Implantado há 16 anos no Brasil, o processo de transexualização feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ainda é um direito longe de ser alcançado para as pessoas que desejam realizá-lo em Minas Gerais, onde a fila de espera para o procedimento pode levar até 10 anos. No país, apenas cinco hospitais estão habilitados para executar o procedimento, e nenhum deles está no Estado.

Chamada de cirurgia de redesignação sexual, a operação foi disponibilizada pelo SUS em 2008 e, mesmo 15 anos depois, ainda é restrita. No Brasil foram realizados, desde 2014, apenas 280 procedimentos deste tipo pela rede pública. 

A cirurgia consiste em alterar as características dos órgãos sexuais de pessoas transgênero. Na prática, o pênis é remodelado para dar lugar a uma vagina e vice-versa. Para quem sonha com essa mudança, a espera causa tanta angústia que, quem tem condições, prefere pagar pela cirurgia. 

Foi o que fez a estudante Michelle Lima*, 33, que chegou a procurar o SUS em 2012 para dar início ao processo de redesignação, mas se frustrou com a demora. “Não tive acolhimento na época e confesso que me decepcionei com o tempo de espera que informaram, que era de quase 10 anos. Eu tinha ciência dos trâmites burocráticos, do acompanhamento e tudo mais, mas não achei justo lidar com isso por tanto tempo”, revela a estudante que, após pagar R$ 40 mil, conseguiu a mudança que tanto desejava, apesar do custo financeiro.

Serviço de redesignação sexual oferecido em Minas 

Em Minas Gerais, o serviço oferecido nesse sentido é limitado. No Hospital Eduardo de Menezes, em Belo Horizonte, o Ambulatório Multiprofissional Especializado no processo Transexualizador (AMETrans) atende cerca de 500 pacientes, incluindo pessoas de cidades do interior do Estado. No local, é realizado todo o processo multiprofissional destinado ao acolhimento de pessoas transexuais e processo transexualizador hormonal, pré e pós-cirúrgico, mas a operação mesmo é encaminhada para hospitais fora de Minas Gerais.

*nome fictício

Números da cirurgia

280 - cirurgias de redesignação sexual foram feitas pelo SUS desde 2014.

5 - hospitais realizam o procedimento em todo o Brasil. Eles estão localizados em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Goiás.

2.150 - procedimentos ambulatoriais à população trans foram realizados em Minas Gerais entre 2019 e fevereiro de 2022, conforme o Ministério da Saúde.