Um ônibus antigo “à caça” de idosos que estão escapando de casa em tempos de isolamento social tornou-se atração entre os moradores de Vespasiano e Lagoa Santa, cidades na região metropolitana de Belo Horizonte. Apelidado de “Cata Véio”, o ônibus circula desde domingo (5) nos dois municípios e, de repente, o que começou como uma brincadeira acabou se transformando em ação bem-humorada de conscientização sobre a importância da quarentena durante a pandemia coronavírus – principalmente para as pessoas na terceira idade, grupo de risco da infecção.
Vídeos que mostram o ônibus rodando viralizaram na internet nos últimos dias e já tem até quem ligue para os proprietários do veículo, um casal de Vespasiano, para pedir que o “Cata Véio” faça uma visita a pais, mães, tios e avós que insistem em sair de casa. Dirigido por André Meneguini, engenheiro de 54 anos que coleciona e restaura objetos e veículos antigos, o “Cata Véio” nasceu como uma ideia de sua mulher, Katya Salomão, para brincar com as tias mais idosas que não aguentam mais ficar em casa.
“Eu tenho muitas tias de 70 anos para cima. Na sexta-feira à noite uma delas me ligou e disse que não queria mais ficar em casa e brincou que, agora, tem até um homem do saco que fica pegando velhos que andam na rua. Quando chegou no domingo, eu e meu marido decidimos passar na porta da casa dessas tias para sensibilizá-las da importância de ficar em casa. Escrevemos ‘cata véio’ nas janelas do ônibus com pasta de dente e fomos”, conta a empresária Katya, aos risos. Aliás, a brincadeira de “caçar idosos” nas ruas está acontecendo há algum tempo em todo o mundo. Na internet, existem inúmeros vídeos de pessoas fantasiadas como a personagem “morte” para brincar com idosos que estão nas ruas. O "Cata Véio", importante destacar, não recolhe ninguém das ruas, é apenas uma brincadeira.
Quando Katya e o marido chegaram à casa da primeira tia, em Vespasiano, acabaram flagrando-a exatamente no momento em que a mulher saía para ir até o sacolão. “Por coincidência, na hora que chegamos vimos que ela estava saindo. Essa minha tia mora em um prédio de três andares”. A cena, aliás, ficou gravada em vídeo. Nele, Katya encontra a tia no instante em que ela está saindo e brinca: “olha o que está aqui na porta, sai pra você ver se não te pega”.
“Na hora, muitos vizinhos chegaram na sacada e gostaram da ideia do ‘cata véio’. Alguns começaram a pedir: ‘vai na casa da minha mãe’, ‘vai na casa da minha avó’, também para sensibilizar sobre a importância de ficar em casa”, explica Katya.
Logo em seguida, o que seria um passeio rápido de 30 minutos acabou tornando-se uma viagem longa de quatro horas por Vespasiano e Lagoa Santa, com direito a paradas nos endereços que amigos e conhecidos dela e do marido pediam. “Sempre que alguém nos via passando pedia para irmos na casa de algum parente para brincar. Ficamos circulando por horas atendendo a esses pedidos. Nisso, alguém filmou e o vídeo viralizou. Era para ser uma brincadeira, mas o negócio tomou uma proporção muito bacana”, conta.
Após as primeiras horas de diversão, Katya continuou recebendo inúmeros pedidos, pela internet e pelo telefone, para visitar alguns idosos mais agitados que querem sair de suas casas. Aliás, ela já tem até uma viagem prevista para a sexta-feira da Paixão, para brincar com os mais velhos que decidirem seguir com as vigílias nas portas das igrejas na data santa.
“Anteontem (terça-feira, 7) mesmo uma enfermeira me ligou pedindo para eu passar com o ‘cata véio’ na porta de um banco que estava cheio de pessoas com mais de 60 anos na porta. Hoje (quinta-feira, 9) me ligaram da Igreja Católica pedindo para eu passar com o ônibus umas 10h30, porque algumas pessoas têm mania de ir fazer vigília”.
Ainda segundo Katya, a brincadeira não tem data para terminar e, já no próximo sábado (11), o ônibus circulará novamente em Vespasiano. “Nós sairemos com o ônibus sempre atendendo a pedidos, ou então para brincar. Precisei fazer um roteiro, anotando os nomes das pessoas que pediram e os endereços que elas passaram, e aí no sábado a tarde eu e meu marido vamos nas casas dessas pessoas”.