Mais de 2,2 milhões de adolescentes em Minas Gerais não estão protegidos contra o HPV, sigla em inglês para papilomavírus humano. De acordo com a Secretária de Estado de Saúde (SES), a cobertura vacinal entre os meninos é de apenas 15,95%, enquanto a imunização de meninas não chega nem à metade do público-alvo, com 48,46%.

Devem se vacinar todas as crianças e os adolescentes que ainda não receberam a primeira dose ou que receberam a primeira dose, mas ainda não foram imunizados com a segunda. Em Minas, segundo a SES, a população estimada de meninos que não receberam a primeira dose é de 366.374 e os que não receberam a segunda são 554.908. Já o número de meninas que não receberam a primeira dose é de 577.166 e as que não receberam a segunda são 710.661.

As meninas e os meninos que receberam somente a primeira dose não podem ser considerados imunizados contra o vírus. A meta do Ministério da Saúde é vacinar 80% do público-alvo, ou seja, 1,8 milhão de meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos em Minas. Segundo especialistas, o baixo número de imunizados acontece devido a vários fatores, que incluem a associação da doença ao início da vida sexual e ao machismo dos pais.

A preocupação se dá porque, segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, cerca de 54,6% da população entre 16 e 25 anos está infectada pelo vírus, sendo que 38,4% deles estão com o tipo que pode gerar o desenvolvimento de câncer, principalmente o de colo de útero, mas também os de pênis, vulva, canal anal, boca e garganta.

O Ministério da Saúde afirma que o objetivo é vacinar mais de 20 milhões de adolescentes. Para garantir a proteção o órgão investiu R$ 567 milhões na aquisição de 14 milhões de vacinas. Em Minas, a expectativa é proteger um total de 884 mil meninas de 9 a 14 anos e 978,3 mil meninos de 11 a 14 anos.

Na capital, de acordo com os últimos dados da Secretária Municipal de Saúde, divulgados em fevereiro, apenas 36,9% dos meninos foram imunizados. Entre as meninas, o índice é de 56,9%.

“A principal barreira é a da educação. Muitos pais associam a vacina a uma influência ao estilo de vida sexual e acham que a questão é da menina. Mas é um problema de saúde pública”, alerta a diretora de Promoção à Saúde e Vigilância Epidemiológica da capital, Lúcia Paixão.

“O intuito dessa vacinação na pré-adolescência é imunizar e prevenir os cânceres na fase adulta”, explicou a infectologista Silvia Hees de Carvalho.

 

Fake news são ameaça à saúde

As fake news têm ameaçado o sucesso da vacinação no país e ressuscitado doenças já erradicadas, como sarampo e poliomielite, segundo a infectologista Silvia Hees de Carvalho. A baixa incidência das enfermidades atualmente faz com que a população não tenha o mesmo receio que tem em épocas de surtos.

“Temos percebido uma redução da cobertura vacinal no geral, muitas vezes ligada à desinformação. Muitas destas correntes que circulam nas redes sociais são contra as vacinas e até questionam a eficácia dos medicamentos do SUS. Essas vacinas são muito confiáveis”, afirma Silvia.

Segundo a especialista, em épocas de surtos de sarampo e catapora, por exemplo, as pessoas tinham mais medo de adoecer; e hoje, como não convivem com as doenças, a população “relaxa”. “A tendência é que essas doenças voltem com potencial de gravidade maior”, completou.

Saiba mais

Público. Em 2017, o Ministério da Saúde ampliou a oferta de vacina contra o HPV e incluiu meninos de 11 a 14 anos. Até 2014, o foco eram as meninas de 9 a 14 anos. Segundo a pasta, a inclusão do grupo equivale a 3,3 milhões de garotos.

Câncer. Para 2018, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima a ocorrência de 890 casos novos de câncer do colo do útero com a taxa bruta de 8,4 por 100 mil mulheres mineiras. 

Número. Conforme o órgão, 80% das mulheres sexualmente ativas podem adquirir HPV ao longo da vida.