A Corregedoria-Geral da Polícia Civil investiga suposto furto de provas do Instituto de Criminalística (IC), em Belo Horizonte, relacionadas a um crime do interior de Minas Gerais. A apuração tramita em segredo de Justiça, mas a técnica assistente da Polícia Civil foi afastada das atividades e proibida judicialmente de entrar em qualquer unidade policial. A instituição instaurou inquérito para apurar o sumiço das evidências no órgão, que é responsável por realizar perícias, que são fundamentais nas investigações realizadas pela corporação.
A subtração de evidências pode impossibilitar a solução de crimes e, por consequência, impedir a apresentação de inquéritos ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Os processos judiciais só têm início após a representação dos promotores. Isso significa que, quando um delito não é apurado, o criminoso pode acabar "livre".
Fontes, que pediram sigilo, informaram que a servidora, que não terá o nome divulgado, retirava de dentro do IC armas e drogas possivelmente usadas em contravenções. Ela levava os objetos para a residência dela e também para a casa do suposto criminoso. Ainda segundo os informantes, a servidora teria um relacionamento com o criminoso ligado às evidências. “A polícia encontrou tudo na casa dela e do parceiro. O que mais choca é que a servidora nem foi presa”, disse a fonte.
Suspeita segue recebendo R$ 3,5 mil por mês
A servidora, conforme consta no Portal da Transparência, tem jornada semanal de 40 horas e atua como técnico assistente da Polícia Civil. No site consta que ela está em situação ativa. A remuneração bruta no último mês de março foi de R$ 3.788,53, com os descontos, o valor líquido recebido foi de R$ 3.516,56.
Conforme a fonte, em várias ocasiões, houve a subtração de provas que estariam sob a custódia da Polícia Civil. Esses materiais deveriam ser utilizados para embasar investigações. Das armas, por exemplo, a corporação poderia recolher impressões digitais. As drogas "furtadas" passariam por procedimentos para a comprovação da natureza do entorpecente.
“O que é mais grave é que essa servidora poderia ter sido presa em flagrante, mas optaram por não fazer nada, pois iria expor a desorganização do Instituto de Criminalística. Ela está em casa e recebendo os salários desde novembro de 2022”, informou.
Polícia Civil não detalha situação
A reportagem procurou a Polícia Civil e questionou a instituição sobre o motivo de a servidora não ter sido presa em flagrante. Foi pedido ainda o detalhamento da situação que levou a Polícia Civil a abrir um inquérito envolvendo a funcionária. Nada foi explicado pela corporação. O governo de Minas não explicou ainda se a mulher pode ser exonerada. Não houve pronunciamento também com relação à segurança da manutenção das provas no Instituto de Criminalística.
Em nota, a instituição se limitou a dizer que “a Corregedoria-Geral apura o caso por meio de inquérito policial, que tramita sob sigilo necessário para o êxito das investigações”. “Outras informações serão repassadas após conclusão do inquérito”, afirmou na nota.
Desvio grave que impõe celeridade
O especialista em segurança pública Luiz Flávio Sapori defende que aconteça a rápida investigação do caso para que o mesmo não se repita. “É um desvio de conduta específico. Óbvio que isso tem que ser prontamente investigado e, uma vez confirmado, precisa ser punido pela seriedade e gravidade da responsabilidade que envolve o cargo e o que está sendo violado”, afirmou.
A subtração de provas dificulta o trabalho investigativo e pode, até mesmo, acabar com um criminoso em liberdade. “As implicações sociais são muito graves. A Polícia Civil tem que manter constante vigilância sobre os desvios de conduta e fortalecer a Corregedoria e a repressão”.
“A melhor maneira para evitar que isso cresça e outros casos apareçam é mostrar firmeza na investigação e celeridade na punição. Esse é um passo muito importante para que a mensagem seja repassada e outros desvios não se repitam”, complementou o estudioso.