Correria, tensão, estresse e muita gente num mesmo lugar. Este costuma ser o dia normal na entrada do Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, em Belo Horizonte, um dos mais movimentados de Minas Gerais. Em média, 8.000 pessoas são atendidas ali em um mês, muitas delas vítimas de queimaduras, politraumatismos devido à acidentes de carro e ferimentos por armas de fogo.
Porém, no último fim de semana, uma imagem registrada - possivelmente por um médico - viralizou ao mostrar um cenário muito diferente: a sala onde aguardam os politraumatizados ficou vazia.
A foto é verídica apesar da autoria desconhecida, e a explicação mais provável para que momentos como este tenham acontecido entre sábado e domingo está no fato de menos pessoas estarem circulando na rua - afinal, este foi o primeiro fim de semana em que passaram a valer as determinações do governo para fechamento de estabelecimentos comerciais e recomendações para que pessoas fiquem em casa devido a ascensão de casos do novo coronavírus. "A imagem mostra uma sala onde, infelizmente, costumam ter muitos pacientes esperando. Eu estive no hospital neste fim de semana inteiro e a vi vazia em alguns momentos. É um evento raro, mas não inédito, acontece de vez em quando dependendo da época do ano", diz o diretor geral do hospital, Frederico Bruzzi.
Segundo ele, em média, o hospital faz 270 atendimentos por dia de demanda referenciada (pacientes que chegam via SAMU, ambulâncias, etc). Aos fins de semana, o número costuma ser maior, mas, neste sábado e domingo, o atendimento teve ligeira queda, com uma média diária de 246 atendimentos. "É uma redução pequena, mas importante porque foi em casos de pacientes graves e isso se reflete nesta sala (da imagem). O que vimos (na foto) é o nosso cenário ideal, nossa meta, queríamos que esta sala ficasse vazia todos os dias, porque mostrou que o hospital 'rodou bem', teve um fluxo melhor de pacientes", comenta. "Mas sexta-feira à noite tivemos um fluxo pesado", pondera. "Porém, claro, a foto serve como elogio a população. É preciso dizer que vale muito a pena esse esforço (de ficar em casa) para reduzir o risco de contaminação pelo novo coronavírus e evitar que a gente tenha um fluxo de doente no qual o sistema de saúde possa não aguentar", conclui.
João XXIII e Covid-19
Uma vez que o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII é especializado em atendimentos de urgência e emergência (sobretudo traumas, toxicologia e queimados), a unidade não deve receber pacientes do novo coronavírus num primeiro momento. "Há outros hospitais que são referência para tratamento e internação de pacientes com síndrome respiratória aguda grave, que seria a indicação pior para pacientes com Covid-19", explica Bruzzi.
Álcool em gel e queimaduras
O médico também comenta um possível risco de queimaduras em tempos em que as pessoas têm estocado álcool em gel. "Ele é um pouco menos inflamável. No entanto, definitivamente todo produto, seja em época de epidemia ou fora, deve estar muito bem reconhecível em vasilhame específico próprio e mantido fora do alcance das crianças. Deixar em um armário alto é essencial", orienta Bruzzi.