Os três homens que foram soterrados nessa segunda-feira (18) durante uma obra no bairro Bela Vista, em Ibirité, na região metropolitana de Belo Horizonte, construíam um muro de arrimo para proteger a casa da família de chuvas e deslizamentos de terra. Um deles, Célio Rodrigues dos Santos, de 32 anos, morreu no acidente. O irmão dele, de 25, e o cunhado, de 48, foram resgatados com vida. A família diz que procurou a prefeitura várias vezes para pleitear uma obra na rua, sem sucesso.
Irmã de Célio, a atendente de telemarketing Célia Rodrigues dos Santos, de 33 anos, conta que a casa onde os irmãos viviam com a mãe já foi alagada e danificada diversas vezes pela chuva. Segundo ela, como a prefeitura não teria realizado as intervenções solicitadas, a mãe deles pediu um empréstimo para fazer a obra por conta própria.
“A obra era uma necessidade para a minha família, porque, por muitos anos, minha mãe correu atrás da prefeitura, a casa dela já ficou alagada várias vezes, a gente ficava com medo de dormir. Nós não temos condição de pagar engenheiro para fazer obra, então minha mãe fez um empréstimo para não ter que passar por tudo de novo, aquela chuva, aquele tanto de terra e lixo descendo”, disse Célia.
Segundo ela, o objetivo era construir um muro de arrimo para impedir a passagem de água e terra para o interior do imóvel. Mas, durante a obra, a terra desabou e atingiu os irmãos e o cunhado dela. O irmão mais novo de Célia foi resgatado primeiro por pessoas que estavam no local.
“Quando a terra caiu, meu irmão mais novo caiu em cima do Célio. Na hora que o resgataram, foi a conta de desabar mais terra no Célio, meus irmãos chegaram a pegar na mão dele”, afirmou.
Os bombeiros fizeram um trabalho de escoramento e, com escavação, conseguiram salvar o cunhado de Célia. Após algumas horas de resgate, os militares tiveram acesso ao tubulão onde Célio estava, mas ele já estava morto.
“Deus sabe de todas as coisas, mas meu irmão poderia estar vivo. Era para ser uma alegria, fazer o muro para minha mãe ficar feliz, que se transformou na tragédia de perder meu irmão”, lamenta Célia.
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Ibirité informou que, em abril de 2017, um protocolo para análise da rua Antônio Marinho Campos foi aberto na Secretaria de Obras, que realizou uma vistoria no local e "concluiu que o talude estava estável". Segundo o município, "por se tratar de terreno particular, qualquer atuação é de responsabilidade do proprietário".
Em visita ao endereço nesta segunda-feira, após o acidente, a prefeitura constatou que "grande parte do talude existente foi retirado manualmente para a execução de tubulões, no intuito de construir um muro de arrimo, fato que tirou a estabilidade do terreno". O município informou que relatos indicam que a obra não tinha engenheiro, encarregado responsável ou projeto estrutural.
A Defesa Civil de Ibirité esteve no imóvel nesta terça-feira (19) e verificou que há riscos de novos deslizamentos, que podem comprometer a rua. O local foi isolado e, segundo a prefeitura, a melhor solução está sendo estudada.