Da varanda da cantina do Aeroporto Carlos Prates, é possível ver os aviões – em sua maioria monomotores usados para instrução de novos pilotos – pousarem e decolarem da pista de 928 m de comprimento. De lá, dá para testemunhar ainda as aeronaves sobrevoarem o bairro Caiçara, de um lado, e o Anel Rodoviário, do outro. Por dia, 59 pousos e decolagens acontecem, em média, entre o nascer e o pôr do sol, uma vez que o local não opera voos noturnos.
Com 75 anos de funcionamento, o aeroporto abriga seis escolas de aviação, segundo a Anac – embora funcionários do local tenham dito que são quatro –, oficinas de manutenção, hangares, centro de treinamento para pilotos oficiais do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar, área de pouso para aviões de combate a incêndio e até uma boate, o E-Hangar, que ocupa o hangar mais antigo e é oficialmente classificada como “espaço para eventos culturais e musicais”.
De acordo com o gerente e um dos sócios do espaço, André Barcelos, a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) fez uma licitação para que o local se tornasse um espaço cultural. Porém, ele garante que os clientes não têm acesso à pista nem aos aviões. Além disso, a casa precisa ter uma série de regras de funcionamento. “Os seguranças são da Infraero, os clientes não têm nenhum acesso à pista, e sempre realizamos nossos eventos na parte da noite, para não atrapalhar as atividades do aeroporto”, explica Barcelos. A casa funciona desde fevereiro deste ano.
Histórias
A dona da cantina do aeroporto, Nilza Dias Santos, 50, garante que “larga qualquer coisa que estiver fazendo” se for convidada por algum piloto para voar. “Estou aqui há sete anos e amo isso aqui. Voar é a melhor coisa do mundo”, conta.
Geraldo dos Reis, apaixonado assumido por aviação, começou a trabalhar no Aeroporto Carlos Prates quando tinha 15 anos. Hoje, aos 74 anos, o mecânico aposentado ainda presta serviços a uma oficina de manutenção de aeronaves no local.
Ele cita momentos memoráveis. “A festa comemorativa dos 50 anos da Força Aérea Brasileira, em 1990, as festas de aniversário do aeroclube, os saltos de paraquedistas aos sábados e aos domingos”, relembra Reis.
Anac atesta regularidade de atividades
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) atesta, por nota, que não há irregularidades no Aeroporto Carlos Prates a respeito da segurança.
“Todos os aeroportos passam por fiscalização da Anac e só estão abertos ao tráfego aéreo porque são regidos pelos normativos da aviação civil, expedidos e fiscalizados pela agência. Em relação ao aeroporto Carlos Prates, não há irregularidade no âmbito das normas de aviação civil”, destacou em nota.
De acordo com a agência, todas as atividades realizadas no local são devidamente regulamentadas, sobretudo as escolas de instrução de voo. “O aeródromo do Carlos Prates (SBPR) possui, atualmente, seis instituições credenciadas pela Anac voltadas à qualificação de profissionais da aviação civil”, garantiu.
Casos e curiosidades
O filme “Bela Noite para Voar” relata que, em 1958, Juscelino Kubitschek precisou pousar no então Aeroclube Carlos Prates. Depois que militares contrários a ele desligaram a iluminação da Pampulha, o avião do presidente precisou pousar no local, com ajuda dos faróis dos taxistas.
Corre uma lenda entre os pilotos de que o fazendeiro que doou a área para construção do aeroporto em 1944 fez um contrato que tinha em suas cláusulas a seguinte condição: caso algum dia o aeroporto deixasse de existir, o terreno automaticamente voltaria para a família dele.