Ânimos acirrados

Crimes de ódio na internet sobem 67,5% em 2022

Estudo constata que, em anos de eleição, aumentam denúncias de intolerância religiosa, misoginia e LGBTfobia

Por Anderson Rocha
Publicado em 16 de setembro de 2022 | 03:00
 
 
 
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Denúncias de crimes virtuais de ódio cresceram 67,5% nos primeiros seis meses de 2022 na comparação com o mesmo período de 2021 – de 14.289 registros para 23.947. Os dados constam em pesquisa publicada no mês passado, pela Safernet Brasil, associação apartidária parceira do Ministério Público Federal (MPF) que considerou sete tipos de crimes ao reunir os dados. O levantamento mostra que, como costuma ocorrer em anos eleitorais, em 2022 não foi diferente: os registros aumentaram.

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“É um momento delicado. Eleições são um terreno fértil para o acirramento das diferenças. Isso pode influenciar o engajamento em conteúdos que incitam a violência virtual contra grupos que são alvos frequentes de discursos de ódio”, comenta Juliana Cunha, diretora de projetos da ONG Safernet.

A maior alta nos registros ocorreu nos casos de intolerância religiosa: 654% no mesmo intervalo (de 373 para 2.813). Embora a Safernet não repasse dados específicos de Minas, muitos mineiros têm sentido esse cenário “na pele”, como a professora de inglês Sâmila Oliveira, de 30 anos, que mora em Contagem, na região metropolitana de BH. Ela viveu anos na Índia – onde o pai, missionário, cuida de órfãos voluntariamente – e cresceu em rodas de conversas de diversas ideologias. Posicionada politicamente à direita, a mineira é criticada quando publica sobre o tema nas redes.

“Quando publico reflexões para meus amigos, não é raro ver pessoas descredibilizando meu raciocínio. Sinto que é por ser mulher. Eles ignoram que tenho conhecimento sobre o assunto e falam: ‘é mulher, não sabe o que está falando’”, detalha.

“Macumbeira é o que mais falam”

Moradora do bairro Cachoeirinha, na região Nordeste de BH, a corretora de seguros Denise Ferreira, de 55 anos, também é alvo de manifestações de ódio vez ou outra quando posta fotos dos encontros de umbanda de que participa, como a festa de Iemanjá, realizada em agosto, na Pampulha. “Macumbeira é o que mais falam”, lamenta ela sobre os comentários que recebe nas imagens. A corretora conta que muitas vezes as pessoas param de seguir o perfil dela ao ver as postagens.

“As pessoas nos veem de branco, e parece que as estamos ofendendo. Quando criticam, eu argumento da maneira que a umbanda pede: com paz e serenidade”, completa Denise.

Candidato diz que perdeu votos por ser gay

“Não voto em ‘viado’”. O comentário foi deixado no Instagram do candidato a deputado federal por Minas Túlio Cária, de 28 anos. O autor da postagem considerou a orientação sexual do postulante e ignorou a capacidade técnica do jovem, que é mestre em direito e egresso do RenovaBR (escola apartidária de política pública).

“Isso chateia, mas não abala”, disse Cária, que passou por situação semelhante em 2020. Na época, ao se candidatar a prefeito de Amparo do Serra, na Zona da Mata mineira, cidade com cerca de 5.000 habitantes, onde nasceu e cresceu, um pastor espalhou em grupos de WhatsApp que Cária “levaria o movimento LGBT para lá” se fosse eleito. “Isso influenciou a quantidade de votos que recebi (21,4% dos válidos)”, disse ele, que mora em BH atualmente.

Tendência 

Em 2020 e 2018, que tiveram eleições, denúncias de crimes de ódio na internet subiram em relação a anos sem votação. “Eleições tornaram-se um campo fértil para o discurso de ódio, que desde 2018 tem registrado aumento no período eleitoral”, informou a Safernet.

Na crescente

Registros de outros crimes de ódio na web também cresceram no primeiro semestre de 2022 frente a 2021: xenofobia (520%); neonazismo (120%); apologia de crimes contra a vida (50%); LGBTfobia (47%); misoginia (26%); e racismo (23%), conforme o levantamento da Safernet.

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