As edificações das primeiras cem casas do reassentamento de Bento Rodrigues, em Mariana, na região Central do Estado, devem começar no dia 15 de julho, quando as obras de toda a comunidade já deveriam ter sido entregues. A previsão inicial era março de 2019 e, agora, a Fundação Renova trabalha para cumprir a data final estipulada pela Justiça: agosto de 2020. O subdistrito foi destruído pela lama de rejeitos provocada pelo rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, em novembro de 2015.
A contratação da empresa que vai executar as obras deve ocorrer nos próximos 15 dias. Depois, ela terá 30 dias para mobilizar máquinas e pessoal. A companhia também deve construir a escola, a unidade básica de saúde e o posto policial da comunidade.
Das cem primeiras casas, 63 já tiveram pedidos de alvarás entregues à prefeitura, que tem 45 dias para emitir o documento.
A edificação da escola também depende do alvará, segundo o diretor de infraestrutura da Fundação Renova, Carlos Rogério Freire de Carvalho. A instituição terá 12 salas de aula, com capacidade para atender 300 alunos dos ensino infantil e fundamental.
“Hoje só temos licença na escola para fazer os muros, as contenções e a terraplanagem. Estamos exatamente executando essa etapa. Vindo o alvará de construção, a próxima fase são as edificações”, afirma.
A previsão é que o novo Bento tenha 240 lotes, cinco sítios e dez bens coletivos. No entanto, cerca de 50 famílias ainda estão em dúvida se vão querer morar no reassentamento. Algumas pessoas, por exemplo, casaram e tiveram filhos desde o rompimento da barragem ou receberam uma herança que impacta na decisão. Há, ainda, 14 famílias que decidiram permanecer em Mariana.
De acordo com o arquiteto Alfredo Zanon, da Fundação Renova, a ideia, no novo Bento, é preservar ao máximo as relações de vizinhança e os marcos do antigo subdistrito. No entanto, as casas do reassentamento serão diferentes, mais modernas e sustentáveis, com preocupações quanto ao uso racional de água e aquecimento solar, por exemplo.
“As famílias, morando em outros lugares nesse período, absorveram uma cultura de moradia diferente e estão trazendo essa cultura. Há um resgate do passado, mas elas estão vivendo o presente e olhando para o futuro. Esse projeto de reassentamento está visando muito mais o futuro das famílias do que o passado”, pontua.
Antigo morador de Bento Rodrigues, José do Nascimento de Jesus, 74, conhecido como Zezinho do Bento, visita a obra todos os dias e espera que a comunidade seja entregue, de fato, até agosto do próximo ano. “Nossa esperança é a última que morre, voltar muito rápido para esse reassentamento. Nós sabemos que vai ter uma demora de adaptação, mas vamos entrar na nossa casa e tomar conta dela. Sair, levantar e deitar na nossa casa”, diz. “Eu vou voltar a ter minhas galinhas, colher meus ovos caipiras. Hoje não tenho nada disso. Se quero uma cebolinha ou uma salsinha, tenho que comprar”, lamenta.
Andamento dos reassentamentos
A Fundação Renova garantiu que trabalha para entregar todos os reassentamentos até agosto de 2020.
No caso de Paracatu de Baixo, que deve ter 113 residências e nove sítios, ainda é necessário o licenciamento para a supressão de vegetação e o início do serviço de infraestrutura. Enquanto isso, as famílias estão sendo ouvidas para a elaboração dos projetos das casas.
Já em Gesteira, onde 37 famílias serão reassentadas, o processo está em fase mais inicial. O terreno foi adquirido, e a Fundação Renova está buscando junto à Câmara Municipal e à prefeitura resolver questões de loteamento.
“Uma coisa é agilidade, outra é participação popular. A participação dos atingidos é complexa por natureza. É muito difícil negociar a reconstrução de uma casa que não tinha projeto, com base em memórias e lembranças de pessoas que estão em um momento sensível. É normal que esse processo gaste um pouco mais de tempo do que um processo convencional”, diz o diretor de infraestrutura da Fundação Renova, Carlos Rogério Freire de Carvalho.
A previsão é de gasto total de R$ 1 bilhão nos três reassentamentos. Até o momento, cerca de R$ 200 milhões foram investidos. “Por se tratar de uma ação reparatória, o custo não esta em questão. Estamos preocupados em atender os desejos deles”.
Texto atualizado às 15h17