Após mais de um mês desde o decreto que fechou parte do comércio em Belo Horizonte devido à pandemia de coronavírus, o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marcelo de Souza e Silva, cobra um planejamento da prefeitura para reabertura dos serviços.
Segundo ele, a CDL-BH tem um projeto para ajudar nessa reabertura e ela poderia ser feita imediatamente, ainda que de forma gradual. Ele defendeu o ponto de vista no primeiro episódio da Live do Tempo, o novo produto do portal O Tempo, que conta com entrevistas com grandes nomes de diversas áreas, diariamente. Ao final desta entrevista, confira a programação da semana.
Vai haver uma “quebradeira” geral do setor varejista após a pandemia?
Há 30, 45 dias, vimos os decretos dos governos Federal e do Estado com a questão da saúde e levamos um grande susto. É uma coisa nova para todos e não é diferente para nós, empresários. Acatamos imediatamente, as empresas fecharam, mudaram o modus operandi, a maneira de receber o cliente.
No começo, vimos que chegaram alguma ajuda dos governos Federal, Estadual e Municipal, em relação a algumas questões de funcionamento das empresas demoraram um pouco, mas chegaram. Mas esse período (de fechamento) está se estendendo demais. O comerciante e o prestador de serviços já deram muito da sua parte. Neste primeiro momento, suportaram, mas o setor produtivo não consegue pagar essa conta sozinho.
É preocupante que várias empresas já estão fechando e setores importantes da nossa economia estão sendo afetados em 90% do faturamento, como o setor de turismo e o de eventos. Outros setores estão tendo 70, 60% de queda de faturamento. Em Belo Horizonte, o setor de comércio e serviços responde por 85% dos empregos, ainda não está acontecendo demissão em massa. Mas as empresas não estão faturando, não conseguem pagar suas contas e uma das contas, infelizmente, é o funcionário.
Assista à entrevista na íntegra:
Nesta segunda-feira (27), o Banco Central aponta uma retração da economia brasileira de 3,34% já para este ano, no relatório semanal que faz a pesquisa com o mercado financeiro, o Focus. Algumas instituições internacionais e consultorias, falam de retração em torno de 5% a 6%. Qual seria a parte do comércio do varejo essa queda? Qual seria a queda do comércio?
O impacto é enorme e estrondoso. O comércio e os serviços vão sentir muito. Estávamos vindo de uma retomada da economia, lenta, mas enxergando um horizonte positivo, com os investimentos voltando ao Brasil. Com a questão da pandemia agora, as notícias trouxeram uma visão super negativa. O setor vai ter que se esforçar muito para tentar se manter de pé.
A nossa expectativa é que, para este ano, a economia se perdeu, perdemos todo esforço que foi feito ao longo do último e do penúltimo ano. Para 2021, a expectativa não é boa, mas vamos acreditar e vamos fazer o que sempre fizemos: nós, empresários, sempre demos o nosso sangue para que a economia pudesse estar cada vez melhor no nosso Brasil e, principalmente, gerar os empregos necessários.
Em entrevista do jornal O TEMPO com o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, ele disse que, se entidades representativas, como CDL e Fiemg quiserem conversar com ele, o diálogo está aberto, mas que ele não tem data prevista para abrir o comércio de Belo Horizonte. A CDL já está conversando com a prefeitura, ela tem esse diálogo com o prefeito Alexandre Kalil?
Entendemos que o protagonismo tem que ser do poder público, ele que tem que demandar e convidar as entidades e articular essa reunião com as informações mais precisas da saúde. Não recebemos contato e estamos esperando ansiosamente, estamos prontos para participar. Já fizemos isso com o governo do Estado no (programa Minas Consciente, lançado na última semana com orientações para municípios mineiros retomarem atividades). Estamos cobrando contato com a prefeitura, não diretamente ao prefeito, mas aos secretários, com quem temos proximidade.
A CDL-BH, junto com outras entidades, está realizando, às 10h desta terça-feira (28), uma audiência pública para que a gente possa discutir esse tema juntos. Temos um conhecimento maior do que esse vírus está causando, acho que o controle está bem eficiente e estamos prontos para ajudar nessa retomada. Acho que não podemos passar deste momento agora.
Ter uma data é muito importante para haver um planejamento das empresas. Se eu não tem uma previsão de abertura do negócio, como o empresário vai fazer? Vemos ajuda chegar, mas a principal, que são as linhas de financiamento e capital de giro, não está chegando. Acessar essa linha de crédito é uma dificuldade enorme do comerciante, principalmente, do pequeno, micro e o médio. Essa é uma linha em que a prefeitura já poderia estar ajudando há muito tempo. Por que não montou uma equipe de apoio?
Qual é a proposta do comércio? Há datas de abertura? Como vai se dar o atendimento ao público, essa dinâmica de pós pandemia e comércio aberto?
Com outras entidades, estamos sugerindo horários diferenciados de abertura de atividades para não dar o rush do transporte coletivo tanto na parte da manhã quanto na parte do final do dia.
Várias cidades já retomaram o comércio. Sábado eu estive no comércio de Betim, acompanhando o presidente da CDL da cidade, José Barboza, e vimos que todos estão usando máscara. Limita-se o número de clientes; onde há fila, é feito espaçamento entre as pessoas, sugere-se que não haja promoções, para não aglomerar pessoas.
Há uma sugestão nossa para que tratemos com os aplicativos de transporte e com os taxistas formas de buscarem e levarem os funcionários do comércio em casa para não tumultuar o transporte público. Várias sugestões que estão nesse documento. Há muitas discussões, que não são fáceis, sabemos. São rupturas que precisamos fazer em modelos que existem há muito tempo.
Muitos leitores pedem retorno do comércio e perguntam como vão pagar as contas sem salário. O que falar para tantos leitores sobre esse futuro deles?
É muito importante deixar claro que nossa preocupação sempre foi de resguardar as vidas, mas mantendo as empresas e continuando a gerar os empregos. Hoje, o aparelho mais cobiçado para o tratamento das pessoas que contraem a Covid-19 é o respirador. Precisamos desse oxigênio, e o comércio também precisa dele. O que as pessoas estão falando é isto: está acabando o oxigênio de todo mundo.
A gente está segurando o comércio 30, 40 dias, está tomando as atitudes, buscando as soluções, mas elas não estão sendo suficientes. Precisamos de uma retomada responsável, segura, com a participação de todo mundo. O comércio é a principal atividade, que gera mais riquezas e os empregos da nossa cidade. Nesta reunião com a prefeitura, a CDL, se convidada, e com certeza será, vou posicionar que nós precisamos definir uma data.
A estrutura dos hospitais em Belo Horizonte e na região metropolitana está muito forte — se for o caso, precisamos fortalecê-la mais ainda, e vamos fazer isso juntos. Precisamos ter essa união de esforços para que retomemos o comércio de uma maneira segura, responsável e gradual. Ninguém quer tumulto, aglomerações, ninguém está pensando nisso, mas precisamos ter esse horizonte positivo para que as empresas possam se planejar e saber como e quando voltam.
Estamos acompanhando o crescimento do comércio virtual. Daqui para a frente, o que o comércio que não está adequado a esse tipo de venda precisa fazer? A CDL já tem algum programa ou está orientando, principalmente o pequeno comerciante, para entrar nesse mundo virtual?
A CDL lançou, na semana passada, o programa É Para Já, que traz um pacote de serviços, benefícios e alternativas para ajudar o empresário a passar por este momento. Estamos pegando na mão do lojista e ensinando desde o início: como se tira uma foto que fique bonita onde vai ser postada e como se cria um site, por exemplo. Mas esse esforço não adianta se não tivermos essa retomada.
Houve aumento de 36% na utilização dos meios digitais para as vendas, então essa vai ser uma realidade que nós vamos enfrentar e que já está acontecendo. Os empresários têm que se preparar, porque, hoje, a pessoa que não tinha hábito nenhum de lidar com um pedido pela internet ou em um aplicativo no smartphone já faz isso com muita tranquilidade.
O lojista também precisa estar preparado para quando esse cliente voltar à loja fisicamente. A loja vai precisar de um atendimento totalmente diferenciado. O lojista tem que se preparar para receber o cliente de uma maneira mais produtiva, gastando menos tempo na venda, sendo mais assertivo. Os canais digitais vão ajudar bastante para que ele faça uma pré-venda e, quando o cliente for à loja, vai ter a venda muito rápida no espaço físico.
A CDL tem a campanha Juro Zero, sobre a questão de capital de giro e de investimento, já que muitos comerciantes investem para ampliar a estrutura, pegam dinheiro emprestado e esses financiamentos estão sendo cobrados. Como está essa negociação com o sistema financeiro?
Estamos fazendo, desde o começo da pandemia, vários ofícios para os Governos Federal e Estadual e Municipal: pedimos flexibilização da legislação trabalhista, que veio; pedimos linhas de financiamento de crédito e de capital de giro diferenciadas, que vieram; pedimos postergação de pagamento de impostos, o que veio; fizemos vários pedidos, e alguns também não foram aceitos.
Aqui em Belo Horizonte, a gente pediu que também fossem consideradas atividades que pudessem funcionar o setor de armarinhos e tecidos, por causa das máscaras, e o setor de peças para refrigeração e ar-condicionado, porque os grandes hospitais e supermercados precisam deles; também pedimos o funcionamento do setor de peças automotivas, porque temos muitos motociclistas fazendo entregas e rodando com suas motos o dia inteiro e, quanto têm problema, ficam com dificuldade em adquirir as peças.
Existe também uma grande campanha de Juro Zero para sensibilizar os bancos de que precisamos, neste momento, que os cinco maiores bancos, que tiveram um lucro maior do que R$ 100 bilhões no ano passado possam dar sua contribuição. Não só na questão dos juros, mas na facilitação de acesso a esse crédito, que, muitas vezes, está vindo do Governo Federal. Nós vimos o ministro Paulo Guedes falar que os bancos estavam empossados de dinheiro e que, talvez, o Governo estudaria, e acho que está estudando, uma forma de fazer esse financiamento diretamente às empresas.
A gente está se mobilizando, em nível nacional, com o Sebrae estadual e nacional, para buscar alguma forma de facilitar para que essas linhas de crédito cheguem aos lojistas, principalmente os micro e pequenos empresários, que são grandes geradores de emprego. Cada um com seu um, três funcionários, quando você soma o volume, é muito grande. E eles precisam desse dinheiro, agora, para passar por este momento.
Um leitor diz que a CDL tem que ir para a porta da prefeitura e só sair de lá depois de falar com o prefeito, que não tem que aguardar a prefeitura chamar. Qual é sua posição sobre isso? Houve certa ruptura nesse tempo de diálogo ou a falta dele com a prefeitura?
Não. A gente entende a prefeitura como uma instituição e a CDL como uma instituição. As duas atuam há muito anos em Belo Horizonte — a CDL atua há 60 anos. E não é dessa forma que a gente vai conseguir (a retomada do comércio). A CDL sempre atuou de maneira tranquila, mas não deixamos nunca de tentar fazer esse esforço de falar com o prefeito. Fazer manifestação não é o perfil da CDL.
A CDL tem um objetivo a atingir, que é fazer a reabertura das nossas atividades de uma maneira segura e responsável. Para isso, precisamos ser responsáveis também na condução dos nosso processos com os poderes públicos, não só com a prefeitura, mas com o Ministério Público e com o Governo do Estado. A gente tem sempre uma relação respeitosa. É lógico que, em certos momentos, a gente tem uma entrada maior e, em outros, não. E a gente, de várias entidades, está tentando fazer uma interlocução e não está conseguindo.
Até quando o comércio aguenta ficar fechado, tanto em Belo Horizonte quanto em outras cidades? Teremos que continuar com o comércio fechado até passar essa curva do número de casos? Como aliar esses dois aspectos?
Estamos estudando o que acontece não só no Brasil, mas no mundo e, principalmente, em Minas Gerais. Em Minas, as maiores cidades já reabriram o comércio. Eu queria falar que não é uma abertura total, a gente tem muito cuidado: a sugestão é que o grupo de risco não venha, fique em casa, que haja horários alternativos de trabalho, que equipes sejam disponibilizadas conforme a necessidade, neste primeiro momento, até a gente ir medindo como vai ser essa retomada e ir trabalhando isso em conjunto com as autoridades, que são as responsáveis para conduzir esse processo.
Achamos que já há essa condição. Está havendo controle melhor das pessoas, os testes estão chegando, vemos esses medidores acontecendo e achamos que o comércio pode voltar espelhado em outros modelos e em outros cidades onde está acontecendo isso. A gente tem que atuar com muita firmeza, neste momento, mas sempre com a visão de resguardar as vidas.
Vocês já trabalham com data para sugerir reabertura de algum setor nessa conversa com o prefeito?
A nossa expectativa é que volte o mais rápido possível. A gente está vendo outras cidades onde o comércio voltou há uma semana, 10 dias. Achamos que há condição de fazer isso o mais rápido possível, imediatamente, de uma maneira ordenada e gradual, em que vamos cuidar de todos os aspectos.
Sabemos que Belo Horizonte é uma metrópole, depende muito da região metropolitana também, mas eu estive em Betim e Contagem e o comércio estava funcionando de maneira tranquila e prudente. Se não tivermos abertura do comércio de Belo Horizonte, as pessoas vão sair daqui e vão comprar nas cidades vizinhas, que já estão abertas. Assim, o comércio e os serviços da nossa cidade perde também.
Se a gente já estivesse junto com o prefeito discutindo esse tema, talvez já poderia estar com soluções prontas para retomar essa abertura o mais rápido possível.
Um temor que se tem é a pressão inflacionária sobre vários produtos, porque as pessoas não estão comprando, os prejuízos foram grandes, e teme-se que isso possa ser repassado no preço ao consumidor. Por outro lado, as pessoas que não estão trabalhando têm uma redução de renda. Como sair dessa sinuca? O comércio se compromete a não aumentar o preço dos produtos, ter um preço máximo para recompor perdas?
É uma equação muito tranquila para a gente falar. Todos nós, empresários, estamos ansiosos para fazer vendas. Essa questão de deixar 40, 45 dias atividades empresariais sem faturamento é totalmente nova. E nós vimos o que é passar por isso, estamos sentindo na pele. Esse pedido e essa angústia para abrir o comércio são por causa disso. E não acredito, de forma alguma, que vá haver aumento do preço de produtos, até porque estamos com estoques, as indústrias também, e não acreditamos que vá haver uma procura insana dos consumidores.
Temos uma preocupação com isso e sabemos que vamos ter que fazer várias ações para trazer o cliente de novo, para que ele compre por esses canais diferenciados e haja um equilíbrio. Não acreditamos que vá haver grande procura, que é quando a inflação aumenta, porque quanto mais procura, maior o preço.
Muitos lojistas vão ter que reconquistar o cliente. Isso vai ser bem pé no chão, hoje o cliente está sabendo, já pesquisa preço pelos meios digitais. As vendas online vão competir com as lojas físicas, com certeza. Em, se precisarmos, vamos orientar os lojistas a não aumentarem os preços, para que atraiam de novo consumidor e façam sua venda com produtos de qualidade e com preços justos.
Live do Tempo: programação da semana
A Live do Tempo começa às 14h, diariamente, e pode ser acompanhada em todos os canauis do portal O Tempo.
- Terça-feira (28): presidente da Associação Mineira de Supermercados (Amis), Alexandre Poni
- Quarta-feira (29): presidente do Sindicato das Agências de Propaganda de Minas Gerais (Sinapro-MG), André Lacerda
- Quinta-feira (30): presidente da Unimed-BH, Samuel Flam
Onde acompanhar: