Em todo o país, por recomendação do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde, governos estaduais e prefeituras começavam a pedir à população que, sempre que possível, permanecesse em casa, evitasse aglomerações e não circulasse pelas ruas, praças e parques. Foi quando, pela primeira vez, o mural de uma das torres do Conjunto Governador Juscelino Kubitschek, nos arredores da praça Raul Soares, região centro-sul de BH, tornou-se espaço de expressão com projeções de mensagens de protesto e de reconforto.

Neste sábado, uma semana depois da primeira ação que viralizou nas redes sociais, o coletivo Viva JK, formado por quase 60 moradores do condomínio, voltou a fazer do prédio lugar de diálogo com a cidade. Desta vez, foram projetadas manchetes dos principais jornais brasileiros e mineiros - entre eles, a notícia de que a cada 5 exames de coronavírus, dois testaram positivo em Minas Gerais.

A reportagem de O Tempo falou com alguns dos artistas por trás da iniciativa - que pediram para que tivessem suas identidades preservadas a fim de evitar possíveis represálias. De acordo com o coletivo, o objetivo é "abraçar as pessoas com palavras e mostrar que, ainda que em isolamento social, elas não estão sozinhas".

"Essa torre (a vertical, onde funciona o bloco B do conjunto residencial) é vista lá no (bairro) Mangabeiras. Entendemos que ela se oferece como uma maneira de falar com as pessoas - e queremos manter essa conversa para que cada uma delas, ao ver nossas mensagens, sinta-se  reconfortada", justificam eles, que se surpreenderam com a repercussão alcançada: "A gente esperava alguma manifestação nas redes sociais. Mas foi muito além do que a gente imaginava".

Pelo reconhecimento do prédio como patrimônio de BH

De acordo com o grupo - que é difuso e reúne moradores de diversas idades, profissões, com integrantes que vivem no edifício JK há 15 anos e outros recém-chegados - a mobilização ganha unidade em um sonho comum a todos eles: "Queremos que o prédio seja visto como protagonista da cidade".

Os membros do coletivo não se conformam que ainda persista, entre os moradores da capital mineira, um olhar estigmatizado para o JK. "Nosso objetivo, para além da ação política e desse diálogo e alerta sobre o coronavírus, é que o prédio seja visto como patrimônio de BH, como presente dado por Oscar Niemeyer para a cidade e que - ao lado de lugares como o Mercado Central, da rua Sapucaí, do Mercado Novo e do Circuito da Praça da Liberdade - seja entendido como um patrimônio", garantem.

História

Em uma Belo Horizonte que, em meados dos anos 50, tornava-se um dos pilares do movimento modernista no Brasil, ainda impressionam as contibuições de Niemeyer, do paisagista Burle Marx e o entusiasmo de Kubitschek.

Entre as heranças deixadas, está o conjunto de prédios, que foi anunciado em 1952 pelo então governador Juscelino Kubitschek (1902-1976) - que, mais tarde, emprestaria nome a edificação. A conclusão da obra, um projeto assinado pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012) sob a égide do pensamento modernista, levou mais de duas décadas para ficar pronto. Ao todo, as duas torres somam mais de 1.000 apartamentos, distribuídos em diversos modelos de plantas.

Hoje, a fachada do conjunto residencial já encontra-se protegida pela Diretoria de Patrimônio Cultural da cidade. Ainda aguardando a finalização do levantamento arquitetônico e fotográfico do lugar, a expectativa é que as duas torres sejam tombadas como patrimônio municipal em breve.