Em 2010

Delegado que matou motorista em BH foi condenado por atirar em carro em Alfenas

Rafael de Souza Horácio estava embriagado após o término do noivado e teria chutado a porta e atirado contra um carro em zona boêmia da cidade do Sul de Minas

Por José Vítor Camilo
Publicado em 28 de julho de 2022 | 21:19
 
 
 
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O delegado Rafael de Souza Horácio, que atirou e matou um motorista de um reboque na última terça-feira (26) após uma briga de trânsito, no Centro de Belo Horizonte, já foi condenado pela Justiça após, em 2010, chutar e atirar contra um carro em uma rua de Alfenas, no Sul de Minas, cidade onde ele já atuava na Polícia Civil. 

A reportagem de O TEMPO teve acesso, nesta quinta-feira (28), à decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) que condenou Horácio a três anos de prisão. Posteriormente, a pena acabou convertida em prestação de serviços à comunidade e pagamento de multa no valor de três salários mínimos, o que foi cumprido em 2020, em Belo Horizonte, pelo policial.  

No processo, é narrado que os disparos aconteceram no dia 30 de janeiro de 2010, na rua Tapiranas, no bairro Vila Teixeira. Na ocasião, ele teria acabado de terminar o relacionamento com a noiva em um estabelecimento comercial da região e, "emocionalmente abalado", fez uso de bebidas alcoólicas. 

"Rafael, então delegado de polícia lotado naquele município, passou a adotar comportamento incompatível com as suas funções, na medida em que, sem motivos aparentes, abordou o veículo Fiat/Palio, de cor cinza, ocupado por M.M., M.M., N.B.M e P.F.D.R., tentando entrar em seu interior", detalha o processo.

Após os passageiros do veículo terem impedido que o policial entrasse, ele teria chutado as portas, caiu no chão e, em seguida, efetuou disparos com sua arma, atingindo o pneu dianteiro do veículo das vítimas. Felizmente, ninguém ficou ferido na ocasião. 

Delegado alegou que disparos foram acidentais

Na época do ocorrido, Rafael de Souza Horácio alegou na Justiça que estaria tentando abordar um conhecido traficante - que não foi identificado por ele no processo -, quando acabou atropelado por um carro, caiu e sua arma disparou acidentalmente. 

Entretanto, ainda conforme o TJMG, foram efetuados três disparos no dia e, segundo o relato dos ocupantes do carro atingido pelo tiro, o delegado teria os abordado com a arma em punho, batendo no vidro e pedindo para entrar. Assustados, eles teriam tentado sair do local, momento em que ele chutou a porta, caiu e, no chão, atirou. 

Depois da abertura de uma investigação para apurar os disparos feitos pelo delegado, Horácio acabou sendo transferido para uma delegacia de Betim, na região metropolitana de BH, onde ficou por anos antes de assumir o cargo no Departamento Estadual de Combate ao Narcotráfico (Denarc), onde segue lotado até hoje. 

Procurada nesta quita pela reportagem de O TEMPO, a Polícia Civil informou, por meio de nota, que detalhes sobre o histórico funcional do delegado não seriam divulgadas  durante a tramitação dos procedimentos disciplinares para não comprometer o sigilo das investigações. 

"A PCMG assegura que todos esclarecimentos serão prestados quando da conclusão do inquérito policial", completou a nota da instituição. 

Ainda nesta quinta, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) anunciou que acompanhará a investigação do caso. Além disso, após o enterro do motorista, os advogados da família também afirmaram que pedirão a reconstituição do crime

Relembre o caso

Anderson Cândido Melo foi morto na tarde de terça-feira (26), no Viaduto Oeste, no Complexo da Lagoinha. O delegado envolvido estava em uma viatura descaracterizada quando teria sido fechado pelo caminhão, o que deu início a uma discussão.

Após algum tempo, o policial teria atravessado a viatura na frente do reboque da vítima e efetuou um único disparo, que atingiu o pescoço do homem. A vítima chegou a ser socorrida para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, onde passou por um procedimento cirurgico. No entanto, ele não resistiu e veio a óbito no local. A vítima deixa quatro filhos, sendo três meninas e um menino.

Ainda na tarde desta quarta, motoristas de caminhão reboque realizaram uma carreata em manifestação para cobrar que as autoridades investiguem devidamente o assassinato de Anderson Melo pelo policial. O corpo do motorista assassinado também foi liberado do IML de BH na tarde de quarta, quase 24h depois da morte. 

Atualizada às 21h38

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