A mãe das crianças encontradas com desnutrição num apartamento no bairro Lagoinha, na região Noroeste de Belo Horizonte, negou que tenha maltratado os filhos. O TEMPO entrevistou a advogada Andrezza Araújo, que faz a defesa da mulher, de 30 anos. A defensora relatou que a cliente, com quem teve contato nesta quinta-feira (23), contou que era praticamente escravizada e  sofria violência sexual no período em que viveu numa fazenda em São Joaquim de Bicas, na região metropolitana de Belo Horizonte. 

A mulher relatou à Andrezza que chegou à capital mineira após passar um período em Mário Campos, na região metropolitana, com o companheiro e os filhos. “Chegou na rodoviária com cinco crianças no braço e uma na barriga. Uma mulher a abordou e disse ter uma fazenda em Bicas. Alegou que ela poderia trabalhar por lá e que teria local para cuidar dos filhos”, disse.

O que sabemos sobre o caso

A proposta foi aceita, segundo a mulher relatou para a advogada, já que a viagem para BH ocorreu porque o companheiro não estaria conseguindo emprego na cidade na região metropolitana. Antes, a família teria morado em Brasília, conforme contou a advogada. “Assim que ela chegou na fazenda, ela disse que não podia sair de lá e teve os documentos recolhidos pela pessoa que a levou com a família”.

Trabalhava por comida

No período em que a mulher ficou na fazenda, o trabalho era a “troco de comida”. “Chegou um dia em que a patroa a chamou para vir a Belo Horizonte com os dois filhos, que foram encontrados no apartamento, alegando que ia tirar a segunda via dos documentos. Chegando aqui, uma mulher, que dizia ser filha da patroa, falou que iria levar as crianças em outro carro”, comentou.

Depois deste momento, a mulher relatou que não teve mais contato com os filhos e, ao retornar para a fazenda, não encontrou o companheiro. “Ela voltou sem as crianças e perguntou onde estava o homem. Acabou sendo informada que ele tinha fugido com outra mulher e depois apresentaram outra versão de que ele teria morrido por complicações de Covid-19”.

Agressões e abuso sexual

A mulher, que está presa desde o começo do mês suspeita de matar um dos filhos, de 4 anos, apresenta marcas de agressão pelo corpo, conforme conta a advogada. “Ela não se lembra do que aconteceu, mas as marcas estão nas pernas. Várias feridas grandes semelhantes a agressões com correntes”, disse a responsável pela defesa.

Outro ponto levantado pela advogada é de que a mulher teria sido vítima de violência sexual no período em que ficou na fazenda. “Alegou que toda vez que comia ela era trancada num quarto e os filhos em outro. Disse que chegou a dormir num local e acordar em outro com um homem por cima dela”.

A conversa entre a advogada e a mulher aconteceu no Presídio Feminino de Vespasiano. “Vai fazer aproximadamente um ano que ela não vê os dois filhos que foram encontrados, que são os mais velhos. Quando contei que as crianças foram localizada, ela demonstrou alívio e disse que achava que elas haviam morrido. Ainda falou que precisa conversar com o irmão que veio de Goiás”, contou Andrezza.

O irmão da mulher, que veio para acompanhar os desdobramentos do caso contou à reportagem que visitou a fazenda onde os familiares viveram. "Estive lá no sábado passado com a polícia. Lá é um local muito estranho, desorganizado. É bem complicada essa situação. No momento, não estou podendo ter contato com minha irmã por questões burocráticas", afirmou o homem que terá a identidade preservada.

Suspeita da defesa

Segundo a advogada, a suspeita é de que as crianças foram deixadas no apartamento pela mulher que convenceu a mulher a ir para a fazenda com a família e era chamada de “avó”. “Os meninos foram deixados no apartamento para morrer”, afirmou. Um dos próximos passos da defesa é pedir a soltura da mulher. “O processo está muito vago. Vamos em busca da verdade, pois estamos diante de um caso com roteiro de filme”, ponderou.