Com linhas, agulhas e retalhos de pano doados por fábricas de tecido, um grupo de mulheres do aglomerado da Serra, na região Centro-Sul da capital, descobriu o valor do trabalho manual delas e expõe seus produtos em feiras e lojas requintadas da capital. O Meninas do Cafezal, em referência à vila onde moram, foi criado há mais de 20 anos pela empresária e pesquisadora da história do bordado Maria do Carmo Guimarães Pereira, 74.
“O grupo começou para tentar responder às minhas perguntas: ‘Onde estão essas bordadeiras? Onde está essa mão de obra?’. De repente, vem a filha da lavadeira à minha casa, para aprender a bordar, e ela já traz outra, que traz outra, e, no fim, eram 80 bordando”, disse maria do Carmo. As “meninas” se tornam “senhoras”, que ensinam o ofício às novas gerações das suas famílias. Segundo a coordenadora do grupo, a artista plástica Cássia Duarte, a proposta inicial foi oferecer um recurso de subsistência e ensinar o bordado às jovens da Vila Cafezal.
Hoje, a cooperativa, que tem 15 mulheres, recebe doações de lojas de aviamento para fazer desenhos e figuras ornamentais. “Com esses tecidos, a gente cria produtos, que são colocados à venda no mercado, e a verba é 100% destinada a elas”, contou.
As mulheres bordam com vizinhas e amigas. “Além do recurso financeiro, outro objetivo é manter a tradição do bordado. Elas vão entendendo essa capacidade de produzir por conta própria e melhorar a qualidade de vida. Hoje, elas frequentam feiras e as lojas onde elas vendem os produtos. Então, ampliou a inserção dessas mulheres na vida da cidade. São convidadas para várias coisas. Recebem encomendas da França e da Alemanha”, afirmou Cássia.
Intenção é criar museu público
Em 30 anos, Maria do Carmo reuniu 10 mil itens, entre peças bordadas, riscos, livros, álbuns e maquinários, com a intenção de criar o Memorial do Bordado, um espaço público dedicado à memória e à preservação da história dessa arte. O Museu do Bordado existente no bairro Cidade Nova, na região Nordeste de BH, é particular e funciona no andar de cima de uma casa.
A cooperativa Meninas do Cafezal recebe todo tipo de encomenda. “As pessoas querem fronhas e outros produtos com frases especiais. São peças exclusivas. Nenhum produto é igual ao outro”, conta, Cássia Duarte.