A cervejaria Backer vazou, na tarde desta terça-feira (4), o laudo preliminar da perícia realizada pela Polícia Civil na água usada para a produção da cerveja da marca. O documento aponta que não foi identificada a presença de dietilenoglicol e monoetilenoglicol no tanque de brassagem (utilizado para a fabricação do mosto cervejeiro de toda a cadeia produtiva da empresa).

O laudo, no entanto, constatou a presença de dietilenoglicol e monoetilenoglicol nos tanques de refrigeração. Apesar do resultado, a Backer sempre negou o uso do dietileno na produção. 

A cervejaria afirmou, por meio de nota, que o laudo da polícia aponta para inexistência de irregulariadades, uma vez que não há problema na presença das substâncias no sistema de refrigeração.

Divergência

O resultado do laudo da polícia difere do apresentado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em que ficou constatada a presença das substâncias na água utilizada na preparação do mosto. Além disso, o Mapa já confirmou a presença dos contaminantes em 10 rótulos de 41 lotes da marca.   

Processo

Segundo o vice-presidente do Sindbebidas, Marco Antônio Falcone, o tanque de brassagem (onde não foi identificada contaminação pela PC) deve conter apenas água para a produção da cerveja. 

Já o tanque de refrigeração pode conter algum tipo de anti-congelante (monoetileno e dietileno). Segundo ele, a substância não entra em contato com a cerveja, a não ser que ocorra algum vazamento.

Ainda segundo Falcone, a maioria das cervejarias artesanais utilizam uma solução de água com etanol nos tanques de refrigeração, para diminuir o risco de contaminação.  

“A escolha por monoetilenoglicol é pela eficiência, uma vez que ele dura mais nas serpentinas, no entanto, o risco de contaminação aumenta. No caso do etanol, se houver vazamento, isso afetará apenas a qualidade do produto, mas não colocará em risco a saúde do consumidor”, explicou. 

A Polícia Civil informou que os advogados da Backer têm acesso aos laudos porque é constitucional, no entanto, o órgão informou que não comentará o resultado. 

“As amostras recolhidas tanto na cervejaria, quanto na empresa química que vendia o monoetilenoglicol, continuam sendo analisadas pelas equipes de peritos do Instituto de Criminalística (IC), de forma criteriosa. Ainda não há previsão para a conclusão da maioria dos laudos. Os que estão prontos já foram disponibilizados para os advogados da empresa, atendendo aos princípios constitucionais e modernos atinentes ao inquérito policial. A PCMG não vão comentar nenhum resultado isoladamente e falará sobre os exames em momento oportuno, para não atrapalhar os trabalhos”, diz nota.

À reportagem, o Mapa manteve o resultado obtido no laudo já divulgado. Segundo a pasta, o setor técnico encontrou traços dos contaminantes dietilenoglicol e monoetilenoglicol nas análises realizadas nas amostras de água do trocador de placas e do tanque de água fria.  O Mapa relembrou que as amostras foram colhidas no dia 10 de janeiro pelo Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal/Mapa.

O que diz a Backer

Em nota, a cervejaria afirmou  que o monoetilenoglicol é utilizado somente na parte externa dos tanques de fermentação e maturação da cerveja, etapas que são posteriores ao resfriamento do mosto. 

A empresa  explicou que utiliza um pré-trocador de água menor, na temperatura natural, e depois o trocador normal, com resfriamento.

Com esse sistema, a cervejaria diz que consegue resfriar o mosto sem precisar usar o líquido refrigerante ou um trocador de dois estágios. A Backer afirmou que em momento algum utiliza  monoetilenoglicol ou qualquer outro líquido refrigerante que não seja a água pura, para fazer a troca térmica desse sistema.

Contaminação 

Segundo o último boletim divulado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), já são 30 pacientes com suspeita de intoxicação por dietilenoglicol. Ao todo, seis pessoas morreram, sendo apenas uma com a contaminação confirmada. As outras cinco mortes seguem sob investigação. 

A Backer se reúne a longo dessa semana com as famílias das vítimas para atender às demandas de cada um. As reuniões são individuais.

O Ministério Público estipulou um prazo de 72h após cada reunião para que a cervejaria possa apresentar uma resposta para às exigências dos familiares.