Flores para presentear são, tradicionalmente, uma das escolhas mais queridas no Dia das Mães, normalmente acompanhadas por outros mimos e lembrancinhas na data tão especial. No entanto, com inúmeras lojas fechadas em função da pandemia de coronavírus em Belo Horizonte, presentear com arranjos tornou-se a opção número um de muitos consumidores e, na manhã deste atípico Dia das Mães (domingo, 10), filas de pessoas formaram-se em algumas floriculturas da cidade.

É o caso da loja do senhor Jamil Mitre de 71 anos, que fica à avenida Silva Lobo, na região Oeste de Belo Horizonte. Após abrir as portas nas primeiras hora da manhã, ele só conseguiu parar para descansar quando encerrou o expediente, tamanha a movimentação de clientes, muito maior que nos anos anteriores. Esta é a primeira vez que ele conseguiu zerar completamente o estoque da floricultura em um Dia das Mães desde que entrou no ramo ainda no ano de 1978.

“Foi uma grande surpresa. Os clientes começaram a chegar em maior volume na sexta-feira, nós começamos a embalar, fazer embrulhos de presente, preparar os agrados e quando chegamos ao final do sábado é que percebemos o tanto que tínhamos vendido. Eu nunca tinha zerado meu estoque no Dia das Mães, esta é a primeira vez”, conta animado. 

Ainda no domingo passado (3), ele viajou até a cidade de Holambra, em São Paulo, para um leilão de flores. Quando retornou a Belo Horizonte, ainda temia que as plantas encalhassem sem que ele conseguisse vendê-lo. “Foi um alívio enorme, zerei todo o estoque de vasos, de orquídeas… Essas flores que as mães costumam ganhar, e os filhos costumam gostar de comprar”, comenta.

A autônoma Elisangela Rosa de 37 anos é uma das responsáveis pelo sucesso de vendas na loja de Jamil Mitre. Ela chegou à floricultura ainda nas primeiras horas da manhã para comprar um presente para a mãe e lembrancinhas para as tias. “Eu já tinha comprado o presente para a minha mãe mesmo, mas quis também presentear outras pessoas. Sempre que posso, compro flores”, conta. 

Ao contrário dela, que já estava preparada para o Dia das Mães, o senhor Jamil também recebeu clientes que acabaram deixando para comprar o presente de última hora e, com muitos estabelecimentos fechados, por muito pouco conseguiram lembranças para as mães na loja dele. “Eu recebi dois rapazes e uma senhora que chegaram aqui um pouco desesperados, falando ‘graças a Deus nós encontramos vocês abertos’, me pareceu que eles andaram correndo por aí e encontraram muitas lojas fechadas”, conta.

Carinho

Separado da mãe há sete anos, que faleceu justamente em um domingo de Dia das Mães, o analista de sistemas Osvaldo Ferraz, 38, também foi à loja do senhor Jamil na manhã deste domingo (10). Apesar da data entristecê-lo pela saudade da mãe, comprar flores para amigas e para a irmã como forma de presenteá-las na data é um costume dele.

“Eu sempre compro flores, é uma forma simples e rápida de agradar as pessoas que você gosta. Amanhã completam sete anos que minha mãe morreu, mas lembro da data para presentear as mulheres que gosto e são mães. Comprei hoje mesmo, e esse ano estava um pouco complicado encontrar lembranças com as lojas fechadas”, comenta ele que, ao todo, saiu da loja com oito embrulhos.

Quem também seguiu à risca a tradição de presentear com flores foi Bernardo Campos de Faria de 49 anos. Para evitar filas e não dar o azar de não encontrar o presente correto, ele foi até a floricultura ainda no sábado (9) e reservou o buquê de lírios que a mulher e mãe de seus filhos tanto gosta. “Eu já deixei pago ontem por precaução, aproveitei que minha esposa tinha ido arrumar algumas coisas no trabalho. Ela gosta muito de ganhar flores. É engraçado porque ela sempre sabe que eu vou comprar o buquê de lírios, mas ela sempre se surpreende”.

Explicação

Atuante no ramo há mais de quatro décadas, Jamil Mitre acredita que uma das razões para tamanha procura nas floriculturas seja justamente a pandemia. “Com a situação do coronavírus, algumas floras menores não conseguem recuperar o estoque, os distribuidores não estão entregando de porta em porta com a mesma frequências e esses floristas pequenos dependem do distribuir”, esclarece.

Outra explicação, como ele comentou, é o fato de que alguns clientes deixaram para escolher os presentes de última hora e acabaram encontrando menos opções que normalmente. “Como muitos nos encontraram com as portas abertas, isso nos ajudou e aliviou nosso caixa. Já tivemos Dia das Mães em que sobrou muita mercadoria, por sorte esse ano foi excelente”. 

Após ter adotado as recomendações sugeridas pelos órgãos de segurança sanitária em função da pandemia de coronavírus, o senhor Jamil contou com a colaboração dos próprios clientes que mantiveram o distanciamento mínimo tanto na entrada da loja quanto na porta enquanto aguardavam o atendimento. "O pessoal está muito consciente da necessidade de afastamento. As próprias pessoas formaram uma fila, mantendo distâncias de até dois metros. Ninguém se apavorou", conclui.