Risco de desassistência

Fim da pediatria do Hospital São Lucas prejudica 2.400 crianças por mês, em BH

Com decisão, Belo Horizonte perde 29 leitos de internação, cinco de UTI e terá menos 500 cirurgias anuais; público precisará ser absorvido por outras redes de saúde

Por Malú Damázio
Publicado em 20 de julho de 2022 | 14:51
 
 
 
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O fechamento da unidade de pediatria do Hospital São Lucas implica em menos 34 leitos para o atendimento infantil em Belo Horizonte, sendo 29 de internação e outros cinco de terapia intensiva. Atualmente, a instituição administrada pelo Grupo Santa Casa recebe cerca de 2.400 crianças na urgência e faz aproximadamente 500 cirurgias ao ano. 

O hospital anunciou, nessa terça-feira (19), o encerramento das atividades devido a questões financeiras. A unidade, que recebe pacientes da rede particular, funcionará por mais 90 dias e, depois, fechará as portas. O remanejamento desse público infantil para outras unidades de saúde da capital preocupa o Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed-MG), como afirma o diretor da entidade, Artur Mendes. 

“Estamos muito receosos para o que vai acontecer com esse fechamento. Hoje, na rede pública, já não temos para onde escoar esse fluxo de pacientes, porque também enfrentamos dificuldades na rede de atendimento a urgências em BH, com a crise da falta de pediatras. No serviço privado, imagino que até tenha como remanejar, mas passaremos por alguns dias muito difíceis até que essa questão seja solucionada”, observa. 

O médico explica que a crise de falta de pediatras que atinge a capital está relacionada ao avanço das doenças respiratórias causado pelo frio e pela sazonalidade e à situação na rede pública. 

“As condições de trabalho, de remuneração e a falta de segurança na rede pública em Belo Horizonte são piores do que no entorno, na região metropolitana. Não é à toa que, nos últimos meses, quase 20 pediatras pediram demissão. Corremos o risco desses médicos do São Lucas deixarem o atendimento no município para procurarem recursos na Grande BH”, diz Artur Mendes.  

Funcionários serão realocados ou demitidos

O Grupo Santa Casa BH não informou quantos funcionários da saúde serão impactados pelo fechamento da pediatria, mas afirmou que parte será realocada em outras unidades da instituição, sobretudo no Hospital Santa Casa.

“Os demais profissionais que serão desligados terão suporte da instituição para recolocação no mercado”, disse a instituição, em nota. No entanto, ela também não detalha como será esse apoio a quem perderá o emprego. 

Possível sobrecarga de outras redes de saúde em Belo Horizonte

A Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMSA) foi questionada sobre a possibilidade de sobrecarga na rede municipal, caso haja aumento da demanda nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) da capital. A pasta informou que também vê o fechamento “com preocupação, já que o Hospital São Lucas sempre foi uma importante referência para o atendimento do público infantil”. 

O município reforçou, no entanto, que o São Lucas não oferece atendimentos de urgência em pediatria para o SUS-BH.

A pergunta sobre a preparação para possível aumento de pacientes também foi feita à Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), responsável pelo Hospital Infantil João Paulo II, em Belo Horizonte. Em nota, a instituição estadual afirmou que a unidade contratou emergencialmente 31 médicos e que nomeou outros dez profissionais, por turno de 12h, em junho. 

Dos dez funcionários nomeados para vagas remanescentes de um concurso de 2017 nenhum está trabalhando. A Fhemig informou que três já tomaram posse, mas ainda não começaram a atuar.

“De acordo com a Lei 869/52, o servidor nomeado tem prazo de 30 dias para tomar posse e outros 30 para entrar em exercício efetivo, sendo possível iniciar suas atividades em menor tempo”, justifica a fundação.

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