A Justiça vai decidir no início da tarde desta terça-feira (9) se mantém ou não a prisão do delegado Rafael Horácio, apontado como o autor de um disparo que matou o motorista de caminhão reboque Anderson Cândido de Melo, no último dia 26 de julho. O delegado passará por uma audiência de custódia no Fórum Lafayette.
Apesar do crime ser no dia 26, o delegado só se apresentou à Justiça quatro dias depois, fora do prazo de flagrante. Por isso a audiência de custódia não foi feita imediatamente após a prisão, já que ele não foi detido na cena do crime.
De acordo com a assessoria do Fórum Lafayette, a audiência será conduzida pelo juiz do Tribunal do Júri que é responsável pela morte do motorista. Logo, essa audiência não será de um processo de prisão que tramita de forma separada à acusação do homicídio.
Prisão
Na manhã do sábado, dia 30, o policial se entregou e foi encaminhado à Casa de Custódia da PCMG. Segundo o porta-voz da corporação, Saulo de Tarso Castro, o delegado foi indiciado pelo crime de homicídio duplamente qualificado – por motivo fútil e sem possibilidade de defesa da vítima.
Por ser considerado crime hediondo, a Polícia Civil terá 30 dias, prorrogáveis por mais 30, para concluir as investigações. Até lá, no entanto, o delegado não perde o cargo de delegado, e deve continuar a receber ⅓ do salário como funcionário público.
O porta-voz da Polícia Civil argumentou, em coletiva de imprensa, na tarde deste sábado, que o delegado não foi preso em flagrante no dia do crime apenas pelo fato de ter se apresentado espontaneamente. A corporação negou que a liberação inicial tenha ocorrido pelo fato de o policial ter alegado legítima defesa.
Relembre o caso
O desentendimento entre o reboqueiro Anderson Cândido de Melo e o delegado Rafael de Souza Horácio ocorreu no Viaduto Oeste, no Complexo da Lagoinha. Informações levantadas por O TEMPO com fontes no local dos disparos indicam que o delegado estava em uma viatura descaracterizada quando foi fechado pelo caminhão, o que deu início a uma discussão.
Após algum tempo, o policial teria fechado o reboque da vítima e efetuado o disparo, que atingiu o pescoço do homem. Ao perceber que tinha acertado o motorista, o próprio autor do disparo acionou a Polícia Civil e a perícia técnica compareceu ao local, fazendo os levantamentos iniciais na cena do crime.
Quando o veículo da vítima seria removido do local, familiares e amigos do homem baleado protestaram, momento em que um delegado explicou em voz alta que a primeira perícia já tinha sido feita e que uma nova perícia aconteceria em um segundo lugar, não especificado pelo policial.
Foi então que a filha dele pediu para entrar no caminhão apenas para pegar o telefone do homem, que estava em um compartimento em baixo do banco do passageiro, e uma blusa de frio. Nenhuma arma foi encontrada no caminhão, conforme constatado pela reportagem, que acompanhou a situação.
Quem é a vítima
Vizinhos de Anderson, ouvidos pela reportagem, contam que o reboqueiro era um trabalhador que se dedicava à família e à igreja. “Nunca teve nada errado com ele, ele era um homem evangélico que só vivia de luta”, contou uma amiga, que preferiu o anonimato.
Pai de quatro filhos (um menino e três meninas) e amoroso com todos eles, Melo era querido na vizinhança e também na comunidade da igreja. “Foi um choque (a morte) para todos, a pastora e o pastor estão na casa dele. Todos os filhos moravam com ele, a mulher dele está inconsolável”, revela a vizinha. Um amigo dele, que também pediu anonimato, desabafou que nunca havia visto tamanha “covardia”.
“Saracura (como era conhecido Anderson) era um ótimo mecânico, um excelente profissional no ramo de reboque e um amigo sem igual. Ninguém nunca viu Saracura numa mesa de jogo, ou numa mesa de bar. Era serviço e igreja”, detalhou.