Na contramão do parecer dado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) nesta semana, especialistas concordam que não há dúvidas sobre a eficácia do uso de máscaras contra a Covid-19. Pelo contrário, cientistas recomendam que, em meio à disseminação da variante delta pelo Brasil, a utilização correta de máscaras de qualidade se torna ainda mais importante e cobram ações do poder público para garantir o acesso a esses itens de segurança. 

“As máscaras acrescentam proteção sem induzir nenhum tipo de risco. Já existem informações o suficiente demonstrando que elas funcionam e conhecimento abundante de que não causam problemas, além de serem um método de proteção barato e acessível. Com a variante delta circulando no Brasil, quanto melhores forem nossas medidas de proteção, mais chances teremos de não termos a vida ainda mais complicada por outras novas variantes. O uso de máscara vem em primeiro lugar, seguido pela melhor qualidade delas”, diz o médico sanitarista e ex-diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Claudio Maierovitch. 

Nessa terça-feira (17), veio à tona um parecer assinado pela subprocuradora-geral da República, Lindôra Araújo, em que ela afirma que “os estudos que existem em torno da eficácia da máscara de proteção são somente observacionais e epidemiológicos” e que o grau de proteção das máscaras é “indefinido”. O texto foi produzido para justificar o porquê de ela não considerar um crime o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não utilizar o item de segurança e promover aglomerações. 

Maierovitch lembra que existem uma série de estudos sobre a eficácia das máscaras. Ele cita, por exemplo, uma pesquisa do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) que demonstrou, em laboratório, o diferente nível de filtração que cada tipo de máscara proporciona — do mais alto, caso das PFF2, ao mais baixo, como máscaras de pano de camada única. 

Entenda o que são e como utilizar as máscaras PFF2

A Organização Mundial da Saúde (OMS), o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA e a Anvisa, por exemplo, reforçam que elas são necessárias e protegem. “Não existe controvérsia nenhuma sobre o uso das máscaras. Elas reduzem a transmissão do vírus e qualquer política ou agente público que vá no sentido oposto disso está agindo contra evidências”, completa o vice-presidente da Associação Nacional dos Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental (Anesp), Rogério da Veiga. 

Especialistas cobram medidas públicas por máscaras de qualidade

Para Veiga, grande parte dos protocolos municipais e estaduais do Brasil está desatualizada, ainda com foco no uso de álcool em gel e na limpeza de ambientes, por exemplo, enquanto já se sabe que o risco de contaminação pelo ar é importante e exige ventilação e máscaras de qualidade e bem-ajustadas ao rosto. 

Em parceria com o grupo de cientistas Observatório Covid-19 BR, a Anesp lançou um guia de prevenção e comunicação contra a Covid-19 disponível para qualquer gestor público. “Temos um tripé da proteção: ventilação, uso correto de máscara e distanciamento. Se comércio, bares, igrejas tiverem um cartaz com um esses pontos, já ajudamos, porque a pessoa entra, vê uma janela fechada e pede para abrir, por exemplo. É uma atitude que já pode evitar o contágio”, diz Veiga. 

Na perspectiva dele, houve falhas na comunicação em nível regional sobre a importância do uso correto das máscaras, ao longo da pandemia, na medida em que mais conhecimento científico sobre as formas de contágio foram adquiridas. “Faltou uma política pública de distribuição de máscaras de qualidade. Ela poderia ter sido feita pelo menos para trabalhadores de serviços que nunca pararam, como ônibus e supermercados. Mas, hoje, você não vê funcionários no caixa usando PFF2. Perdeu-se o timing”, avalia. 

O médico sanitarista Claudio Maierovitch concorda: “Não é complicado de entender como se usa máscara da forma correta, se houver campanhas públicas ensinando. Mas muita gente só usa máscara porque é obrigada, porque está na lei, mas não está convencida de que aquilo é importante e fica com o nariz de fora, por exemplo. Precisamos de mais comunicação mostrando o uso adequado da máscara”, destaca. 

Estudantes da UFMG distribuem PFF2 no Centro de BH

O Comitê de Luta UFMG Pela Vacina, organizado pelo Movimento por uma Universidade Popular (MUP), reúne doações para adquirir máscaras do tipo PFF2 em BH. Desde maio, quando a iniciativa dos estudantes começou, cerca de 1.500 máscaras foram distribuídas a pessoas em situação de rua e trabalhadores do comércio do Centro, segundo um dos organizadores da campanha, o estudante de matemática Thomás Carrieri. 

“Conseguimos comprar máscaras de R$2 reais pela internet e distribuímos kit de três a cinco itens, com orientações de como usar. É um preconceito dizer que as pessoas não entendem como usar esse tipo de máscara. Quando elas param para nos escutar, compreendem bem”, relata o estudante. O projeto tem cerca de 200 máscaras em estoque e segue recebendo doações de qualquer valor pelo Pix ufmgpelavacina@gmail.com.

Como e quais máscaras utilizar

- Ambientes abertos: máscaras de pano são o bastante em ambientes abertos e com poucas pessoas ao redor. Já ambientes abertos com aglomeração exigem máscaras de maior qualidade, como a combinação de máscara cirúrgica e máscara de pano ou PFF2. 
- Ambientes fechado: idealmente, máscaras de maior eficácia. Caso se utilize máscara de pano, coloque uma máscara cirúrgica descartável por baixo. 

Seja qual for o modelo de máscara, ela deve estar bem-ajustada ao rosto, se deixar o ar vazar. Óculos embaçando, por exemplo, são sinal de que o ajuste precisa ser melhorado. Máscaras com elástico para pescoço e cabeça costumam vedar melhor que as de elástico para orelha. 

Tipos de máscara:
- Tecido: precisam ter três camadas de tecido, alternando algodão e material sintético, como TNT. 
- Cirúrgica: para ser mais eficaz, deve ser bem ajustada ao rosto, sem deixar grandes espaços nas bochechas. 
- PFF2: utilizada, inclusive, em hospitais, pode ser reutilizada, segundo pesquisadores, desde que “descanse”, longe do sol, por pelo menos três dias.

O projeto PFF Para Todos reúne sites e endereços de lojas em todo o Brasil onde comprar máscaras do tipo PFF2. Elas são mais facilmente encontradas em lojas de material de construção.