Às 6h, na última quarta-feira (7), o estudante de medicina Henrique Papini, 22, ainda não havia chegado em casa. Preocupada com o filho que tinha ido para uma festa na noite anterior, e que sempre costuma avisar quando vai dormir fora, a mãe Andréa Moraes ligou várias vezes, mas ele não atendeu. A angústia continuou até que o pai do amigo que estava com Papini retornou a ligação com a notícia de que os meninos estavam indo para o hospital porque se envolveram numa briga. O estudante de medicina foi brutalmente espancado por seis jovens ao sair do evento, em uma boate no bairro Olhos D’água, na região do Barreiro, em BH.
“Henrique chegou de uma forma na maca da ambulância, colocando sangue pela boca, pelo ouvido, muito machucado, inconsciente”, lembrou a mãe.
O motivo da agressão seria porque Papini “ficou”, dias antes, com uma ex-namorada de um dos agressores. Um amigo do universitário, o único que estava com ele na hora da agressão, também se machucou ao tentar separar a briga. Mas o alvo era mesmo Papini, que chegou a ter convulsão e, mesmo desacordado, ainda levou chutes na cabeça.
Investigação. Não houve prisão em flagrante e o caso está sendo investigado pela Polícia Civil. A delegada Sônia Maria de Miranda, titular da 4ª Delegacia de Polícia do Barreiro, informou, por meio da assessoria de imprensa, que apenas um suposto agressor foi identificado pelo nome de Rafael. Os outros envolvidos ainda estão sendo identificados e serão ouvidos nos próximos dias. Vítimas e algumas testemunhas prestaram depoimento aos investigadores. Até a noite desta sexta-feira (9), ninguém havia sido detido.
O universitário teve hemorragia cerebral, fratura nos ossos da face, traumatismo craniano e lesões no corpo. Depois de passar um dia no Centro de Tratamento Intensivo (CTI), em coma superficial, Papini continua internado no hospital Biocor. “Ele ainda está muito inchado, mas já se encontra lúcido. O impacto inicial foi desesperador, não sabíamos se ele ia sobreviver. Mas os médicos falaram que ele não vai ficar com sequelas e que isso chegou a ser um milagre”, desabafou a mãe, ressaltando que o filho ainda está assustado e não quer falar sobre o assunto.
O jovem que estava com o universitário depôs na delegacia. À reportagem, ele não quis dar muitas informações para não atrapalhar o andamento do caso na polícia. Ele disse apenas que nunca passou por uma situação dessas, e que ele e seu grupo de amizades jamais se envolveram em brigas. As vítimas sequer conheciam os agressores, mas Papini já teria falado com um amigo sobre o ex-namorado da garota com quem estava saindo. Ela e Papini são alunos da Faculdade de Medicina de Barbacena, no Campo das Vertentes.
A informação que circula em grupos de Whatsapp e redes sociais é que o suspeito já teria se envolvido em outras brigas e havia ameaçado Papini na semana anterior ao crime. Uma foto da mão do agressor – machucada de tanto bater – circulou em grupos online. Após o espancamento, o suspeito teria sido visto na porta do hospital e na delegacia, mas, segundo a delegada Sônia, o suposto agressor será ouvido oficialmente.
FOTO: Reprodução WhatsApp |
![]() |
Foto de mão de agressor, ferida de tanto bater, circulou na internet |
Posição
Festa. Um responsável pela boate Hangar 677, onde ocorria a festa, informou que a agressão aconteceu fora do estabelecimento e que testemunhas comprovam isso. Ele pediu anonimato e não quis comentar a falta de atuação dos seguranças da casa. A boate deve procurar a família.
Possíveis crimes e penas
Lesão corporal. O mestre em direito penal Gustavo Henrique de Souza e Silva, disse que, em tese, a agressão pode ser lesão corporal. A versão grave desse crime, que causa perigo de morte, tem pena de um a cinco anos de prisão. Já a gravíssima, que gera incapacidade permanente para o trabalho, perda ou inutilização de um membro, entre outros problemas, pode resultar em dois a oito anos de reclusão.
Tentativa de homicídio. Para configurar o crime de tentativa de homicídio, é preciso analisar o objetivo da agressão. Se for provado que a intenção era matar, a pena varia de seis a 12 anos, com redução de até três terços.
Repúdio
Amigos manifestam apoio em rede social
“Não à impunidade, Não à covardia. Não à prepotência. Queremos Justiça” e “#somostodospapini” eram algumas das mensagens amplamente espalhadas nas redes sociais nesta sexta-feira (9). Muitos estavam revoltados com o agressor e acreditavam que o caso não “vai dar em nada”, em referência a punições. Amigos da Faculdade de Medicina de Barbacena postaram fotos da turma pedindo a volta do estudante Henrique Papini, 22.
“Dói profundamente dentro do nosso peito receber notícias de agressões (...). Agrava ainda mais essa dor quando uma violência ocorre com uma pessoa nossa, do nosso meio e que amamos, como é o caso do nosso aluno Henrique Papini. (...) Que as pessoas envolvidas sejam devidamente punidas por esse ato de violência imperdoável”, publicou o diretor da faculdade, Marco Aurélio Bernardes de Carvalho.
A mãe de Papini, Andréa Moraes, disse estar muito agradecida e tocada com a quantidade de palavras de apoio. “Talvez todo esse movimento mude a cabeça das pessoas (se referindo à violência). Graças a Deus que eu sou a mãe dele, não queria estar na pele das outras mães (dos agressores)”, disse.
Análise. Numa avaliação geral sobre casos de agressões de ex-namorados a parceiros atuais, o psicólogo Adriano Nascimento, da Universidade Federal de Minas Gerais, acredita que ideias tradicionais de masculinidade e de honra fazem com que esses episódios se repitam com certa frequência. “Não significa que o agressor seja doente”, pontuou. (JS/Ana Paula Pedrosa)