem para avaliarmos a existência de trincas , rachaduras e risco de queda", pontuou. 

A Defesa Civil também informou que os bairros Rosaneves e Veneza  sofreram danos pontuais com as chuvas. "Nesses bairros alguns muros de arrimo vieram ao chão e árvores caíram. Por lá, também ninguém se feriu", avaliou a coordenadora da Defesa Civil.     

Auxílio

 Segundo moradores da região, para fugir da enchente eles dormiram na casa de amigos e parentes. Representantes das secretarias municipais de saúde e assistência social realizaram no local o cadastramento dos atingidos. De acordo com a Prefeitura Municipal de Ribeirão das Neves, as famílias desabrigadas estão sendo assistidas.  "No momento, estas famílias estão sendo atendidas por profissionais da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social de Cidadania. A Prefeitura Municipal doou colchões para as famílias e outras providências estão sendo tomadas", pontuou a nota. 

Mobilização

A própria comunidade se reuniu e transformou um estabelecimento comercial da região em um ponto de recebimento de donativos aos atingidos. Para doar alimento, comida, sapatos, material de limpeza, móveis ou cobertores, basta ligar : 3624-5642 e agendar a entrega da doação.      

 Belo Horizonte e demais regiões

  Na última segunda-feira (27) Belo Horizonte registrou chuvas fortes, porém, as chuvas não causaram danos. Por outro lado, as chuvas em Betim e Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte,  deixaram estragos e pessoas ficaram desalojadas.  De acordo com a Defesa Civil de Contagem, foram registrados no município 67,5 milímetros de chuva, com ventos intensos que levaram a destelhamento de residências,  principalmente na região de Nova Contagem: Vila Soledade, Vila Feliz, além de queda de um muro de arrimo na rua Retiro das Esmeraldas. Duas escolas municipais também foram atingidas com inundação e perda de telhados. Aproximadamente 60 pessoas ficaram desalojadas e se abrigaram em casas de parentes e amigos. Nenhum  deles precisou ser encaminhado para abrigo.

Já a Superintendência Municipal de Defesa Civil de Betim, informou que a região do Icaivera foi a mais afetada pelo grande volume de chuva. Análises técnicas ainda estão sendo realizadas na região para avaliar os pontos mais atingidos, danos e desabrigados. Ainda conforme balanço realizado pela Defesa Civil, foi registrada uma média de 18,16 milímetros de chuva na cidade. Também durante o temporal, outras seis ocorrências de menor proporção, como quedas de árvores, foram atendidas nos bairros Cruzeiro do Sul, Duque de Caxias, Nossa Senhora de Fátima, Campos Elíseos, Guanabara e Angola.

Previsão do tempo

De acordo com o meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia  (Inmet) Claudemir Azevedo, não estão previstas para este ano chuvas de grandes proporções em Belo Horizonte e região metropolitana. " Para Belo Horizonte, no trimestre da primavera são esperados cerca de 700 milímetros de chuva", disse. 

 Ainda conforme o especialista a chuva de granizo é comum no início da primavera. Segundo ele, o fenômeno é atribuído ao encontro de uma frente fria com uma massa de ar quente.  "Para essa semana não é esperado chuva de granizo, nem chuvas fortes em BH e região metropolitana. Porém, temos que ir avaliando dia a dia as condições meteorológicas", ponderou.