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Coronavírus: riscos para gestantes, lactantes e bebês não são alarmantes

Médica ressalta importância do isolamento e explica como adotar a telemedicina para consultas de rotina

Por Léo Simonini
Publicado em 20 de março de 2020 | 13:59
 
 
 
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A pandemia de coronavírus tem deixado as pessoas assustadas pela novidade da doença e, algumas vezes, pela desinformação propagada pelas fake news. Um grupo em especial, o das mulheres grávidas ou lactantes, merece atenção e tranquilidade, justamente para poder passar por este momento sem criar ansiedade e estresse, já que tanto elas, quantos os bebês, podem apresentar pouca evolução da doença mais grave.

É isso que explica a médica ginecologista e obstetra Roberta Grabert, formada há 29 anos pela FMUSP. Segundo ela, as novas mamães ou futuras precisam somente seguir à risca as recomendações comuns para todos neste momento, principalmente reclusão e higiene das mãos, inclusive com o álcool gel, que não faz mal para elas. Mas também devem evitar consultas ou exames que não sejam essenciais, justamente para evitar aglomerações em salas de espera.

"Gestantes são sempre um grupo de risco, mas esse vírus em especial não parece ter gravidade maior nelas do que em outras pessoas. Ela atinge grávidas igualmente, sendo que sempre temos uma porcentagem delas com infecções piores, mas tem ligação com o número de gestantes atingidas", explicou a médica. Roberta explica que na propagação ocorrida de outro tipo de gripe, a H1N1, em 2016, o risco para o grupo era maior. "Era pior, atingiu elas diretamente", continuou.

Com relação às lactantes, Roberta explicou que a taxa de transmissão de uma mãe contaminada para um bebê, praticamente não foi detectada ainda pelo mundo, e que por isso, é essencial que a amamentação ocorra normalmente nestes casos, claro, com certos cuidados.

"Parece que passa pouco para o bebê, não é algo gritante. Se a grávida estiver com coronavírus na hora do parto, tem que avisar a equipe médica, pode ser feito o parto normal, não é necessária uma cesariana por isso. Mas como no Brasil temos o hábito de chegar muito cedo à maternidade, é preciso evitar. E algo que temos pedido é que vá apenas um acompanhante, sem levar a família, tudo isso para a segurança da grávida e do nenê", continuou.

Já em casa, a médica explica que na hora de amamentar é necessário higienizar bem os mamilos, com água e sabonete, as mãos, e em caso de mãe infectada, o uso da máscara por causa da proximidade com o bebê. Ah, e visitas ao novo membro da família devem ser proibidas durante a pandemia.

"Não é para visitar grávida, nem no berçário e nem na maternidade, não deve ir ao hospital e nem em casa depois. As visitas estão suspensas, não temos casos com crianças e bebês, mas como se trata de um vírus novo, todo cuidado é pouco", continuou.

Roberta lembra que a doença se manifesta com mais vigor em pessoas mais velhas, algo que na maioria dos casos não inclui as novas mamães, e que exatamente por isso, a amamentação no peito deve ser interrompida somente em último caso.

"A maioria das infecções (para grávidas) vai ser leve, às vezes, um resfriado, por isso ela não precisa ficar preocupa. Mas caso esteja se sentindo mal, pode tirar o leite e dar numa chuquinha ou copinho especial para recém-nascidos, e em último caso, usar uma mamadeira.

Telemedicina

Além das especialidades médicas já citadas, Roberta Grabert é pós-graduada em sexualidade humana e Telemedicina, com MBA em Gestão de Saúde pelo Insper-Hiae. Sobre a telemedicina, ela explica que é uma prática que engatinha no Brasil, o que nos deixa atrasados em relação a boa parte do mundo. Mas, com o isolamento provocado pelo Covid-19 ou novo coronavírus, esse modelo de atendimento médico tem sido praticamente a única opção para variadas consultas.

"Aqui no Brasil ainda não tem a cultura, nos Estados Unidos já é uma prática mais formal, existem canais (como aplicativos) especializados nisso. Os convênios ainda não aceitam, mas é um trabalho que pode e deve ser cobrado. Se tem algo de bom nesse coronavírus é a difusão desse trabalho, ele ainda divide opiniões, mas aos poucos vai passar a fazer parte da nossa realidade", completou.

Aline Silva Machado Penido, futura mamãe de primeira viagem, grávida de 21 semanas, por exemplo, tem uma consulta presencial mantida para o próximo dia 3 de abril. Pelo fato de ter que mostrar exames importantes, acredita que o atendimento será confirmado.

"Minha médica ainda não me fez nenhuma orientação especial, além daquelas que todos temos que ter e que estou seguindo à risca. Mas acredito que nesta próxima consulta ela vá me orientar ainda mais para que eu possa esperar a Clarice com tranquilidade", pontuou.

Já Ana Carolina Alberti realizou nesta sexta-feira (20) sua última consulta antes da chegada de André, seu segundo filho. E a doença teve um desfecho determinante para uma decisão, conforme relatou seu marido, Marcelo Neumann.

"Fizemos a consulta hoje já sem mais ninguém no consultório, e por causa das indefinições com relação ao avanço da doença, nossa médica decidiu para fazer o parto amanhá (sábado, dia 21). Ela ficou com receio de a maternidade ficar cheia, faltarem alguns itens por causa da pandemia, e como já estava no período previsto para ele nascer, isso ficou decidido", completou.

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