ANVISA RECOMENDOU

Covid: imunologista critica flexibilização de regras em aeroportos

Para pós-doutora em imunologia pela UFMG, o ideal era aguardar o reflexo da flexibilização do uso das máscaras para afrouxar protocolos de viajantes

Por Gabriel Ronan
Publicado em 05 de abril de 2022 | 03:00
 
 
 
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Aos poucos, os protocolos sanitários começam a cair um a um no Brasil. Após várias cidades e estados flexibilizarem o uso da máscara, o governo federal alterou as regras para a entrada de pessoas vindas do exterior. Em edição extra do Diário Oficial da União na última sexta-feira, o Executivo deu aval para que viajantes vacinados entrem no Brasil sem necessidade do teste negativo para Covid-19. Para os não imunizados, o afrouxamento foi na dispensa do isolamento (quarentena) após a chegada. 

Mas, na avaliação da pós-doutora em imunologia pela UFMG e coordenadora da área da Saúde da Una, Ana Cristina Hostt, ainda não há cenário para mudança nesse regramento. 

A preocupação da especialista passa sobretudo pela decisão de flexibilizar várias medidas ao mesmo tempo, como a liberação do não uso da máscara e o afrouxamento das regras referentes aos viajantes. 

“Ainda não colhemos os frutos dessas flexibilizações. É contraditório que a gente reduza uma barreira sanitária tão importante, como no caso de possíveis variantes que circulam entre pessoas em voos internacionais”, explica Ana Cristina. 

A pós-doutora em imunologia lembra que vários países atualmente registram casos de infecção pelo novo coronavírus em proporções elevadas, casos da China e de alguns membros da União Europeia. 

Na última sexta, o próprio secretário de Estado de Saúde de Minas Gerais, Fábio Baccheretti Vitor, confessou que já há diagnósticos da subvariante BA.2, uma linhagem secundária da ômicron, no Estado. Apesar disso, o médico garantiu que não houve alteração na onda de casos e mortes pela doença. 

Para Ana Cristina Hostt ainda é cedo para dizer que a BA.2 não vai resultar numa piora do cenário epidemiológico do Brasil. Esse fator também pesa contra a liberação da quarentena para não vacinados e dos testes para os imunizados que chegam ao País. 

“A gente aprende muito com a pandemia em termos mundiais. Em alguns estados, a gente não consegue ter um controle ainda no número de casos, a transmissão ainda está alta. O número de óbitos ainda existe diariamente. É muito arriscado, porque é um vírus novo. É preciso observar os dados epidemiológicos por um tempo (para tirar conclusões como a do secretário)”, diz a imunologista. 

Anvisa recomendou

A decisão do governo federal sobre os viajantes foi oficializada por meio da portaria interministerial de número 670. Os ministérios da Saúde, Infraestrutura e da Justiça e Segurança Pública chancelam o documento, além da Casa Civil da Presidência da República. 

A medida vem na esteira de uma recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que já havia sinalizado favoravelmente ao afrouxamento nos aeroportos. 

“No cenário epidemiológico atual, entende-se que os benefícios positivos da quarentena na redução da transmissão do SARS-CoV-2 devem ser equilibrados contra os riscos relacionados de violação de direitos humanos, danos psicossociais e econômicos, interrupção de viagens e comércio, reduções na movimentação de bens essenciais e mobilidade da força de trabalho”, informou a Anvisa no documento. 

Mas, na própria recomendação, a agência ressalta a importância do isolamento para os não vacinados. Conforme estimativa da própria Anvisa, a quarentena de 14 dias após a chegada do viajante tem eficácia estimada entre alta e muito alta (78% a 99%). 

As únicas estratégias de mitigação com eficiência parecida são a proibição irrestrita de receber pessoas de fora (100%) e o isolamento social por cinco dias seguido por teste. 

A indicação da Anvisa era para que as medidas tomadas pelos ministérios acontecessem a partir de maio, justamente para assegurar a manutenção do cenário epidemiológico atual. No documento, a Anvisa deixa claro que o controle sanitário nos aeroportos precisa ser feito a partir da vacinação, até mesmo com a suspensão da declaração de saúde do viajante (DSV). 

A DSV era usada pelo órgão como ferramenta de monitoramento epidemiológico das pessoas que chegam ao Brasil, mas o Sistema Brasileiro de Informações Antecipadas de Passageiros (Sisbraip), do Ministério da Infraestrutura, já cumpre essa função.

Protocolos mundo afora

Certo é que o Brasil segue uma tendência mundial de mudança nos protocolos para viajantes nos aeroportos. Nos Estados Unidos, por exemplo, todos precisam apresentar apenas teste negativo realizado até três dias antes. 

Na França, os não vacinados precisam do exame realizado previamente e podem passar por nova testagem aleatória. Num caso mais extremo, o México praticamente não realiza mais qualquer triagem: o viajante só é examinado se apresentar sintomas de Covid-19.

No exemplo do Chile, o protocolo segue o indicado pela imunologista da Una, Ana Cristina Hostt. O País exige dos vacinados o comprovante de imunização e também o teste de Covid-19 negativo, que deve ser feito assim que o viajante chega ao País. Os não imunizados passam pelo mesmo exame e depois seguem para uma quarentena de sete dias. 

“O vacinado continua transmitindo a doença. Ele tende a ter uma carga viral mais baixa justamente porque o sistema imune dele está apto a combater o vírus. Mas, existem exceções também. O ideal é testar por causa disso. A medida de proteção é excelente, mas não descarta a testagem, que é vital para o controle da pandemia”, ressalta Ana Cristina Hostt, imunologista da Una.

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