Mesmo com o medo causado pelo rápido crescimento dos casos de coronavírus no Estado – hoje já são 153 confirmações e outros 17 mil em investigação –, mais pessoas resolveram sair de casa, pelo menos nas ruas do centro da capital. É o caso do auxiliar de serviços gerais Marcos Antônio, de 54 anos, que saiu de Ibirité, na região metropolitana de Belo Horizonte, para fazer compras.

"Estou só de passagem, vim procurar algumas coisas para comprar, mas está quase tudo fechado. No meu bairro tem poucas coisas, só supermercado, farmácia e padaria", justificou. Apesar do relato, a reportagem de O TEMPO flagrou muitos estabelecimentos que resolveram abrir as portas – desde sexta-feira, um decreto do prefeito Alexandre Kalil (PSD) determina o fechamento de comércios, bares e serviços para conter os casos de coronavírus na capital  

Só na rua Padre Belchior, lojas de material de construção e assistência técnica para celulares estavam abertas, sem nenhuma restrição de circulação. Já na rua Curitiba, uma bomboniere registrava até uma pequena fila. Do lado, uma lanchonete exibia o cartaz de delivery, forma encontrada por muitos comerciantes para amenizar os prejuízos, e um estabelecimento de materiais elétricos funcionava normalmente. "Das poucas (lanchonetes e restaurantes) que estão abertas, só do lado de fora. Estou saindo todo dia, sou recepcionista, mas tenho bastante medo", afirmou Carolina Alves, de 32 anos.

Desde o início do decreto na capital, a Guarda Municipal já flagrou 1.349 estabelecimentos de portas abertas. Conforme a pasta, os agentes fazem uma abordagem de orientação e pedem o fechamento do local. Caso o proprietário siga com a infração, é acionada a Secretaria de Fiscalização, que pode multar e até suspender o alvará de funcionamento. Porém, até o momento, nenhum comércio foi punido, e todos os estabelecimentos irregulares fizeram as adequações para funcionar ou suspenderam as atividades.

Movimento nos pontos de ônibus

No coração de Belo Horizonte, a praça Sete tinha pontos de ônibus cheios. Indignada, a faxineira Silvana Andrade, de 45 anos, afirmou que o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) estimulou mais pessoas a saírem às ruas – na terça-feira, Bolsonaro criticou as medidas de restrição impostas pelas prefeituras para conter o avanço do coronavírus.

"Ele não está na pele do povo. A gente precisa do coletivo público, o meio de transporte da gente é o coletivo. Ele não passa por essa situação, deveria passar para saber o que é. Eu acho que, se é para fechar, tem que fechar mesmo, pela saúde do povo. Não é para a saúde dele, não, ele está bem, anda só de jatinho. Está faltando emprego, sim, mas os patrões precisam ter consideração com os funcionários, primeiro é a saúde", pediu.

Próximo à praça, cartazes de um armarinho, de uma assistência técnica e de uma lanchonete, que não tinha nenhuma barreira para impedir a entrada das pessoas, avisavam sobre o funcionamento normal. "O povo não está ficando em casa, não está respeitando. Nas empresas que a gente trabalha, costuma liberar mais cedo, mas vejo muitos idosos na rua. Eles são teimosos também", brincou Andrade.

A terapeuta Carolina Almeida, de 40 anos, também percebeu o número maior de pessoas nas redondezas da avenida Augusto de Lima. Ela, que está em isolamento, fazia um rápido passeio com seu cachorro. "Não saía com ele desde segunda, hoje ficou meio enlouquecido dentro de casa e resolvi vir na rua. Estou surpresa que tem mais gente. Talvez tenha sido pela fala do presidente ou as pessoas cansadas de ficar em casa", contou.

Lojas abertas no Sagrada Família

Assim como na região central, algumas lojas voltaram a abrir no bairro Sagrada Família, na região Leste de Belo Horizonte. Na avenida Cristiano Machado, revendedores de materiais elétricos e som automotivo retomaram as atividades. Em outra rua, a variedade de estabelecimentos em funcionamento era grande: peixaria, reformadora de móveis, pet shop e um mercado de produtos caseiros.

De acordo com a Secretaria Municipal de Segurança e Prevenção, os agentes da Guarda Municipal realizam patrulha rotineira em toda a capital e ainda atendem denúncias de locais abertos sem permissão, por meio do telefone 156 ou no portal pbh.gov.br.